Frequentemente, ministros de Bolsonaro dão caronas injustificadas em voos oficiais

Aeronaves da FAB transportam inúmeros passageiros sem ligação com as agendas dos ministros; lista inclui desde familiares até pastor e lobista

Postado em: 31-10-2021 às 17h38
Por: Giovana Andrade
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Aeronaves da FAB transportam inúmeros passageiros sem ligação com as agendas dos ministros; lista inclui desde familiares até pastor e lobista. | Foto: Reprodução

Ministros do governo Jair Bolsonaro levam desde parentes até pastor e lobistas em voos oficiais com aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB). As informações foram divulgadas neste domingo (31/10) pelo jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso aos dados sobre as viagens feitas desde janeiro de 2019 por meio da Lei de Acesso à Informação por ministérios e outros órgãos que têm direito a solicitar esse tipo de deslocamento.

Os ministérios da Defesa e da Cidadania e os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não quiseram informar quem acompanhou os chefes das respectivas pastas em viagens. Também omitem esses dados a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Poucos dias antes de assumir a Presidência, Bolsonaro distribuiu uma cartilha com normas e procedimentos éticos. O documento afirmava que somente o ministro e a equipe que o acompanha no compromisso podem utilizar as aeronaves. No início de 2020, o presidente também mudou o decreto sobre uso das aeronaves oficiais para, em tese, endurecer as regras.

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O texto, no entanto, deixa margem às caronas, pois afirma que os “critérios de preenchimento das vagas remanescentes na aeronave” são definidos pelas autoridades que pedem os voos.

Em maio de 2021, o pastor Arilton Moura, da Igreja Cristo para Todos, participou de viagem do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de Brasília a Alcântara (MA). O Ministério não explicou se o líder religioso acompanhou a agenda de fato ou só aproveitou o deslocamento.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por sua vez, levou a esposa e seus três filhos, além de parentes de outras autoridades, em pelo menos 20 viagens oficiais. Segundo os dados dos ministérios, um dos filhos de Queiroga, o estudante Antônio Cristóvão Araújo, pegou carona em voos do ministro do Turismo, Gilson Machado, de Brasília a Porto Velho (RO), em julho, sem a companhia do pai. Saúde e Turismo não quiseram explicar a viagem.

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve com a filha, Paula Drumond Guedes, em viagem do Rio a Brasília em 3 de junho de 2021. A Economia afirma que o ministro havia participado de evento organizado por ela. Jair Renan, o filho “04” de Bolsonaro, pegou ao menos cinco caronas em deslocamentos solicitados por diferentes ministros. Na viagem mais recente, em julho de 2021, levou um amigo de Brasília a São Paulo.

Também foram registradas caronas, sem justificativas explícitas, dadas pelos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), João Roma (Cidadania), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Tereza Cristina (Agricultura), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Gilson Neto (Turismo), além de Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.

Apesar de ter prometido endurecer as regras sobre voos da FAB no começo da gestão, Bolsonaro é tolerante. Ele chegou a demitir o advogado Vicente Santini do governo pelo uso de jato da FAB, mas o trouxe de volta meses mais tarde para cargos no governo.

MEC, Agricultura, MCTI, Casa Civil, a pasta de Damares, Câmara e Senado não responderam à tentativa de contato da Folha de S.Paulo. O Turismo não explicou o porquê de ao menos sete nomes de passageiros de viagens da pasta não terem identificação mais detalhada.

A Defesa disse que há previsão de dar carona a pessoas de fora da comitiva. A Saúde usou brecha de decreto para justificar as viagens. Os dados dos demais ministérios não mostravam passageiros sem ligação com as agendas dos ministros.

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