Adiamento da prestação de contas de Rogério Cruz tem caráter político
Fontes atestam que momento não é “oportuno” por conta da sequência de exonerações promovidas pela prefeitura
O caloroso domingo de eleição foi marcado também por uma mudança de planos por parte da Câmara Municipal de Goiânia. Acontece que uma nota oficial divulgada pela assessoria da Casa de Leis informou o adiamento, ainda sem nova data marcada, da prestação de contas do prefeito Rogério Cruz (Republicanos).
O documento justifica o adiamento do encontro previsto para a última segunda-feira, 31, à possível falta de quórum “em razão do resultado das eleições”. O comunicado que deu publicidade ao cancelamento da prestação de contas foi endossado pelo presidente da Casa, Romário Policarpo (Patriota), e pelo presidente da Comissão Mista, vereador Cabo Senna (Patriota). O documento finaliza dizendo que o encontro ocorrerá em data “mais apropriada”.
Nos bastidores, porém, o comentário é de que as eleições foram utilizadas como cortina de fumaça. Segundo fontes consultadas pelo O HOJE, o adiamento ocorreu em função do clima tenso entre Paço e Câmara, especialmente após a sequência de exonerações promovidas pela prefeitura de Goiânia, que afetou boa parte dos cargos comissionados indicados pelos vereadores da capital.
Mas não só: também pela suposta — e provável — troca de auxiliares na prefeitura em um futuro não muito distante. Ambos os fatores teriam contribuído para o adiamento do corpo a corpo entre o prefeito na casa dos vereadores. Tem sido ventilado desde a semana passada, vale lembrar, que Rogério Cruz trabalha para substituir boa parte do secretariado do primeiro escalão. Caso a reconfiguração aconteça, indicados e figuras próximas aos vereadores tendem a perder espaço.
Conforme mostrado em primeira mão pela reportagem do O HOJE, mais de 2 mil servidores foram demitidos pela prefeitura de Goiânia na última quarta-feira, 26. O assunto, desde então, se tornou alvo de discussão nos corredores do Paço, da Câmara e até da Assembleia Legislativa.
Fontes consultadas pelo jornal O HOJE asseguram que as demissões de agora estão relacionadas ao desejo do prefeito em saber “quem é quem” na prefeitura. Isso porque o famoso ‘grupo de Brasília’ e outros players políticos como João Campos e Jeferson Rodrigues, presidentes do Republicanos em Goiás e Goiânia, respectivamente, eram vistos como figuras importantes da gestão e, por isso, segundo as mesmas fontes, teriam indicado diversos nomes para ocupação de cargos comissionados no município. Acontece que esse grupo teria perdido força e, consequentemente, se distanciado da gestão encabeçada por Cruz.
“A vontade do Rogério é a de simplesmente conhecer profundamente a composição da prefeitura. Todos esses [do grupo], os membros do Republicanos e até os vereadores contam com muitas indicações. São nomes e cargos que ao longo dos últimos anos fugiram do controle do prefeito que, agora, quer reverter isso”, explicou um dos consultados.
A demissão em massa resultou na exoneração e dispensa de cerca de 2,1 mil servidores de cargos variados. As “liberações” constam no decreto nº 4.231. Pelo documento, quase 700 servidores foram dispensados e outros 1500 exonerados de suas funções. Dentre eles, secretários executivos, assessores especiais, técnicos, diretores, gerentes, jornalistas, chefes de gabinete, subprocuradores e outros.
O HOJE também mostrou, em reportagem assinada pelo jornalista Yago Sales, que em relação às exonerações dos cargos apontados pelos vereadores, a ideia de demitir conjuntamente visa minimizar o desgaste. Vale lembrar o atrito gerado ante ao desligamento e relocação de nomes indicados por Aava Santiago (PSDB) e Luciula do Recanto (PSD), por exemplo.
Em nota encaminhada à imprensa, a gestão Rogério Cruz afirmou que “as exonerações referem-se à parte dos servidores que ocupavam funções comissionadas, e integra reorganização administrativa que prevê remanejamento ou retorno de alguns profissionais aos cargos” e que “atualmente, o município dispõe de cerca de 35 mil servidores ativos, cujas atuações ocorrem de forma integral”.
Ainda de acordo com a nota, “nenhum ato legal da Prefeitura de Goiânia fica comprometido com a medida, visto que não houve exoneração de titular de nenhuma pasta, servidor legitimado para praticar todos os atos necessários. Ademais, os servidores efetivos continuam a cumprir com suas competências regimentais”, finalizou.