O silêncio do Papa Pio XII diante do Holocausto

A carta revelada por um funcionário do Vaticano ao jornal italiano Corriere della Sera levanta questões sobre a postura da Igreja Católica durante o Holocausto na Segunda Guerra Mundial.

Postado em: 19-09-2023 às 14h07
Por: Luana Avelar
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Foto: Hypeness

Uma carta datada de 14 de dezembro de 1942, escrita por um jesuíta alemão, Lothar Koenig, revela detalhes sobre o campo de extermínio nazista em Belzec, na Polônia. Segundo Koenig, aproximadamente 6 mil pessoas, principalmente poloneses e judeus, eram mortas diariamente nas fornalhas do campo. Esta correspondência, recentemente divulgada pelo jornal Corriere della Sera, é uma das evidências mais contundentes de que o Papa Pio XII estava ciente da tragédia.

Giovanni Coco, arquivista do Vaticano responsável pela descoberta, ressalta a importância desta carta. Além de vir de uma fonte confiável dentro da Igreja Católica alemã, a informação contida na correspondência lança novos questionamentos sobre o papel do Papa naquele período.

Persistem questões sobre por que Pio XII escolheu o silêncio público. Enquanto seus apoiadores defendem que ele agiu nos bastidores para amparar os judeus e proteger os católicos na Europa sob domínio nazista, seus críticos argumentam que ele falhou em divulgar as informações que possuía. A revelação dessa carta e de outros documentos do período, uma iniciativa determinada pelo Papa Francisco em 2019, destaca o compromisso do Vaticano em confrontar sua própria história.

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Desde a abertura dos arquivos de Pio XII em 2019, estudiosos têm se dedicado a entender a resposta do Vaticano ao nazismo e ao Holocausto. A carta de Koenig, endereçada ao secretário pessoal de Pio XII, Robert Leiber, oferece uma visão desse período sombrio da história. Michele Sarfatti, do Centro de Documentação Judaica Contemporânea de Milão, destaca a importância de encontrar a carta entre os documentos pessoais do Papa, indicando que ele provavelmente a leu.

A conferência sobre Pio XII e o Holocausto, marcada para o próximo mês na Pontifícia Universidade Gregoriana, promete aprofundar ainda mais essa discussão histórica. O evento conta com o apoio de organizações católicas e judaicas, do Departamento de Estado dos EUA e de grupos de pesquisa sobre o Holocausto em Israel e nos Estados Unidos

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