Lojas de departamento e de veículos explicam 70% da melhora nas vendas

Coluna do jornalista Lauro Veiga Filho.

Postado em: 14-11-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Coluna do jornalista Lauro Veiga Filho.

Os
dados trimestrais mostram uma melhoria nas vendas do varejo em seu conceito
mais tradicional e ainda no chamado “varejo ampliado”, ao mesmo tempo em que
confirmam a trajetória de reação lenta e gradual do setor, acompanhando o ritmo
do consumo das famílias, ainda restringido pelo desemprego elevado e pelo
desaquecimento na velocidade de alta da massa total de rendimentos disponíveis (quer
dizer, a soma de todos os ganhos das famílias, incluindo transferências de
renda do governo via pensões, aposentadorias, Bolsa Família e benefícios
sociais, descontados o Imposto de Renda recolhido na fonte e as contribuições
pagas à Previdência Social).

De
acordo com a pesquisa mensal do comércio divulgada ontem pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do comércio
varejista convencional saiu de uma variação de 1,0% no segundo trimestre para
um avanço de 2,6% no trimestre seguinte, sempre em comparação com igual período
de 2018. No caso do varejo ampliado, que inclui lojas de veículos, motos,
autopeças e materiais para a construção, as taxas trimestrais, para aqueles
mesmos intervalos, evoluíram ligeiramente, saindo de 4,1% para 4,4%, com salto
de 10,0% nas vendas de veículos em geral, peças e suas partes e variação de
3,9% para o segmento de materiais de construção. Em ambos os casos, houve certa
desaceleração no ritmo de alta, já que as vendas, no segundo trimestre, haviam
crescido 13,6% no primeiro setor e 4,1% no segundo.

“O
quadro poderia ser melhor se não houvesse acentuada oscilação no desempenho das
vendas de bens duráveis, decorrente de uma melhora insuficiente no crédito, e
se bens não duráveis, como alimentos e bebidas, não tivessem uma evolução tão
restringida pelo desemprego elevado e o baixo dinamismo da renda real das
famílias”, analisa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
(Iedi), ressalvando o fato de as taxas mensais, embora nem tão vigorosas como
se gostaria, têm se mantido em terreno positivo, o que “é um comportamento
desejável”.

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Visão mais
otimista

A
equipe de macroeconomia do Itaú BBA classificou como “robusto” o crescimento de
0,9% nas vendas do varejo ampliado na passagem de agosto para setembro,
levemente acima da variação de 0,7% projetada pelo banco e inferior ao esperado
pelo mercado, que na média apostava numa elevação de 1,2%. No varejo restrito, a
variação atingiu 0,7% no quinto avanço mensal consecutivo, o que, de acordo com
o IBGE, resultou em um incremento de 2,4% no acumulado do período. Na
comparação com setembro do ano passado, as vendas subiram 2,1% e 4,4%
respectivamente nas lojas varejistas convencionais e no varejo ampliado (o IBGE
adota esse conceito porque as lojas de veículos e de materiais de construção em
geral atuam igualmente no varejo e no atacado). O instituto destaca, no
entanto, que esse crescimento pode ter sido influenciado pelos dois dias úteis
a mais registrados em setembro deste ano, frente ao mesmo mês de 2018. A
esperar os números de outubro para saber se a reação se mantém ou se o setor
tenderá a repetir o comportamento errático dos últimos meses, quando veio
alternando momentos um tanto melhores e outros nem tão bons assim (quando não
negativos).

Balanço

·  
Na
comparação com setembro do ano passado, mais da metade do incremento das vendas
no varejo ampliado (54,5%) veio do segmento de veículos, motos e peças. O setor
de “outros artigos de uso pessoal e doméstico” (que inclui as lojas de departamentos)
trouxe a segunda maior contribuição (15,91%) – o que significa dizer que esses
dois setores responderam por quase 70,5% do crescimento de 4,4% registrado no
período.

·  
Na
visão do Iedi, as lojas com melhor desempenho (incluindo veículos, artigos de uso
pessoal e doméstico e móveis e eletrodoméstico), agora considerando a variação
no terceiro trimestre, incluem-se entre os segmentos mais favorecidos “pela
ampliação do crédito e redução das taxas de juros dos empréstimos, fatores
positivos que estão atualmente em funcionamento”.

·  
O
destaque, prossegue o instituto, “cabe ainda para os segmentos que mais
perderam ao longo da crise de 2015-2016 e, por isso, ainda têm grande campo de
recuperação. São os casos de material de construção,
veículos e autopeças e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem
as lojas de departamento”.

·  
Os
três setores vinham apresentando melhores resultados em 2018, entraram em
desaceleração nos primeiros trimestres deste ano e, agora, voltam a apresentar
“alguma robustez”, mas com alguma perda de ritmo para as concessionárias de
automóveis e lojas de autopeças (conforme já assinalado mais acima).

·  
Naclassificação
estabelecida pelo Iedi, “muitos bens de consumo duráveis de menor valor
unitário” e produtos semi e não duráveis (a exemplo de alimentos e bebidas)
formam o grupo com “comportamento errático”, trimestre a trimestre.

·  
Não
por coincidência, anota ainda o instituto, são produtos em geral “comprados a
crédito pela parcela da população com menor poder aquisitivo”. Estão incluídos
aqui móveis e eletrodomésticos, tecidos, confecção e calçados, “que conseguiram
crescer no terceiro trimestre de 2019 (4,7% e 0,5% pela ordem), mas que tinham
declinado em trimestres anteriores” (também pela ordem, quedas de 0,3% e de
1,9% no segundo trimestre).

·  
As
vendas de materiais e equipamentos para escritório, informática e comunicação
continuam fortemente negativas, com baixa de 2,0% no terceiro trimestre, depois
de queda de 3,8% no trimestre anterior.

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