Cresce mercado de arte e aumenta desejo de novos artistas goianos

O empreendedorismo da economia criativa deve ser apoiado como em todas as outras áreas, avalia o Sebrae

Postado em: 22-09-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O empreendedorismo da economia criativa deve ser apoiado como em todas as outras áreas, avalia o Sebrae

Rafael Melo

Novos artistas que desejam iniciar suas carreiras e conquistar certa estabilidade no mercado enfrentam desafios desde o processo criativo ao resultado da visibilidade do seu trabalho. Os que estão começando agora se deparam com a concorrência de artistas renomados que já ocupam lugar de destaque no mercado. Mas como a concorrência existe em qualquer área de atuação, isso não tem impedido o surgimento de novos talentos motivados pela persistência do trabalho na conquista do próprio espaço.

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Segundo o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Goiás (Sebrae), Décio Coutinho, o setor da economia criativa é um dos que mais cresce no mundo atualmente. “O setor de artes em Goiás é um setor que tem sido renovado, enquanto outros setores estão em redução de atividades também em virtude do momento atual que Goiás e o todo o país vive. Ainda assim, é possível notar um crescimento das artes e da cultura digital, que trabalham com novas mídias e tecnologias. O artesanato também vem se destacando, bem como a dança e as artes plásticas”, explica.

De forma geral, o mercado das artes já se depara com grandes desvantagens competitivas frente aos outros setores de produção da economia. De acordo com o Ministério da Cultura, a economia criativa é entendida como a economia do intangível, do simbólico, e o principal combustível dessa produção são os talentos criativos dos artistas organizados individuais ou coletivamente na produção dos bens ou serviços. Por ser um mercado com uma dinâmica própria, há um rompimento com a lógica dos padrões do mercado tradicional, o que também gera a necessidade do surgimento de novos modelos de negócio.

A Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura informa que a produção de dados estatísticos acerca da economia criativa brasileira é escassa e não representa a real dimensão e importância dos setores criativos nacionais. Estima-se que, em 2010, as empresas atuando no núcleo dos setores criativos somavam 1,86% do total de empreendimentos do país. Dado o alto grau de informalidade da economia criativa brasileira, boa parte da produção e circulação de bens e serviços criativos nacionais não é incorporada aos relatórios estatísticos.

Em contrapartida, o empreendedorismo da economia criativa deve ser apoiado como em todas as outras áreas. É o que afirma o Sebrae a partir das parcerias oferecidas voltadas para a capacitação e gestão. “Tomando como referência a força da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, podemos perceber que houve um crescimento no ramo das artes visuais em Goiás. Aumentaram o número de ilustradores, grafiteiros e novos artistas que trabalham com pintura e escultura. Na década de 80 e 90 tínhamos várias galerias que fecharam, hoje percebemos uma retomada desses espaços, inclusive com perfil de lojas colaborativas. Um novo mercado diferente do que era antes”, pontua o analista do Sebrae.

O pesquisador Armando Aguiar Guedes Coelho, doutor em cultura visual pela Universidade Federal de Goiás (UFG), relata em sua tese que os anos 80 foi a década mais representativa para o cenário das artes plásticas em Goiás, período em que mais se vendeu obras de artes no Estado. “O mercado de arte é sem dúvida um assunto extenso, que pode ser abrangido por várias frentes, principalmente a frente econômica. Mas dado minha formação em história da arte procurei seguir os caminhos documentais a fim de que pudesse reconstruir uma história mais próxima dos acontecimentos”. O especialista ressalta que o momento veio seguido de uma decadência resultante de conflitos entre a perspectiva financeira e ética, com exceção de artistas que já tinham suas obras absorvidas e mantiveram a qualidade do trabalho, como Siron Franco, Cleber Gouvêa, D.J. Oliveira, Iza Costa, Carlos Sena entre outros. “A atual realidade das artes plásticas mundial está presa nessa dicotomia, e parece que as alternativas apresentadas não são muito bem vindas. A realidade da internet poderia ser um caminho a ser seguido, pois reproduz as alianças afetivas e comerciais do mundo da vida, porém esse caminho ainda muito novo requer pesquisas e experimentações”, discorre Coelho.

Galerias de Arte

Com a adaptação dos meios de produção das novas mídias é possível notar um crescimento significativo de vendas virtuais, em especial nos últimos dois anos. Hoje temos o e-commerce, galerias online e marketplaces que surgiram para facilitar a exposição do trabalho de novos artistas, já o público pode ficar mais à vontade para encontrar o que quer e comparar preços. Uma pesquisa feita em 2017 pela seguradora inglesa Hiscox, especialista em seguros para obras de arte, apontou que as vendas online desse mercado no mundo todo atingiram um valor de US$ 3,75 bilhões em 2016, o que representa um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Isso significa uma participação de 8,4% das transações online no mercado de arte em geral, ante 7,4% em 2015.

Apesar disso, as galerias tradicionais têm se mantido presentes no relacionamento com os artistas. Em Goiânia, a Época Galeria de Arte é uma das mais tradicionais com quase 40 anos no mercado. O local conta com um acervo de grandes mestres goianos como Poteiro, Siron, DJ Oliveira, Frei Confaloni, Iza Costa, Cléa Costa, Cleber Gouveia, entre outros. Segundo a gerente da galeria, Cristiane Melo, mesmo com artistas parceiros por todo o Brasil, no momento a galeria vem buscando investir na relação com novos talentos locais, dentre eles Evandro Soares, Pitágoras, Marcelo Solá e Eloisa Lobo.

“A galeria procura sempre ter um acervo eclético, do clássico ao contemporâneo, para atender a todos os perfis. Apesar do goiano ser conservador, existe um público crescente de clientes interessados no atual mundo das artes. Por isso, a galeria tem parceiros de diversas regiões e estilos. O processo de curadoria acontece durante as viagens e visitas a outras galerias. Mas, atualmente, as redes sociais e a internet possibilitaram esse contato bem mais abrangente”, conta Cristiane, responsável pela gestão das exposições. 

Entrevista: Eloisa Lobo – artista goiana formada em Artes Plásticas pela UFG 

A arte da tela a caminho da exposição para o grande público  

Eloisa Lobo é uma das artistas que integram o rol das vitrines virtuais com aceitação nas redes sociais, a pintora goiana é formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Goiás (UFG) há mais de 20 anos, mas, ainda assim, tem seu espaço garantido na Época Galeria de Arte à disposição do público colaborador. Com traço característico, os quadros de tamanho imponente e repletos de identidade própria ocupam as paredes que convidam a conhecer mais da obra da artista. Atualmente, Eloisa segue desenvolvendo uma nova série de quadros para exposição e nos concedeu uma breve entrevista para falar sobre trajetória, repertório e influências.

Como iniciou seu contato com as artes plásticas seguido da oportunidade de ter a arte como profissão?

Desde criança sempre tive interesse pelo desenho, aos 12 anos já criava meus desenhos e pinturas. Depois que finalizei a graduação em Artes Visuais tive uma longa experiência com agência de publicidade, as duas áreas de atuação são similares. Cheguei a trabalhar 20 anos com direção de arte, mas nunca parei de pintar em casa e no ateliê, onde sou mais livre e mantenho outro processo criativo em mente.

Quem são suas principais influências como fonte de inspiração?

Posso citar três grandes artistas que sempre me influenciaram nas criações. Primeiro, uma pintora maravilhosa que se chama Ana Maria Pacheco. Depois vem a carioca Adriana Varejão, trago como inspiração sua capacidade de pesquisa e seus tradicionais tons azuis. O terceiro é o goiano Marcelo Solá, admiro muito a visão de resolução que ele tem das telas, a simplicidade. Apesar disso, sempre mantemos a admiração pela base dos clássicos mundiais, gostar de Da Vinci, Picasso e Dali é quase uma obrigação, tenho me inspirado no estudado das pinceladas de Van Gogh em algumas obras da exposição que estou produzindo. Confesso que tomo como referência até mesmo a desenvoltura de Romero Britto que já foi alvo de críticas arrojadas na produção do seu trabalho.

O que pretende trazer para o público com esse novo projeto? Qual mensagem deseja transmitir com esse próximo trabalho?

Será uma exposição. Estou preparando uma nova série de telas que acredito estarem vindo um pouco mais colorida e despreocupada do que as anteriores. Fiquei um tempo em São Paulo realizando uma pesquisa sobre resina e cores para criar minha própria paleta, abandonei um pouco o histórico de azuis trazendo formas mais livres. As parcerias e o público em geral terão a oportunidade de prestigiar o novo conjunto de quadros “Damas 21”, que chegam com uma tonalidade menos rígida sem perder todo o aspecto lúdico das minhas inspirações no ambiente e elementos circenses. A mensagem que pretendo passar é de leveza e suavidade. Ao verem algum quadro meu, seja na galeria ou na parede de casa, quero que as pessoas sejam contagiadas por um sentimento agradável. A exposição está programada para novembro, quem quiser ver mais do meu trabalho e ter uma ideia das novidades que virão podem acessar meu instagram: @eloisaloboart  

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