Sem morder a isca do bolsonarismo, Accorsi mantém liderança em Goiânia
Deputada federal e candidata a prefeita de Goiânia Adriana Accorsi usa a estratégia de não responder ataques e seguir propondo novos caminhos para a cidade que quer governar
Lúcida, sorridente, pé no chão. A campanha à prefeitura de Goiânia da deputada federal Adriana Accorsi (PT) é uma das mais observadas pela cúpula nacional do PT nos pleitos das capitais brasileiras – embora o partido de Lula da Silva tenha 13 nomes que concorrem ao cargo. Accorsi tem como vice o Professor Jerônimo Rodrigues, do PSB.
Líder em ranking de todas as pesquisas de intenções de votos até o momento, sucesso de Adriana Accorsi remete à importância de a candidata ter, até agora, cumprido o que havia sugerido antes da pré-campanha: que noções da polarização nacional não iria influir na condução da corrida na capital.
Embora fustigada por candidatos de direita em Goiânia, dentre os quais, o mais feroz, Fred Rodrigues, candidato do PL e, portanto, do ex-presidente Jair Bolsonaro, ela prefere propor soluções à cidade nos debates que já participou.
Claro, há, também, a estratégia, que enche os olhos de alguns petistas mais radicais com alguma chateação – comedida, evidente – de ela se afastar do vermelho e da lapada da estrela do PT, que ela tanto usou nos dois pleitos anteriores que a delegada usou.
Petista mesmo, foi deputada estadual e agora exerce o mandato de deputada federal, agindo de maneira próxima, mas não complementante dependente do presidente Lula, Adriana não esconde: vai se utilizar das benesses de ter abertura com o chefe da nação para ajudar a gestão em Goiânia.
Delegada de sucesso em Goiás, foi primeira – e única – delegada-geral de Goiás, onde atuou de forma para combater violências de gênero e contra crianças e adolescentes. Antes, com arma no coldre ou na bolsa, foi responsável por importantes operações no estado, entre elas, a prisão de Silvia Calabresi, a empresária que mantinha a menina Lucélia, apenas com 12 anos, em cárcere privado em um apartamento de luxo na capital. O caso ocorreu em 2012.
A prefeitável anda nas ruas e, ao contrário do que costuma repetir representantes da direita, não sofre retaliações ou xingamentos por ser do PT. Há, inclusive, demonstração de apoio aos eleitores de Bolsonaro. Tudo porque, certamente, Adriana compreendeu que não deve entrar no fluxo incontornável de disputa pela narrativa nacional entre o atual presidente e o anterior.
Afinal, a situação de Goiânia é outra: a capital precisa de uma governabilidade. E, como você leu linhas anteriores, a relação dela com Lula daria fôlego para tanto. E Caiado? O governador goiano é um republicano. Sabe lidar com políticos de diversas linhas ideológicas. Quando Flávio Dino era um “mero” ministro da Justiça e Segurança Pública de Lula – antes de assumir a toga no Supremo Tribunal Federal – foi recebido, e muito bem, no Palácio das Esmeraldas. Assim como outros ministros.
Em recente entrevista ao jornal O Hoje, Accorsi afirma que, eleita, vai dialogar com Caiado. Este é outro trunfo, assumindo que quer fazer o possível para garantir que a cidade vai ter uma gestão comprometida com resultados.
Outro fator importante para a construção da vitória de Adriana é lembrar ao eleitorado mais emedebista na cidade, que não tem um candidato com a cara de Iris, Dona Iris ou Maguito, enxergue em Adriana este perfil. Afinal, PT e MDB caminharam muito mais juntos do que esta nova composição mais à direita entre MDB e União Brasil. Há algum erro? Não. É apenas o fluxo natural de amarras políticas que se constroem, mas que, agora, favorecem uma candidatura mais do espectro que se aproxima da centro-direita.
De maneira mais sólida, Adriana também tem um argumento, embora questionada de forma veemente sobre gestões que cometeram erros, como de Paulo Garcia, ex-prefeito do PT, acerca do pai dela, Darci Accorsi, que foi prefeito da capital.