Quem achou que os atritos do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) com a Câmara Municipal de Goiânia estavam superados, se enganou. Apesar dos sinais de bandeira branca dos últimos meses, há, ainda, um sentimento latente de insatisfação ancorado em muitos mandatários da Casa. Cada caso, é um caso. Mas a maior fatia dos insatisfeitos contestam, principalmente, o não cumprimento de compromissos firmados pelo prefeito. 

Boa parte deles conspiram contra a prefeitura nos bastidores. Em on, quase ninguém fala sobre o assunto. Temem que a situação, que já está ruim, piore. Mas um dos insatisfeitos resolveu romper a barreira do silêncio e declarar abertamente que “apoio sem contrapartida, uma hora acaba”.

É o caso do vereador Willian Veloso (PL). Por sinal, um dos mais pacíficos entre os discípulos do prefeito. O vereador de fala mansa, nunca foi protagonista das batalhas travadas entre a Câmara e o Paço ao longo dos dois últimos anos. Sempre apostou no diálogo quando precisou superar as inúmeras frituras sofridas por permanecer ao lado da prefeitura. Mas a calmaria tem seus limites e, também, uma hora acaba. 

Ante ao descompasso com o prefeito, Willian cogita deixar a base. O que não significa integrar a oposição, mas se comportar como mais um parlamentar “independente”. O vereador lembra que assim que assumiu o mandato no início de 2021, solicitou ao prefeito que pudesse colaborar com a gestão indicando ocupantes a cargos técnicos ligados às pessoas com deficiência. Foram seis cargos negociados. 

“Até hoje o prefeito não cumpriu o prometido na íntegra, pois os cargos técnicos acordados não estão ativos na Superintendência dos Direitos das Pessoas com Deficiência, na Secretaria de Direitos Humanos e na Gerência de Inclusão na Secretaria de Educação”, destacou o parlamentar que, em seguida, completou: “a representatividade das pessoas com deficiência fica comprometida, assim como o meu apoio ao prefeito”.

Fora isso, vale lembrar que na semana passada Willian foi golpeado pela gestão municipal. Como relator do projeto que garante a revisão do Código Tributário Municipal e, consequentemente, reajusta o IPTU dos goianienses, o vereador tinha acordado com a prefeitura um aumento de 5% mais a inflação a partir de 2026. O Paço, no entanto, atropelou o acordo nos 45 do segundo tempo e tentou empurrar goela abaixo um aumento de 10%, e não 5%, como negociado. 

Por meio da base aliada foi articulada a derrubada da emenda assinada por Veloso. Questionado se houve, de fato, uma mudança de ideia por parte da prefeitura, o relator disparou: “Tudo indica que sim. Tive um aceno positivo do secretário [de Finanças], não inventei essas emendas. Também tive apoio total dos vereadores da CCJ que subscreveram minha emenda. Sem contar que houve uma votação unânime na primeira fase, então me causa estranheza essa mudança de atitude por parte de alguns colegas”. 

Diante de todo o descompasso, os vereadores acharam melhor não votar a matéria naquele dia [quarta-feira, 21 de dezembro] e correram para uma reunião a portas fechadas com o prefeito Rogério Cruz. 

Na manhã seguinte, os vereadores voltaram a se reunir para tratar o assunto. A matéria, com a emenda de Veloso, prosperou. Mas o desgaste já estava gerado. O texto, por sinal, será votado de maneira definitiva pelo Parlamento nesta terça-feira (27/12). A prefeitura foi procurada para comentar a mudança de comportamento, mas não respondeu.

Por falar em IPTU, vale rememorar que Veloso foi um dos parlamentares prejudicados quando votou com a prefeitura pela aprovação no novo Código Tributário de Goiânia, no final de 2021. Por lealdade ao prefeito, teve seu nome estampado em diversas faixas espalhadas pela Capital. A aprovação do projeto resultou em um aumento desenfreado do imposto para diversos contribuintes goianienses, o que se busca, agora, reparar.