Policarpo assume prefeitura em meio a tensão entre Câmara e Paço
Prefeito Rogério Cruz vai se licenciar para uma viagem particular a Israel. Presidente da Câmara deve comandar Capital por pelo menos seis dias
O presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Romário Policarpo (Patriota), vai assumir a posição de prefeito da Capital pelos próximos dias. O parlamentar, que é o primeiro da linha sucessória da administração municipal, comandará Goiânia por pelo menos uma semana. A substituição ocorre em função do afastamento do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) que vai se licenciar do cargo para uma viagem ao exterior.
Cruz embarca rumo a Israel em 10 de novembro. Desde que assumiu a prefeitura, em janeiro de 2020, essa é a primeira vez que Rogério se afasta do cargo. A viagem tem caráter pessoal, portanto, não possui qualquer relação com a administração municipal.
Para desembarcar da gestão, ainda que provisoriamente, Rogério Cruz deve acionar a Câmara, já que não há um vice para substituí-lo. O comunicado oficial deverá ser enviado na próxima segunda-feira, 7.
O prefeito, vale lembrar, se afasta do cargo em um momento de tensão entre o Paço e a Câmara. Ainda que oficialmente muitos vereadores neguem o atrito, nos bastidores a indisposição tem sido alvo de constantes comentários entre os membros da base, da oposição e até do alto escalão da prefeitura.
Em off, muitos avaliam, inclusive, que a cisão entre os Poderes foi o motivo da gravação de um vídeo recente entre o prefeito e o presidente da Casa de Leis. No material, divulgado nas redes sociais do prefeito, Cruz, ao lado de Policarpo, diz ter uma novidade para contar aos goianienses, mas usa todo o tempo para reforçar o ‘clima de paz’ entre ambos.
“Estou aqui com o vereador Romário Policarpo e temos uma novidade para você. Hoje Goiânia merece uma atenção especial. Por isso estamos aqui juntos para dizer a todos vocês goianienses e amigos, meus e do Policarpo, que sempre estaremos juntos para cuidar da nossa cidade”, disse o prefeito que, em seguida, passou a palavra ao vereador.
Policarpo, por sua vez, endossou: “Quero dizer a vocês que estaremos juntos nessa empreitada e em qualquer lugar que o senhor desejar que eu esteja. Estou aqui para servir a prefeitura de Goiânia como servidor público efetivo. Confio na sua gestão e estaremos juntos até o final para que Goiânia tenha a melhor gestão possível. Eu confio e acredito que o prefeito Rogério Cruz fará a melhor gestão da história da nossa cidade. Conte conosco”.
Em paralelo, o dia a dia da Câmara Municipal revela o cenário turbulento. As críticas em relação à gestão municipal se intensificaram especialmente após a exoneração em massa promovida pela prefeitura há duas semanas. Com o comprometimento de cargos comissionados indicados — e a demora para reposição — muitos vereadores atestam, em off, que o prefeito tem caminhado a passos largos rumo ao isolamento.
Outros, porém, são mais incisivos, como o vereador Paulo Magalhães, por exemplo. Conforme mostrado pelo jornalista Yago Sales, do O HOJE, o parlamentar recentemente empossado usou a tribuna na última semana para fomentar o impeachment do prefeito. Como pano de fundo, porém, o vereador citou o não cumprimento das emendas impositivas, resgatando um dos principais fatores que contribuem atualmente com o atrito.
Ao falar sobre o assunto, Magalhães pediu ao líder do prefeito, Anselmo Pereira (MDB) que levasse ao Paço um recado amargo. “Oh, negão, Paulo Magalhães é osso duro de roer. Ou o senhor anda direitinho com as emendas ou ele vai pedir a sua cabeça”.
Em seguida, o vereador ainda alertou aos colegas da Casa: “E vocês têm obrigação de votar comigo para colocá-lo no meio da rua. Tem que respeitar essa Casa, tem que trabalhar em parceria. Não é dando que se recebe, é respeitando aqueles que foram eleitos para estar nessa Casa em defesa da população de Goiânia”.
Anselmo pediu a parte e, no costumeiro tom conciliador, disse: “Vereador, vossa excelência se qualifica como osso duro de roer. É o homem que tem o maior coração deste parlamento”. Magalhães, por sua vez, interpôs: “Mas nas minhas questões pessoais eu ponho para quebrar”. Anselmo prometeu que levaria a “análise” ao Paço, seguido de elogios à administração e garantias de que melhoraria o diálogo com Cruz.