Após ser xingada, mulher acusa professor Alcides de machismo
Madrasta de estudante de medicina conta os bastidores de confusão que terminou na delegacia semana passada
Por Yago Sales
Uma tentativa de alunos de Medicina de conversarem com o professor Alcides, que é dono do Centro Universitário Alfredo Nasser (Unifan),terminaria com ofensas, empurrões, chutes, tiro, delegacia, IML e vídeos que se espalharam pelas redes sociais. A Polícia Civil investiga o caso, sobretudo para identificar o autor de um disparo no chão que causou perfuração na cerâmica, em um vaso de plantas e numa parede. O projétil foi encontrado, desmentindo a informação de um tiro para cima.
Os três vídeos que registram partes do episódio mostram a empresária Milca Reis Bezerra, de 37 anos, em três momentos. Quando ela questiona o deputado sobre tentativas de resolver problemas com a grade curricular do enteado, Thasso Lopes Pires, de 27 anos, que cursa Medicina na unidade. Quando ela é xingada de “puta” pelo professor Alcides e, durante uma confusão generalizada, ela avança contra o deputado.
Em entrevista exclusiva ao O Hoje na tarde de domingo (10), a empresária nega que tenha agredido o professor Alcides. Por outro lado, o pró-reitor jurídico da Unifan, o advogado Wallace Braz Francisco, sustenta que o deputado sofreu agressões. “Até o par de óculos quebrou”, disse.
Na entrevista, a empresária reconstituiu a tentativa de resolver os problemas do enteado, que passou no vestibular da instituição, deixando o curso de Medicina da Universidad Cristiana Bolívia. Segundo ela, a intenção era conseguir fazer uma grade curricular, já que matérias que o jovem havia cursado na universidade boliviana não estavam sendo aceitas, mesmo depois de terem sido pagas. “A família pagou R$100 para cada uma das 58 disciplinas, ou seja, R$5.800.” Sem a grade, o estudante não havia iniciado as aulas no segundo semestre.
Acompanhada do marido, eladisseque eles viajaram1.300 quilômetros de carro da Bahia até Aparecida de Goiânia. Chegaram na quarta-feira à noite com a expectativa de serem ouvidos pelo professor Alcides. Na quinta-feira, foram informados que o reitor os atenderia na sexta-feira. Durante a manhã, a família tentou uma reunião, que não aconteceu. Receberam a promessa de que seriam atendidos à tarde.
“A gente ficou esperando, vendo pessoas entrando e saindo da sala dele. Mas quando ele saiu, disse que não ia falar com aluno de Medicina. Foi quando eu o interpelei”, conta ela. Em um dos vídeos, o Professor Alcides aparece dizendo que não tinha a obrigação de atendê-la. “Quem é o dono da faculdade?”, Milca questiona. “Eu não tenho a obrigação de atender”, o reitor repete. Em um dado momento, já irritado, ele indica uma delegacia para resolver a situação. “Vai lá e denuncia, que vou esperar a polícia aqui”, disse ele, com dedo em riste. A mulher então diz que o deputado é uma pessoa sem respeito e ele a chama de “puta”.
Sobre o uso da expressão, a empresária acusa o deputado de machismo. “Por que ele não se dirigiu ao meu esposo e o ofendeu com uma palavra de baixo calão? Ele fala com muita veemência ‘sua puta’. Imagine para mim, como mulher, como mãe, como ser humano. Ficou nítida a falta de respeito pelo fato de eu ser mulher.” Procurado no final de semana, o professor Alcides preferiu o silêncio. A assessoria de imprensa da Unifan disse que o deputado “está abalado”. Já o pró-reitor jurídico da unidade, Wallace Braz Francisco, esclareceu que, tendo em vista os vídeos, “houve ofensas de ambas as partes”.
Sobre o professor ter xingado a mulher, ele disse que “todos ficaram surpresos com a atitude”. “Quem o conhece sabe que ele é cordial e calmo. Obviamente a discussão estava acalorada”. Em seguida, o advogado volta a acusar Milca de agressão: “Temos uma senhora agredindo, ela sobe a escada, quebra os óculos do professor.” Sobre o disparo de arma de fogo, o advogado diz que vai esperar identificá-lo para tomar providências administrativas. Perguntado sobre demissão do funcionário, o advogado diz que é possível. “Não é permitido uso de armas dentro da Unifan”, ele garantiu.
Sobre o valor pago pelas matérias, o advogado diz que “o valor é para a análise das disciplinas do estudante que veio de outra instituição. O pagamento não garante que aquela matéria vai ser inserida e isso está no edital e no contrato”, ele disse. (Especial para O Hoje)