Criado para facilitar a vida online, ferramenta de “aceitar cookies” tem gerado polêmica; entenda o motivo

A tecnologia se tornou um para-raios, ajudando as empresas a coletar dados sobre os hábitos dos consumidores, com anúncios na web que geram bilhões de dólares por ano

Postado em: 28-01-2022 às 10h00
Por: Alexandre Paes
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A tecnologia se tornou um para-raios, ajudando as empresas a coletar dados sobre os hábitos dos consumidores, com anúncios na web que geram bilhões de dólares por ano | Foto: Reprodução/Internet

Os famosos cookies, que estão no centro da atual discussão sobre a proteção da privacidade e dos dados na internet, nunca foram pensados para funcionar como uma ferramenta de espionagem digital, é o que afirmar seu inventor. O engenheiro e empresário californiano Lou Montulli disse que os cookies originais que ele criou décadas atrás tinham como objetivo facilitar a vida online, permitindo que os sites lembrassem dos visitantes, mas não é bem isso que acontece.

A tecnologia se tornou um para-raios, atacada por ajudar as empresas a coletar dados sobre os hábitos dos consumidores, uma espécie de chave para o negócio de anúncios na web, que tem gerado bilhões de dólares por ano. “Minha invenção está no coração tecnológico de muitos esquemas de publicidade, mas eu não tinha essa intenção”, afirmou Montulli, que criou os cookies em 1994. “É apenas uma tecnologia central para permitir que a web funcione”, acrescentou.

O Google se juntou esta semana a uma crescente lista de empresas de tecnologia ao anunciar um novo plano para bloquear certos tipos de cookies, depois que as propostas anteriores da maior plataforma de pesquisa do mundo foram criticadas.

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Falando sobre sua invenção, Montulli disse que os fragmentos de software que permitem que um site reconheça as pessoas ajudaram a possibilitar recursos como o login automático e a lembrança do conteúdo de carrinhos de compras no comércio eletrônico. Sem os chamados cookies “primários”, que também são usados pelos sites para interagir com os visitantes, cada visita de um usuário seria considerada como a primeira.

Segundo Montulli, os problemas decorrem dos chamados cookies de “terceiros”, aqueles gerados pelos sites e armazenados nos navegadores dos visitantes, e das redes de anúncios que agregam dados desses fragmentos. “Anúncios personalizados só são possíveis graças ao combinação entre vários sites e uma rede de anúncios”, afirmou.

engenheiro e empresário californiano Lou Montulli – criador dos cookies

Como funcionam os cookies?

Quando você acessa um site pela primeira vez, ele envia para o seu computador ou celular um cookie com as suas preferências ou dados de login (acesso a determinada plataforma ou sistema). Já quando você voltar ao site, o arquivo é lido e suas informações são carregadas automaticamente, liberando acesso rapidamente.

Parte dos sites compartilham os dados das atividades de seus visitantes com essas redes publicitarias, que por sua vez, os utilizam para segmentar anúncios com base no comportamento de cada usuário. “É natural dentro do raciocínio humano pensar que, se sabem que estou buscando sapatos de camurça azul, isso deve significar que sabem tudo sobre mim e, portanto, querer sair desse sistema”, disse Montulli.

Este mês, as autoridades francesas multaram o Google e o Facebook em cerca de US$ 237 milhões [mais de 1 bilhão de reais] pelo uso de cookies. Após esse fato o criador dos cookies comentou que “essa ferramenta foi originalmente projetada para fornecer privacidade”. Para ele, uma solução possível seria parar de segmentar anúncios e começar a cobrar assinaturas por serviços online, que são custeados pela receita dessa publicidade.

A desativação de cookies de terceiros também pode punir involuntariamente pequenos sites, ao privá-los de anúncios direcionados que geram dinheiro, dando ainda mais poder aos gigantes da tecnologia como Apple, Meta (controladora do Facebook) e Google.

Regulamentações que mantenham os cookies em uso, exigindo controles como permitir que os usuários optem ou não por compartilhar dados, podem ser a única solução viável a longo prazo, afirmou Montulli. “Realmente não seria possível usar a web sem cookies”, observou. “Mas vamos ter que encontrar mais nuances em como eles são utilizados na publicidade.”

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