Bueiro entupido causa alagamento

Falta de conscientização da população é fator de risco para alagamentos. Especialistas afirmam que cidade sofre com efeitos de crescimento desordenado

Postado em: 10-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Falta de conscientização da população é fator de risco para alagamentos. Especialistas afirmam que cidade sofre com efeitos de crescimento desordenado

Marcus Vinícius Beck*

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As bocas de lobo entupidas são responsáveis por cerca de 50% dos alagamentos em Goiânia. Ontem, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) informou que realizou limpeza em vários bueiros espalhados em diversos bairros da Capital. Ao todo, foram recolhidas neste ano uma tonelada de lixos em 1,5 mil bueiros que estavam atrapalhando o escoamento da água da chuva. Especialistas ouvidos pelo O Hoje afirmam que impermeabilização, crescimento urbano desordenado e bueiros impróprios são os principais fatores que contribuem para que casos de alagamento sejam cada vez mais frequentes. 

Por outro lado, os pontos que sofrem com alagamento muitas vezes não possuem estrutura adequada para que a água da chuva possa escorrer sem provocar estragos. Doutor em engenharia civil e coordenador do curso de logística do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (Ipog), a vegetação dessas bacias hidrográficas tem a função de reverter as poças da chuva. “A cidade sofre por conta dos impactos de um crescimento demográfico desordenado, que culminou nesses casos de alagamentos”, diz. “São uma soma de fatores que podem gerar alagamento”, afirma o estudioso. Goiânia conta com 57 pontos de alagamento.

Mas os casos de enchentes podem ser evitados pela população com o simples gesto de parar de jogar lixo nas ruas e calçadas. De acordo com o coordenador da Comissão de Política Urbana e Ambiental do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), Luciano Caixeta, a sociedade precisa se conscientizar de que resíduos, mesmo sendo em pequenas quantidades, podem gerar grandes prejuízos à cidade, sobretudo nos períodos chuvosos. “É preciso que se tenha uma série de medidas educacionais, distribuição de folhetos e propagandas que mostrem como essas ações poluidoras impacta na cidade”, diz.

Em todas as regiões de Goiânia é possível ver estragos provocados pela imprudência da população. Na região norte, próximo ao Parque Agropecuário, moradores reclamavam que o local estava intransitável na última sexta-feira (6), embora houvesse quem se arriscasse a andar nas ruas. “Ainda bem que no momento da chuva eu estava tranquila em casa, porque se estivesse na rua a situação certamente teria sido bem pior”, diz a professora Andréia Cristina Tavares, 44. Ela disse que, nas bocas de lobo da esquina de sua casa, há entulhos. “Aí quando chove, vira um filme de terror”, finaliza.   

Alagamentos

Na última sexta-feira (6), a Marginal Botafogo teve nova interdição por conta de estragos provocados pela chuva do dia anterior. Um trecho, próximo a Nova Vila, na região norte de Goiânia, pareceu que era um rio. Imagens que circularam nas redes sociais durante todo o dia evidenciavam problemas de ordem estrutural que acometem a Capital goianiense. Na ocasião, o secretário de infraestrutura, Dolzanan Matos, disse que a via já tinha 17 pontos críticos. Ainda conforme ele, o temporal não causou aumento nesses pontos. Ele disse que o Governo Federal já liberou verba de R$ 7 milhões para dar andamento aos reparos da via.

Outros pontos da cidade também sofreram por conta da forte chuva. Entre a Avenida Jamel Cecílio e o viaduto da Avenida 88, no sentido Pedro Ludovico, o caso instalou-se em quem estava transitando pela via. Na Avenida 85, na altura do Setor Sul, um carro virou para cima por causa da chuva. O motorista do veículo teve de ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros, e saiu pelo vidro. Em outra enxurrada, mulheres ficaram presas no meio da chuvarada. Uma pessoa, no Setor Marista, tentou sair do carro, mas acabou sendo impedida pela chuva. A água batia na metade da altura dos carros na rua.

Por meio de nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO) afirmou que “é preciso com urgência dirigir atenção para os setores Marista e Oeste, que vêm sofrendo intensa impermeabilização, o que sobrecarrega as vias da região e a bacia do córrego Buriti – notadamente nas avenidas 87, Cora Coralina e Assis Chateaubriand, entre outras”. O órgão declarou ainda que “é urgente que o Poder Público defina políticas que visem reduzir a sobrecarga do escoamento pluvial sobre as vias públicas, como também sobre os córregos Botafogo e Capim Puba”.

Ação

No ano passado, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) recolheu mais de 3 mil toneladas de lixo das bocas de lobo. A pasta afirmou que esse procedimento de limpeza é feita durante o ano todo. De acordo com a Seinfra, a medida serve como uma forma de prevenção aos problemas gerados por conta de bueiros entupidos. O serviço é realizado manualmente e por meio de um caminhão hidrojato que dispara, quando necessário, jato de água em alta pressão para desobstruir galerias de águas fluviais entupidas com resíduos sólidos. 

Buscando evitar casos de alagamento, a Seinfra disse que a colaboração de moradores é fundamental, pois o entupimento das bocas de captação está ligado ao mau hábito adotado pela população, que insiste em jogar lixo nas ruas e calçadas. De acordo com a pasta, os efeitos desse hábito aparecem especialmente no período chuvoso, já que o lixo que vai parar nas bocas de lobo impede o escoamento da chuva. Além disso, a água acumulada invade ruas, calçadas e até residências. Garrafas pet, embalagens plásticas, pneus velhos, latinhas e sacolinhas de lixo são os utensílios mais encontrados nas bocas de lobo.  

Boca de lobo inteligente pode ser a saída para evitar entupimento  

Em meio ao período chuvoso, novas idéias surgem como medidas para evitar alagamentos e enchentes em Goiânia. As bocas de lobo inteligentes impedem bueiros de ficarem obstruídos e diminuem os riscos de inundação e acúmulo de lixo nas galerias fluviais. Em vigor em outras cidades do País, o equipamento é de fácil manuseio e pode ser operado pelos responsáveis pela limpeza de ruas e calçadas. 

Surgida em São Paulo, em 2016, a tecnologia da boca de lobo inteligente evitou que mais de 100 pontos da capital paulista se tornassem intransitáveis ao chover. O criador da ideia, que estava de ‘saco cheio’ de ficar de mãos atadas quando caia alguns pingos de chuva, melhorou a condição de 400 mil bueiros em São Paulo. O sistema foi desenvolvido pela empresa Cisco, que acabou selecionando a PromonLogicalis em concurso, em 2015. 

No ano passado, os vereadores da Câmara Municipal de São Paulo aprovaram em primeira discussão o projeto das bocas de lobo inteligentes. Segundo o texto do Projeto de Lei (PL), a intenção da medida era “prevenir e minimizar os problemas causados pelas chuvas”. Até o início da gestão de João Dória, o projeto seguia em tramitação na Câmara de Vereadores da cidade. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Cryshtian) 

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