Vinhos Kosher, produzidos por judeus, carregam tradições familiares

Tem mais particu­laridades: uma vez a uva verti­da em vinho, nenhuma máqui­na pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu

Postado em: 29-07-2021 às 10h08
Por: Augusto Sobrinho
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Tem mais particu­laridades: uma vez a uva verti­da em vinho, nenhuma máqui­na pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu | Foto: Reprodução

Em um domingo recebo um telefonema de um amigo judeu ortodoxo de São Paulo, mas está temporariamente morando em Goiânia a negócios. Roberto queria muito que eu fosse almo­çar com sua família. Estava preguiçosa e me esquivei do convite. Dois minutos depois, ele me liga novamente e diz que era deselegante recusar o convite de uma família judaica.
Convite aceito, assim que cheguei, fui rece­bida pelo seu pai, alegre, festi­vo e eu mal conseguia entender o que o sr Ezequias dizia, tinha uma longa barba, falava sem parar, estava tocando uma música linda que eu desconhe­cia. Ele e sua esposa foram dan­çando comigo até a mesa da varanda onde estavam toda a família cantando e pareciam festivos. Me senti to­talmente em casa, e iluminada de amor.
A vida familiar da família ju­daica, tão importante no juda­ísmo, gira em torno do Shabat, das festas e refeições familia­res. Isto inclui aprender, cantar e conversar. A comida casher e a separação de carne e do leite são traços importantes da ma­neira judaica de viver.
Segundo Roberto, os princí­pios do comportamento de uma família judaica incluem: honrar os pais, ajudar aqueles que têm menos possibilidades, respei­tar os mais velhos, dar hospi­talidade aos estrangeiros, visi­tar os doentes e não fazer fofoca ou mentir sobre outras pesso­as. A educação judaica começa em casa. As crianças aprendem pelo exemplo a praticar os rituais judaicos desde a infância.
O sr Ezequias sabendo que sou apaixonada por vinho, chegou com uma gar­rafa de vinho Kosher à mesa e começou a falar sobre a bebida. Ele serviu vinhos Hagaon,  Kosher argentino, produzi­do sob os preceitos ju­daicos na Província de Mendoza, em Agrelo, na Argentina, nas ver­sões Malbec, Merlot e Cabernet Sauvignon.
A produção dos vi­nhos Hagaon é feita sob a estrita supervisão do rabino D.Y. Levy, com a certificação Kosher Gran Rabinato de Agudath Is­rael – Rabi Yosef Liber­sohn, “Organized Kashrus La­boratories”. Está de acordo com os rigorosos critérios de produ­ção estabelecidos, tornando-se assim adequado para o consu­mo por judeus ortodoxos. Pode ser identificado pelo símbolo “K” dentro de um círculo impresso em sua embalagem.

VINHO KOSHER – O vinho Kosher, é produzido exclusivamente por judeus. Tem mais particu­laridades: uma vez a uva verti­da em vinho, nenhuma máqui­na pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu. Inusitado, não é mesmo? O sistema Kosher é definido pelo Torá, a bíblia ju­daica, e estabelece toda a ínti­ma ligação entre a alimentação e a religião judaica, que é muito instigante de conhecer. Para os judeus, comer e beber alimen­tos não-casher diminui sua sen­sibilidade espiritual e reduz sua capacidade de absorver os con­ceitos do Torá e Mitzvot (man­damentos). O pro­cesso de fabricação dos vi­nhos Kosher acontecem de forma semelhante aos demais vinhos. Entretanto, os crité­rios são realmente bem rígi­dos. Algumas das condições a serem obedecidas são que o vinhedo deve ter a idade mí­nima de quatro anos; a vindi­ma tem que ser manual, sele­tiva e escrupulosa, aceitando somente uvas saudáveis, in­teiras e em estado ótimo de maturação; somente o rabino pode realizar a manipulação e o prensado, a vinificação so­mente pode ser realizada em tanques de aço inoxidável. As garrafas têm que ser novas e de fabricação supervisiona­da, que o rabino marcará com o carimbo Kosher que certifi­ca sua elaboração.
A questão fundamental é que a partir do momento que as uvas são entregues para a vinificação, a manipulação de todos os ingredientes e ferra­mentas só pode ser feita por judeus. Apenas eles podem to­car, experimentar e acima de tudo, comandar os processos. Mesmo depois de pronto para o engarrafamento não é per­mitido o contato de um não­-judeu com o vinho. Após o término do engarrafamento, o vinho é selado e autenticado como um vinho Kosher e qual­quer um poderá tocá-lo, porém somente será aberto e servi­do por um judeu. Mesmo com toda essa rigidez, acredita­-se que o vinho Kosher alegra a alma das pessoas e por isso ele é consumido nas principais celebrações judaicas. O siste­ma Kosher é uma parte des­sa determinação, onde Kosher significa aquilo que é bom, ou de confiança. Devido a isso, é através do sistema Kosher, es­tabelecido pelo Torah, que os alimentos são permitidos para consumo são determina­dos, estabelecendo um altíssi­mo padrão de qualidade.
Percebi que por mais dis­tantes que estejam de seus lugares de origem, ambos também teimam em não abandonar velhos costumes, tradições e comidas típicas. Tudo isso para se manterem perto de onde nunca deve­riam ter saído ou para onde pretendem constantemente retornar: suas res­pectivas terras no Estado de Israel, a Ter­ra Prometida dos judeus.

 O QUE VESTIR? – Resolvi usar uma saia lápis, uma camisa de manga lon­ga e um turbante preto. Quando cheguei, no almoço, fui muito elogiada pelas mulheres judias que disseram estar bem vestida adequadamente e ele­gante. Resolvi cobrir a clavícula, cotovelos e jo­elhos, porém fiquei sabendo que é uma regra opcional. Perguntei para as mulheres sobre as cores. Elas me disseram que depende do gru­po judaico ao qual pertença. Alguns permitem cores vivas, outras cores neutras e outros dão preferência a cores escuras. Estampas? Mesma regra das cores. E apesar de toda informalidade a etiqueta num almoço judaico, é essencial.
A forma pela qual os povos preparam os alimentos e bebidas, conta um pouco da sua história. A maneira de cozinhar dos judeus narra a sua trajetória e se mantém unido por suas tradições. O meu domingo começou alegre, ficou delicioso, fiz novos amigos e me apeguei àquela fa­mília. É no prazer da amizade, que faze­mos da vida uma canção sim­ples de ser tocada e aprendida facilmente pelos acordes dos dias! A dança dos rabinos me conduziu pela sala, foram momentos inesquecíveis que juntos pintamos na tela da vida e o tempo emoldura na minha mente, a certeza da sincerida­de daque­la família judaica. (Especial para O Hoje)

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Por: Edna Gomes

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