Sírios e libaneses têm presença forte na política goiana
Recém-lançado, livro sobre políticos brasileiros de origem árabe já nasce como uma referência no assunto, mas não aborda casos de Goiás
Em ano de eleições, é comum o eleitor se deparar com candidatos, de diferentes ideologias, com sobrenome árabe, especialmente sírio e libanês. Temer, Haddad, Kassab, Maluf e Sebba são apenas alguns exemplos.
Recém-lançado, o livro “Brimos: imigração sírio-libanesa no Brasil e seu caminho até a política” (Editora Fósforo, 272 páginas), do jornalista e pesquisador Diogo Bercito, já nasce como uma referência no assunto.
Com uma escrita tão prazerosa quanto hommus no pão sírio, a obra é dividida em duas partes. A primeira faz um contexto histórico da imigração sírio-libanesa para o Brasil, com resgate até mesmo de uma viagem de Dom Pedro II ao Oriente Médio, enquanto a segunda trata mais especificamente da participação dos árabes na política brasileira.
Como o Brasil é enorme e há muitos árabes que se aventuraram na política país afora, naturalmente não se espera que todos os casos sejam abordados. Goiás, por exemplo, ficou de fora, mas a seleção de nomes e sobrenomes é de primeira linha.
Vale dizer que a personalidade goiana, que não deixa de estar vinculada à política, com maior destaque no livro é a médica anapolina Ludhmila Hajjar, cotada para assumir o Ministério da Saúde no início de 2021.
Braço direito do médico Roberto Kalil, ela aparece no capítulo “O hospital dos presidentes”, que explica a história do Hospital Sírio-Libanês. Seu pai, Samir Hajjar, já foi pré-candidato a prefeito de Anápolis.
Brimos goianos
Dos 41 deputados estaduais em Goiás, pelo menos quatro têm origem árabe: Cairo Salim (Pros), Gustavo Sebba (PSDB), Humberto Aidar (MDB) e Lucas Calil (PSD). A proporção é de quase 10%, o dobro de deputadas mulheres, que são apenas duas.
Em relação aos 17 deputados federais goianos, só um é brimo: Zacharias Calil (DEM), que, até onde se sabe, não tem parentesco próximo com Lucas Calil.
Há, ainda, prefeitos e ex-prefeitos, como Adib Elias (Podemos), atual prefeito de Catalão, e Issy Quinan Júnior (Progressistas), ex-prefeito de Vianópolis, entre tantos outros brimos goianos com atuação política.
Em seu livro, Diogo Bercito destaca que não é possível mapear todos políticos brasileiros de origem árabe somente por meio do sobrenome. Em Goiás, há o caso do ex-governador Maguito Vilela (MDB), que, apesar de o sobrenome não indicar, é neto de libanês.
Aliás, na campanha para prefeito de Goiânia em 2020, Maguito, que faleceu poucos meses depois em decorrência de complicações da Covid-19, recebeu apoio da comunidade árabe.
Um dos principais articuladores desse apoio foi Michel Magul (MDB), candidato a vereador no ano passado e atualmente secretário-executivo da Secretaria de Governo (Segov) e da Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) da Prefeitura de Goiânia.
“Historicamente, houve diálogo entre políticos árabes representantes da colônia, como Issy Quinan, Abdul Sebba, Pedrinho Abrão, Adib Elias e Jardel Sebba”, conta Michel ao jornal O Hoje.
No entanto, segundo ele, esse diálogo diminuiu nos últimos tempos e agora está voltando a crescer. Michel é filho do Padre Rafael Magul, da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa de Antioquia – o celibato entre ortodoxos não é obrigatório –, e se coloca à disposição para fortalecer os laços entre a política goiana e a comunidade árabe.
“A formação cultural do árabe o faz se envolver na política de uma forma natural”, afirma Michel. “Nascemos falando de política.”
De acordo com ele, “muitos não fazem um trabalho específico para a comunidade árabe nem foram eleitos com essa pauta, mas tenho certeza que se identificam com a origem e têm orgulho dela”. (Especial para O Hoje)