Vítimas de exploração sexual recebem prêmio

Iraquianas Nadia Murad Basee Taha e Lamiya Aji Bashar sobreviveram à escravidão sexual pelo Estado Islâmico (EI)

Postado em: 28-10-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Iraquianas Nadia Murad Basee Taha e Lamiya Aji Bashar sobreviveram à escravidão sexual pelo Estado Islâmico (EI)

O Parlamento Europeu anunciou ontem as vencedoras do prêmio Sakharov de Direitos Humanos. As iraquianas Nadia Murad Basee Taha e Lamiya Aji Bashar sobreviveram à escravidão sexual pelo Estado Islâmico (EI) e se tornaram porta-vozes das mulheres vítimas de violência sexual.
O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é atribuído todos os anos pelo Parlamento Europeu a pessoas que tenham contribuído para a luta em prol dos direitos humanos em todo o mundo.

Histórias de vida
Nadia e Lamiya são defensoras públicas da comunidade yazidi no Iraque, uma minoria religiosa que tem sido objeto de genocídio por militantes do EI. Em 3 de agosto de 2014, o EI assassinou todos os homens da aldeia de Kocho, cidade natal de Lamiya Aji Bashar e Nadia Murad, em Sinjar, no Iraque. Após o massacre, as mulheres e as crianças foram escravizadas. Todas as jovens foram raptadas, compradas e vendidas várias vezes e exploradas sexualmente.
Durante o massacre de Kocho, Nadia Murad perdeu seis dos seus irmãos e a mãe, que foi morta juntamente com oitenta mulheres mais idosas consideradas como não tendo qualquer valor sexual. Lamiya Aji Bashar também foi explorada como escrava sexual, juntamente com as suas seis irmãs. Foi vendida cinco vezes entre os militantes e forçada a fabricar bombas e coletes suicidas em Mossul depois de os militantes do EI executarem seus irmãos e seu pai.
Em novembro de 2014, Nadia Murad conseguiu fugir com a ajuda de uma família vizinha, que a retirou clandestinamente da zona controlada pelo EI, permitindo que seguisse para um campo de refugiados no Norte do Iraque e depois para a Alemanha.
Um ano mais tarde, em dezembro de 2015, Nadia dirigiu-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas na sua primeira sessão sobre tráfico de seres humanos com um discurso de grande impacto sobre a sua experiência. Em setembro de 2016, tornou-se a primeira embaixadora da Boa Vontade do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico de Seres Humanos, participando em iniciativas de sensibilização globais e locais sobre a situação das vítimas do tráfico de seres humanos. Em outubro de 2016, o Conselho da Europa homenageou-a com o Prêmio dos Direitos Humanos Václav Havel.
Lamiya Aji Bashar tentou fugir várias vezes até escapar finalmente, com a ajuda da sua família, que contratou passadores locais. Ao fugir da fronteira curda para território controlado pelo governo do Iraque, uma mina terrestre explodiu, matando duas pessoas das suas relações e deixando-a ferida e quase cega. Felizmente, conseguiu escapar e acabou por ser enviada para tratamento médico na Alemanha, onde se juntou aos seus irmãos sobreviventes. Desde a sua recuperação, Lamiya Aji Bashar tem trabalhado ativamente no combate à escravidão sexual.

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