Deputados de Goiás veem dificuldades na implantação do voto impresso para 2022
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata do voto impresso nas eleições de 2022 será analisada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados na próxima semana. A PEC do voto impresso foi apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e é defendida por parlamentares bolsonaristas que fazem coro a falas do presidente contra a […]
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata do voto impresso nas eleições de 2022 será analisada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados na próxima semana. A PEC do voto impresso foi apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e é defendida por parlamentares bolsonaristas que fazem coro a falas do presidente contra a lisura do sistema eleitoral brasileiro. Deputados federais do estado de Goiás estão preocupados com a politização do tema e veem dificuldades para implantação do voto impresso para o pleito do ano que vem.
Magda Mofatto (PL) destacou que já foi a favor da matéria, mas que hoje é contra. Ela destaca o que a fez mudar de ideia. “Estou pensando seriamente em não votar pelo voto impresso. É preciso compreender que um país que tem exagero de gastos inúteis, exagero de gastos em burocracia, é um país altamente burocrático e o voto auditável venha a ser uma burocracia. Se existe o voto eletrônico que pode ser fraudado, o voto auditável vai depender de pessoas para conferir o voto e será que vão ser confiáveis para conferir os votos impressos? Já estive do lado de querer que o voto fosse impresso, acredita que fosse importante e hoje estou começando a pensar diferente”, relatou a parlamentar.
A líder da bancada goiana, Flávia Morais (PDT) é a favor do voto impresso, no entanto, ela entende que o tema foi politizado e avalia que o assunto precisa de uma discussão mais madura. “Eu não chamo de voto impresso, é um voto eletrônico auditável. Qualquer tipo de lei que venha dar mais transparência e segurança para o processo, eu sou favorável. Eu sou contra a politização. Sou favorável a auditagem, não sou contra. Acredito que não seja aprovado para 2022, e não defendo a pressa, e sem politizar”, destacou Flávia Morais.
Outro que também é favorável ao voto impresso é o deputado Adriano do Baldy (Progressista). Para ele, um sistema eleitoral mais seguro pode ser benéfico para a população. “Nós estamos avaliando todas as propostas que são colocadas para que a gente possa tomar as decisões corretas para que a gente possa ser o mais democrático possível, dando transparência ao trâmite da legislação e da coisa pública. Eu entendo que o Brasil tem avançado muito, nós temos ficado às vezes numa guerra de farpas que não leva a lugar algum. Eu estou avaliando o projeto que foi colocado, não vejo nenhum problema em votar e ver seu voto impresso, dá mais legitimidade às suas decisões, é mais democrático”, afirmou.
Já o deputado federal Rubens Otoni (PT) é totalmente contra o chamado voto impresso. “Isso é o maior retrocesso que poderíamos ter na política brasileira, é uma vergonha discutir o assunto. Agora voltar no tempo e no espaço, é uma tentativa de melar o processo eleitoral. Se fosse para dar segurança, não tinha problemas do custo, mas a grande questão é a insegurança. Espero que isso não passe, é um reflexo do atraso que estamos vivendo nos últimos anos. Outro parlamentar que também é contra é o deputado Glaustin da Fokus (PSC), mesmo sendo um nome da base bolsonarista.” O meu partido anda com o presidente da República, mas não sou a favor, acho que as nossas eleições estão bem organizadas, isso não faz sentido, estar discutindo um assunto de forma antecipada, já disse ao presidente da República, inclusive”, afirmou Glaustin.
Se de um lado, o presidente Jair Bolsonaro ameaça não reconhecer o resultado das urnas e, de outro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e lideranças políticas e sociais defendem a manutenção do formato atual por jamais ter sido detectado um único indício de fraude eleitoral em 25 anos de utilização de urnas eletrônicas, a saída pode ser uma solução híbrida que contemple os dois lados. Um grupo de deputados defende uma implantação escalonada do voto impresso, começando por 5% das urnas em 2022 e chegando a 100% delas em 2030, ao custo total de R$ 2,5 bilhões. Francisco Júnior (PSD) avalia que essa é uma questão importante a ser avaliada.
“A discussão maior é a seguinte: fala em voto impresso, mas não é bem só sobre o voto impresso, é o que nós vamos fazer com esses votos. Se nós vamos fazer nova eleição, se vamos apurar 100% dos votos impressos é uma coisa. Se será impresso parte dos votos para fazer uma aferição, uma validação da eleição, é outro caminho. O que precisa ser discutido é isso: Nós estamos colocando em xeque a votação eletrônica ou nós queremos apenas confirma-la. São caminhos completamente diferentes e essa é a discussão maior que existe na Câmara hoje. Decidindo se queremos uma outra eleição, outra apuração impressa, eu acredito que teremos dificuldades. Entendendo que seja uma aferição de um percentual dos votos impressos, no sentido de dar mais credibilidade as eleições, é um caminho mais sensato que eu acredito que tenha chance de prosperar”, disse Francisco Júnior.
No último dia 26, líderes de 11 partidos — inclusive alguns da base do governo, como PL, Progressistas, PSL e Republicanos — fecharam acordo para não votar a implantação do voto impresso. Entre os deputados, mesmo quem é a favor do novo formato sabe das dificuldades e acredita ser impossível adotá-lo em 100% das urnas para as eleições gerais de 2022. Desde a eleição passada, antes de ser alçado ao cargo, Bolsonaro ataca as urnas eletrônicas.O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, alertou para os riscos de fraude e judicialização das eleições de 2022 caso o voto impresso seja retomado. Ele apontou que se o candidato à presidência desconfiar do resultado do pleito “vai criar dificuldade administrativa”. “Tudo isso oferece risco para o sigilo, risco grande de fraude e risco de judicialização, porque a contagem manual vai dar diferença em relação a contagem eletrônica. Até em caixa de banco ou caixa de empresa, no final do dia, você tem que fazer uma reconciliação”, disse Barroso. (Especial Para O Hoje)