Trump pode não ser a carta na manga que Bolsonaro espera
Especialista detalha que políticas conflituosas de Donald Trump podem ocasionar em uma redução de popularidade

Com apenas dois meses de governo, as relações entre Estados Unidos da América (EUA) e Brasil já enfrentam tensões políticas não vistas nem mesmo quando o mandatário Donald Trump fora eleito em 2016. Constantes avanços como as ameaças de tarifas recíprocas para as importações de produtos brasileiros como o aço e o alumínio, até há recentes avanços contra o judiciário brasileiro seguindo a denúncia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela Procuradoria Geral da República (PGR) e os entraves com plataformas de redes sociais norte-americanas com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em uma semana, a Rumble e a Trump Media, empresas que detém redes sociais de grande aderência de perfis da direita, entraram com uma ação contra o ministro do STF Alexandre de Morais sob alegação de censura de um cidadão nos EUA. Pouco tempo depois, deputados do Congresso norte-americano criaram um projeto de lei apelidado de “Anti-Morais” que nega visto para autoridades estrangeiras que supostamente censuram as vozes estadunidenses.
Em resposta a estes avanços, Morais declarou que o Brasil “deixou de ser colônia em 1822”, durante a sessão do judiciário nesta última quinta-feira (27). Os ministros Flávio Dino e Luís Barroso também se manifestaram em defesa do ministro e enalteceram a defesa da democracia e da autonomia brasileira ao relembrar a tentativa de golpe em 2022 pelos denunciados da Operação Punhal Verde Amarelo.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Governo Lula (PT) também se manifestou contra estes ataques a autoridades brasileiras em uma nota oficial. Segundo o Itamaraty, a instituição rejeita a politização de uma decisão judicial e reafirma a independência dos poderes. Ainda no texto, o órgão defende os direitos básicos da liberdade de expressão, mas afirma que o mesmo deve ser considerado junto com outras diretrizes legais e criminais ao relembrar sobre as campanhas de desinformação em massa.
Essa escalada nas tensões evidência a agenda do republicano em fortalecer oposições de direita em nações que não simpatizam com o governo estadunidense, como ocorreu recentemente com as eleições da Alemanha na vitória do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) em segundo lugar nas cadeiras ganhas. Para o cientista político Luiz Signates, essa agenda é fortalecida pelo papel das redes sociais e das Big Techs de alavancar plataformas de direita populistas que se alinham ao poder norte-americano em todo o globo.
O pesquisador aponta que essa agenda de interferência também é de interesse de agentes políticos da direita brasileira que sanha a derrota de Lula nas eleições de 2026 ao articular com membros da Casa Branca. “A meu ver, cabe à diplomacia brasileira agir com habilidade, para demover o governo americano de qualquer tentativa intervencionista, anular o entreguismo de parte de nossa elite e permitir que o nosso país tome seus próprios rumos, em função de nossos próprios interesses”, afirma.
Apesar disso, afirma que ainda muita coisa pode ocorrer em 2025 que altere o cenário global, e em específico com o Governo Trump, como um declínio na popularidade e afastamento de aliados com políticas tarifárias conflituosas e desejos expansionistas. “Temos que esperar o governo Trump sair da fase de tolerância de seus eleitores, para a fase em que terá que mostrar resultados econômicos. Se ele se tornar um governo impopular, certamente sua força de interferência se tornará menor e o mundo respirará mais tranquilo, em direção ao formato multipolar que a China tem implantado.”