Pablo Marçal no UB pode atrapalhar planos de Caiado para 2026
Partido estaria interessado em filiar o influencer goiano, independente do resultado nas eleições em São Paulo onde disputa a prefeitura
O União Brasil, do governador Ronaldo Caiado, pode propor a filiação de Pablo Marçal (PRTB) depois da disputa à prefeitura de São Paulo. A informação foi revelada pela Folha, na noite de domingo (16), e pode atrapalhar os planos do goiano em 2026.
Isso porque Caiado é assumidamente pré-candidato à presidência. O intuito do União Brasil com o convite ao goiano Pablo seria, justamente, aproveitar o potencial do influenciador e o interesse do mesmo em buscar um projeto nacional.
Para atrair Marçal, o partido utilizaria o fato de ter a segunda maior bancada entre os partidos de direita, atrás apenas do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro. E, consequentemente, estrutura para disputa nacional.
Hoje, Marçal tem rivalizado, justamente, com Bolsonaro e também o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aposta ao Executivo federal, em 2026. O goiano tem ponte com o União. O vereador Rubinho Nunes (União Brasil) abandonou a campanha do prefeito e candidato à reeleição em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para apoiar Pablo.
Ele já disse em entrevista não ter apego com partidos, mas que o PRTB o acolheu. Contudo, a legenda lhe deu algumas dores de cabeça. Além da falta de tempo de TV, existem investigações sobre supostas ligações de seus dirigentes com a facção criminosa PCC.
Caiado
O governador Ronaldo Caiado, por sua vez, não esconde o desejo de disputar o Planalto, em 2026, e nem que deseja ter o apoio de Jair Bolsonaro. O gestor parece estar disposto a entrar no páreo a qualquer custo, mas conta, sobretudo, com o União Brasil.
Ele já tem pela frente nomes “pesados” da direita, como o próprio Tarcísio de Freitas, além dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Sem falar na própria ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), que também tem sido ventilada e com destaque nas pesquisas.
Com a entrada de Pablo Marçal, que já afirmou ter o sonho de disputar a presidência – ele inclusive chegou a tentar, no último pleito, mas o projeto não foi para frente -, seria mais um nome. Contudo, indo para o mesmo partido, a disputa já inicia de forma interna.
União Brasil
Em junho, Goiânia recebeu o 1º Encontro Nacional do União Brasil. O presidente da legenda, Antônio Rueda, endossou o nome de Caiado à presidência, à época. “Com eventos como esse, a partir de hoje. Estamos dando o primeiro evento que vai circular pelo Brasil todo. Temos dois anos para trabalhar”, disse sobre tornar o governador conhecido pelo País.
“O Caiado é um símbolo do partido. Ao longo de trinta anos, faz política pública. Passou por todos os estágios. Foi senador, deputado federal e governador por duas vezes. É uma pessoa experimentada, representa o partido”, destacou.
Uma fala tão longe do pleito, claro, não é garantia de apoio. É preciso dizer, o goiano já enfrenta resistência mesmo dentro do partido, pois existe uma ala que quer apoiar a reeleição do presidente Lula (PT), uma vez que o partido ocupa ministério.
O deputado federal Celso Sabino (União Brasil) é ministro do Turismo. Em maio deste ano, ele afirmou que o partido estaria inclinado a apoiar uma eventual candidatura à reeleição de Lula. Caiado respondeu: “Isso não me afeta. Tenho experiência suficiente para saber que nossa bancada federal foi eleita com a premissa de ter um candidato próprio.”
Visão
Doutor em Ciências da Comunicação e especialista em Políticas Públicas, o professor Luiz Signates vê essa notícia como “trágica” para as pretensões de Caiado. Segundo ele, Marçal tem condições de mudar as estruturas da legenda.
“O União Brasil deve saber que um político como o Marçal tem potencial para fagocitar o partido. Isto é, ele tenderá a submeter as lideranças tradicionais do partido ou bani-las do processo. E deverá fazer com as lideranças do partido o que está fazendo hoje com o Bolsonaro.”
Ele diz, ainda, que a situação vai depender dos resultados da campanha de São Paulo. “Se ele não for para o segundo turno, talvez se consiga discipliná-lo. Mas, mesmo assim, acho difícil, pelo perfil que ele resolveu ser, o do outsider absoluto”, avalia.
Questionado se haveria um plano B para Caiado, ele acredita que a candidatura não se viabilizaria, com a entrada de Marçal. “Não creio que ele vá para outro partido, certamente menor. Deverá prevalecer o pragmatismo de sempre”, afirmou.
Mais um ponto
Professor e cientista político, Guilherme Carvalho afirma que, com Bolsonaro fora do pleito em 2026, o desempenho de Marçal em São Paulo na disputa à prefeitura deve ditar o futuro. “Marçal tem conseguido penetrar em públicos muito amplos e tem demonstrado ser mais o perfil que o bolsonarismo espera de um líder.” Ao mesmo tempo que gera apoio, gera rejeição, observa também.
Já o governador possui um perfil mais tradicional, segundo Guilherme, o que pode incomodar e gerar rivalidades dentro do próprio campo – mais do que aqueles que estão mais à direita, como o Pablo. “Então, é nesse sentido que eu acredito que o Marçal possa atrapalhar. E meu argumento central é que não seria um caminho fácil para Caiado conseguir viabilizar o espaço dele, de qualquer forma.”