Leandro Vilela e Câmara de Aparecida enfrentam primeiro grande desafio com greve da educação
Com mais de 70 escolas paralisadas, movimento iniciado em 29 de abril pressiona nova gestão a resolver impasse sobre pagamento do retroativo do piso salarial dos professores

Bruno Goulart
A gestão do prefeito Leandro Vilela (MDB) e da Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia vive seu primeiro grande teste com a deflagração da greve dos profissionais da rede municipal de ensino, iniciada em 29 de abril. A paralisação foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) após a prefeitura recusar o pagamento retroativo do reajuste do piso salarial da categoria, que, segundo o sindicato, deveria ter sido quitado desde janeiro deste ano.
Segundo dados repassados pelo Sintego, de um total de 93 escolas municipais, 72 estão completamente paralisadas. A adesão massiva reflete o descontentamento dos educadores com o que consideram descaso do Executivo municipal. Para o presidente regional do Sintego, Valdeci Português, a situação poderia ter sido evitada com um esforço mínimo por parte da prefeitura. “Por causa de R$ 7,3 milhões a prefeitura deixou a greve acontecer. Um valor irrisório para quem arrecada R$ 200 milhões por mês”, afirmou em entrevista ao O HOJE.
Valdeci reforça que o reajuste de 6,27% é um direito garantido por lei e que, ao não pagar o valor retroativo desde janeiro, a prefeitura força os profissionais a recorrerem à greve. “Se tivessem pago o reajuste, não teria greve. A prefeitura se nega a pagar e ainda joga a responsabilidade na gestão anterior”, critica. O sindicato tem organizado ações públicas em apoio à greve, como a manifestação na Praça da Igualdade nesta sexta-feira (9) e a Corrida pela Educação, marcada para este sábado (10) na Avenida Rio Verde.
“Greve ilegítima”, diz procurador
Do lado do Executivo, a resposta tem sido de cautela, mas também de firmeza. O procurador-geral do município, Fábio Camargo, defende que a greve não tem base legal, uma vez que a legislação federal obriga o pagamento do retroativo apenas aos profissionais que ainda ganham abaixo do novo piso salarial, atualizado para R$ 4.867,77 em 2025. Segundo ele, apenas 21 professores da rede se enquadram nesse critério e receberão o retroativo desde janeiro.
“A greve é ilegítima nesse ponto. O município vai pagar o que a lei exige, que é o reajuste retroativo apenas para quem está abaixo do piso. Para todos os demais, o reajuste de 6,27% será aplicado a partir de maio”, explicou Camargo à reportagem. Ele ainda justificou a dificuldade financeira da prefeitura, que herdou uma dívida de cerca de R$ 500 milhões, incluindo salários atrasados e pendências com fornecedores.
O procurador também apontou limitações no uso do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que cobre apenas 10 folhas salariais por ano. “As duas folhas restantes e o 13º salário precisam ser pagos com recursos próprios da prefeitura”, completou. Diante do impasse, a prefeitura já prepara uma ação judicial para pedir a suspensão da greve. “Vamos recorrer à Justiça na próxima semana. Se a liminar sair, as aulas devem ser retomadas imediatamente.”
No Legislativo, o clima é de tensão, mas com tentativa de diálogo. O presidente da Câmara, vereador Gilsão Meu Povo (MDB), reforçou o compromisso com os servidores públicos e afirmou que a Comissão de Educação da Casa buscará intermediar uma solução junto ao prefeito. Na última terça-feira (6), a galeria do plenário João Antônio Borges ficou lotada com representantes da categoria, que apresentaram suas reivindicações em meio a aplausos e faixas de protesto.
Para o prefeito Leandro Vilela, que assumiu o comando de Aparecida em janeiro, o episódio marca um teste de fogo para sua capacidade de gestão e articulação política. Resta saber se o diálogo proposto pelo Legislativo e a linha técnica da Procuradoria serão suficientes para resolver o impasse com os educadores — um dos pilares do serviço público municipal.