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infraestrutura

Crise nos cemitérios faz com que sepultamentos sejam realizados à base de vaquinha

Falta de cimento, tijolos e areia obriga servidores a improvisar enterros com doações e reaproveitamento de materiais

Micael Silvapor Micael Silva em 13 de maio de 2025
“Às vezes temos que catar tijolo entre as quadras ou pedir doação. Agora tem um pouco de material, mas o cimento mesmo falta bastante”, relatou um trabalhador Foto: Micael Silva/ O Hoje
“Às vezes temos que catar tijolo entre as quadras ou pedir doação. Agora tem um pouco de material, mas o cimento mesmo falta bastante”, relatou um trabalhador Foto: Micael Silva/ O Hoje

A Prefeitura de Goiânia tem enfrentado dificuldades para realizar sepultamentos nos cemitérios públicos por falta de materiais básicos como cimento, tijolos, areia e vergalhões, essenciais para a construção e fechamento de túmulos. A escassez tem sido contornada com doações e até vaquinhas entre secretários municipais.

Durante visita ao Cemitério Municipal Parque, localizado no Setor Gentil Meireles, a equipe do jornal O Hoje se deparou com um cenário de abandono, precariedade e improviso. Funcionários relataram uma rotina marcada pela ausência de insumos, uso de ferramentas improvisadas e reaproveitamento de materiais encontrados entre os túmulos. Segundo eles, há apenas um carrinho de transporte em funcionamento e, com frequência, é preciso “buscar cimento emprestado” para concluir enterros.

“Às vezes temos que catar tijolo entre as quadras ou pedir doação. Agora tem um pouco de material, mas o cimento mesmo falta bastante”, relatou um trabalhador que atua no local há 17 anos. “Está tudo largado. A gente faz o que pode com o que tem.”

Além da escassez de materiais, o local sofre com estrutura precária, túmulos depredados, lixo acumulado, falta de iluminação e insegurança. O mato alto e a ausência de muros facilitam a ação de vândalos, e ossadas expostas não são uma cena incomum.

Segundo o decreto municipal 2.813/2019, a conservação dos túmulos é responsabilidade das famílias. No entanto, à Prefeitura cabe garantir segurança, higiene e limpeza permanentes nos cemitérios públicos, como o Parque e o Santana. A prática, porém, está longe da teoria.

O drama atinge diretamente as famílias, que, em momentos de dor, enfrentam ainda mais sofrimento ao enterrar seus entes queridos em meio ao descaso. A falta de materiais básicos compromete o fechamento adequado dos túmulos, gerando insegurança quanto à preservação dos restos mortais.

Em um caso recente, uma família precisou solicitar a exumação de um corpo após o túmulo ter sido violado. A perícia confirmou que os restos mortais permaneciam no local, mas a violação revelou o risco da ausência de manutenção e fiscalização.

Infraestrutura abandonada e insegurança total

As obras de calçamento e construção de muros, iniciadas há anos, permanecem inacabadas, sem previsão de conclusão. À noite, o cemitério se transforma em terra sem lei: sem guardas, sem iluminação e com acesso totalmente aberto. Túmulos danificados e lixo espalhado se tornam parte da paisagem.

“Aqui não tem guarda, não tem muro, não tem luz. Entra quem quer e faz o que quiser”, disse outro servidor. “A Comurg vem de vez em quando, roça o mato e vai embora.”

Durante a visita da reportagem, foi possível ver infiltrações na área administrativa, espaços cobertos com lonas e equipamentos quebrados. Além do único carrinho de sepultamento funcional, veículos maiores estão parados por falta de manutenção.

Enquanto a administração pública aguarda a conclusão de processos licitatórios e tenta dar respostas burocráticas, servidores e famílias lidam com a realidade: um cemitério sem estrutura, sem segurança e sem dignidade.

Resposta da Prefeitura de Goiânia

A Prefeitura de Goiânia reconhece as dificuldades enfrentadas na manutenção e operação dos cemitérios municipais, agravadas pela ausência de contratos de manutenção que não foram deixados pela gestão anterior. Essa situação resultou na escassez de materiais básicos, como cimento, areia, tijolos e vergalhões, essenciais para a realização de sepultamentos.

Diante da urgência, a Secretaria Municipal de Gestão de Negócios e Parcerias (Segenp) iniciou um processo de compra emergencial no valor de R$ 62 mil, com previsão de suprir a demanda por aproximadamente seis meses das unidades geridas pela pasta. Paralelamente, uma licitação definitiva para aquisição desses insumos está em andamento na Secretaria Municipal de Administração (Semad).

Enquanto a compra emergencial não é concluída, os sepultamentos estão sendo viabilizados por meio de doações e ações solidárias. A Segenp também conta com o apoio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), que tem colaborado com o fornecimento de materiais, como caminhões de areia.

A gestão municipal reforça que, conforme o Decreto nº 2.813/2019, a conservação dos túmulos dos cemitérios Parque e Santana é de responsabilidade das famílias, cabendo ao Poder Público a manutenção da infraestrutura, limpeza e segurança dos cemitérios.

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