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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
100 dias de governo

Bolsonaro ainda tateia pelo Planalto

Perto de completar 100 dias de governo, Bolsonaro sente o peso de sentar na cadeira mais importante da política brasileira e trabalha para cumprir promessas de campanha

Postado em 8 de abril de 2019 por Jefferson Pereira dos Santos
Bolsonaro ainda tateia pelo Planalto
Perto de completar 100 dias de governo

Raphael Bezerra*

No próximo dia 10, completam-se 100 dias da
ascensão de Jair Bolsonaro (PSL) ao cargo mais alto do país, o de presidente da
República. De lá, Bolsonaro se queixa do “abacaxi” que tem nas mãos e se sente
cansado da rotina presidencial. No primeiro movimento como presidente,
Bolsonaro não articulou com nenhum partido para a indicação de nomes para os
ministérios. Ele adotou o discurso de nova política e condenou as negociatas em
troca de cargos públicos. Mas nas últimas semanas cedeu e chamou presidentes de
partidos para negociar a aprovação da reforma da Previdência, sua maior
prioridade. 

Ao montar sua equipe de trabalho, alguns
nomes, como o do Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, se
destacaram no conhecimento técnico da estrutura governamental. Outros, nem
tanto. Com uma iminente demissão, o ministro da Educação é o mais criticado e o
que mais causou polêmicas ao longo desses 100 primeiros dias. As duas
principais pautas do Governo Federal até o momento são a Reforma da Previdência
e o Pacote Anticrimes do Ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Sem qualquer experiência em cargos
executivos, o próprio Bolsonaro reconhece as “caneladas” nos primeiros dias de gestão.
O governo vem acumulando crises desde a primeira semana e que se estenderam por
até 40 dias.

Apesar de ainda não ter divulgado relatório
das primeiras ações, o presidente Jair Bolsonaro diz que o governo concluiu 95%
das 35 metas estipuladas em janeiro deste ano para os 100 primeiros dias. Na
educação, o governo se propôs a lançar o programa “Alfabetização Acima de Tudo”,
para definir soluções didáticas e pedagógicas para o aprendizado da leitura e
escrita. Na segurança pública, o Ministério da Justiça entregou o decreto de
facilitação à posse de armas, mas apenas apresentou o pacote anticrime. Outras
ações estabelecidas já dispõem de previsão legal, mas que o governo ainda
estipulou como meta a ser alcançada.

Na área social, o aceno do presidente para o Bolsa Família é visto como
uma guinada no discurso, mas que ampara bem as classes mais necessitadas do
País. Bolsonaro anunciou o pagamento de um salário bônus para os beneficiários do
Bolsa Família. De acordo com ele, a partir do final deste ano, os beneficiários
do programa, iniciado na gestão petista, passarão a receber o 13º. “Os recursos
vêm do combate à fraude. Porque existe muita fraude e é um trabalho cansativo
(fiscalizar), mas está dando resultado”, afirmou. 

Bate cabeça de grupos internos

Dentro da
estrutura de governo de Bolsonaro, pelo menos quatro grupos ideológicos
disputam espaço por poder e visibilidade. Os técnicos-econômicos, liderados
pelo ministro da Economia, Paulo Guedes e o ministro da Justiça Sérgio Moro. A
ala militar que mantém uma corrente mais pragmática tem como um dos principais
articuladores o vice-presidente, General Hamilton Mourão. O conservadorismo
cultural é norteado pelo escritor Olavo de Carvalho. Foi dele a indicação do
Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do ministro da Educação,
Ricardo Vélez, que está na corda bamba. Um grupo que perdeu boa parte do seu
protagonismo no governo logo nos primeiros meses são os que fazem parte do PSL.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, é investigado pela Polícia
Federal pelo uso de candidaturas laranjas na campanha de 2018. Gustavo Bebianno
foi o primeiro a cair na esteira de demissões após crise com os filhos do
presidente.

Apesar das
disputadas internas, o presidente afirma não haver bate cabeça entre as duas
alas.”Não existe [disputa de] olavetes contra militares”, afirmou o
presidente aos jornalistas, referindo-se à disputa entre as alas
“ideológica” e “pragmática” do governo.

A realidade,
no entanto, é outra. O grupo liderado pelo autoproclamado filósofo, Olavo de
Carvalho, trava intensas batalhas contra a ala dos militares. As ofensas,
espalhadas pelo grupo ideológico do governo, são voltadas principalmente para o
vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

Ao visitar
os Estados Unidos, em março, Bolsonaro se encontrou com a cabeça pensante do
governo. Olavo disparou contra o vice ao dizer que “um cidadão que não tem os
direitos humanos elementares está na maior impotência. E essa é a situação do
nosso presidente. Ele não tem o direito de se defender na Justiça quando
atribuem crimes a ele. É horrível o que estão fazendo com ele. É ditadura. É opressão.
É um homem sozinho. Não pode confiar naqueles que o cercam e nem na mídia”,
disse Olavo, para completar: “Essa concepção, que é a do Mourão, é uma
concepção golpista. Onde isso vai dar, não sei, não estou em Brasília. Mas é
grave, é claro que é grave. Estou com c… na mão pelo Brasil, não por mim”.

CORRELATA

Bolsonaro lidou com duas crises por semana

A primeira
crise no governo chegou tão rápida que mal tempo de se aconchegar na cadeira
presidencial. Três dias após tomar posse, a ministra Damares Alves, titular da
pasta das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos. Em vídeo Damares
comemora, junto a aliados, a vitória do capitão cantarolando que A nova era
começou: agora, menino veste azul e menina veste rosa”. As imagens viralizaram
nas redes sociais. Depois, Damares afirmou que se tratava de uma metáfora.

Os
“olavistas” chegaram à equipe sobretudo depois da vitória de
Bolsonaro e tiveram atritos com os que já participavam das discussões sobre
educação desde a campanha. O principal ponto para esse grupo “ideológico” é
expulsar do MEC qualquer resquício do que chamam de “marxismo cultural” ou
“pensamentos esquerdistas”.Isso inclui a defesa de projetos como o Escola Sem
Partido, a revisão de questões do Enem ou o ensino que aborde questões de
gênero nas escolas.

O Governo ainda
mudou edital para aquisição de livros didáticos que seriam entregues em 2020, e
permitiu materiais escolares sem referência bibliográfica. Após uma avalanche
de críticas nas redes sociais, o governo recuou da medida.

O racha já
provocou uma série de decisões revogadas e demissões dentro da pasta. Mais de
10 pessoas já foram demitidas e postos importantes dentro da pasta e do Inep
estão vagos.

O ministro
da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, pediu que diretores das escolas lessem
carta que terminava com slogan da campanha de Bolsonaro, além de solicitar que
gravassem vídeos de alunos cantando o Hino Nacional, entre outras polêmicas que
devem levar ao afastamento dele nesta segunda-feira (08).

 

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