A relação entre Leandro Vilela e Câmara de Aparecida em meio à crise financeira
Com quase dois meses de mandato, relação entre Executivo e Legislativo é marcada por insatisfações veladas, mas também por diálogo e busca por soluções conjuntas para superar crise herdada
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Bruno Goulart
Com pouco mais de dois meses à frente da Prefeitura de Aparecida, o prefeito Leandro Vilela (MDB) já enfrenta os primeiros desafios políticos em sua relação com a Câmara Municipal. A gestão herdou uma crise financeira grave, com dívidas que ultrapassam R$ 500 milhões, servidores sem receber salários e serviços essenciais comprometidos. Enquanto Vilela prioriza a contenção de gastos e o enxugamento da máquina pública, os vereadores cobram maior espaço político, como a distribuição de cargos prometidos durante a campanha.
O HOJE conversou com parlamentares que confirmaram a existência de uma insatisfação velada com o prefeito. No entanto, muitos reconhecem as limitações impostas pela situação financeira crítica e admitem que é cedo para cobrar mudanças mais profundas. Um deles estimou à reportagem que pelo menos 15 dos 25 colegas estão insatisfeitos, mas a maioria evita confrontos diretos, dada a complexidade do cenário. A Prefeitura, que estava “muito inchada”, agora busca reorganizar a gestão e equilibrar as contas públicas, o que tem limitado a capacidade de atender às demandas do parlamento.
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Apesar de Vilela ainda não ter uma oposição declarada na Câmara, a relação tem sido tensionada pela redução da folha de pagamento pela metade – o que é louvável – mas impossibilita a nomeação de indicados dos vereadores. Embora reclamem da demora em atender suas demandas, o prefeito negou qualquer descompasso. Em 5 de fevereiro, Vilela esteve na Câmara para prestar contas dos primeiros 30 dias de governo, destacando a importância da parceria entre os Poderes.
Durante a sessão, Vilela reforçou que todas as ações de sua gestão serão executadas em conjunto com o Legislativo. “Eu sempre respeitarei a nossa independência e a harmonia entre os Poderes para fazer o que é preciso para melhorar a vida dos aparecidenses”, declarou. O HOJE questionou o secretário de comunicação da prefeitura, Ozéias Laurentino, sobre a falta de um líder do governo na Câmara. Ele explicou que todos os vereadores se declaram parte de sua base, incluindo o presidente da Câmara, Gilsão Meu Povo. “Não temos um líder específico porque todos os vereadores são líderes do nosso governo”, afirmou.
Austeridade
Apesar dos desafios, a gestão de Vilela tem buscado transmitir uma imagem de transparência e compromisso com a população. O pagamento da segunda parcela da folha de dezembro, que havia sido deixada pendente pela administração anterior, foi um dos primeiros passos para restabelecer a confiança dos servidores e da sociedade. Além disso, o prefeito tem destacado a importância de modernizar a gestão pública e buscar soluções inovadoras para os problemas da cidade.
Em uma análise mais ampla, é possível perceber que a relação entre o Executivo e o Legislativo em Aparecida está longe de ser perfeita, mas também não pode ser caracterizada como conflituosa. Os vereadores, embora insatisfeitos com algumas medidas, reconhecem a complexidade da situação financeira do município e a necessidade de ações enxutas. Por outro lado, o prefeito demonstra disposição para dialogar e construir pontes com a Câmara, mesmo em um cenário de restrições orçamentárias.
Ao final, o que fica claro é que tanto o prefeito quanto os vereadores têm um objetivo comum: melhorar a qualidade de vida dos aparecidenses. Se a harmonia entre os Poderes será mantida ao longo dos próximos meses ainda é uma incógnita, mas os primeiros passos indicam que, apesar das divergências, há espaço para o diálogo e a construção de soluções conjuntas.