A alcunha de repórter de outro veículo

Yago Sales é repórter do jornal O HOJE

Postado em: 07-10-2022 às 09h45
Por: Yago Sales
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Yago Sales é repórter do jornal O HOJE | Foto: reprodução

Quem vos fala “é o repórter de outro veículo”, como passei a ser chamado depois do violento e lamentável ataque que o repórter José Bonfim sofreu enquanto acompanhava, sentado na galeria reservada à imprensa, em uma sessão na quarta-feira. O caso tomou uma dimensão quando o vídeo foi às redes sociais e causou reações da CBN, veículo onde José trabalha e de entidades de defesa às liberdades. 

Confundido comigo, José foi vítima do ódio que Kleybe Morais e outros vereadores nutrem por mim desde que comecei, em 2016, a cobrir a Câmara para o Jornal Opção.

Fui para o Dia Online, onde fui pautado por um editor a vasculhar documentos que chegaram na portaria. Entendi a influência de Kleybe em concursos e processos seletivos. O MP já investigava o caso e o repassou à PF após a publicação da reportagem.

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Depois soube que recebia dinheiro público, mas não trabalhava em uma ONG. Na época, fiz matérias que resultaram em várias denúncias, a ponto de o prefeito Iris Rezende me chamar, educado, democrático e pedir que o procurasse cada vez que publicasse uma reportagem. O contato foi feito apenas via assessoria.

À época, um vereador me deu um recado amigável: “Se eu fosse você não mexia com essa gente aqui. Cedo ou tarde a corda arrebenta para o lado mais fraco”. Não ouvi.

Mesmo em São Paulo, onde vivi mais de dois anos para escapar de ligações estranhas, recebi denúncias que fui guardando. E vinham de ex-assessores, colegas que riem e abraçam, mas depois contam as bravas. E tentei ser o mais cuidadoso possível.

As práticas estranhas permaneciam quando fui contratado pelo jornal O HOJE, onde escrevi cerca de dez reportagens investigativas sobre a Câmara e a Prefeitura de Goiânia. 

‌Me tornei colunista político da Xadrez, espaço que me expôs no maior nível. Contava bastidores de reuniões que às vezes outros repórteres traziam. E fatos que incomodam, mas nunca pensei que se tornariam motivo para o inferno que passei a enfrentar.

‌Na tentativa de contextualização, pautava o chargista do jornal diariamente. Nunca para fazer chacota ou desrespeitar o Poder Legislativo, como acusa o vereador, mas para trazer leveza a assuntos importantes para Goiânia. 

‌E, cabe lembrar o momento em que Kleybe me acusa, avançando contra o colega José, mentiroso pelas coisas que publiquei. Eu procurei o parlamentar para ouvir o outro lado todas as vezes. Inclusive, quando descobrimos a venda de diplomas, fomos pessoalmente à Câmara, mas ele se escondeu. 

Em uma nota, onde tenta aliviar o que fez com o repórter da CBN, ele afirma que trata-se de outro jornalista, com quem tem uma “rixa” antiga. É bom registrar que sou repórter, não desafeto para ter inimizade com político. Não fiz campanha difamatória contra o parlamentar. Não fui processado nenhuma vez por ele, que, por conta de reportagens que fiz, foi denunciado pelo Ministério Público. 

Kleybe, como homem público, eleito pelo povo, merece respeito dentro da legalidade, caminho que percorri quando apurei histórias que fontes – pessoas que sabem tudo sobre ele – me passaram nos últimos anos. Nunca fui atrás, de maneira persecutória, de qualquer uma das histórias que publiquei. Sempre foi pelos rastros que ele deixava em lugares públicos ou onde o parlamentar buscava se beneficiar eleitoralmente. 

O “repórter do outro veículo” sou eu, alvo de acusações vis e da exclusão nominal de notas de instituições que, prefiro acreditar, se atentaram ao caráter legal da citação, já que Kleybe preferiu manter a “identidade” do “jornalista bicha” anônima.

Acostumado a publicar nas páginas de jornais textos em terceira pessoa, queria deixar um recado em primeira pessoa, de maneira clara e direta: corro risco. E o aviso, impresso, dentro da instituição de uma empresa jornalística, legitimiza, outra vez, a minha preocupação de meu filho crescer sem o pai e, como o filho do cronista Valério Luiz, o advogado Valério Luiz Filho, perambular por tribunais e carros de som em busca de respostas. 

Yago Sales é repórter do jornal O HOJE

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