Por que o PT avalia apoiar José Eliton para governador em 2026
Apoio expõe um ponto de incoerência na estratégia petista em Goiás. Ex-aliado de Caiado, vice de Marconi e governador pelo antigo grupo rival, o pessebista é cotado para representar campo progressista com apoio do partido de Lula
Bruno Goulart
Com as eleições de 2026 cada vez mais próximas, surge outra figura, talvez nem tão conhecida assim, na corrida pelo Governo de Goiás. Trata-se do antigo aliado do governador Ronaldo Caiado (UB) e do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), do qual foi vice – o também ex-chefe do Executivo estadual (por quase 9 meses) José Eliton (PSB). Mas o que chama a atenção é a possibilidade de o PT apoiar a pré-candidatura do agora pessebista ao Palácio das Esmeraldas.
Segundo o deputado estadual Mauro Rubem (PT), “está tendo uma conversa dentro do PT para que o José Eliton seja candidato ao governo com o apoio do PT”. De acordo com ele “isso tem sido costurado pelo próprio vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), a diretoria nacional e a presidente estadual, Adriana (Accorsi).” O parlamentar afirma que o tema está em construção e ainda passará por debate interno. É importante citar que o PSB, partido de José Eliton, integra a base do governo federal e tem ampliado articulações regionais.
Mas vale lembrar que José Eliton começou sua trajetória política como aliado do grupo liderado por Marconi Perillo. Em 2010, foi escolhido por Ronaldo Caiado como o nome do antigo DEM (hoje União Brasil) para vice na chapa do tucano ao governo. Marconi venceu aquela eleição e foi reeleito em 2014, quando o cargo foi assumido por José Eliton em abril de 2018, que tinha deixado o PP e migrado para o PSDB. Na disputa daquele ano, Eliton concorreu à reeleição, mas foi derrotado pelo governador Ronaldo Caiado. Hoje, o ex-tucano está filiado ao PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, que, por sua vez, mantém proximidade histórica com Marconi, ambos ex-governadores pelo PSDB.
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Dentro do PT, a movimentação divide opiniões, mas há quem enxergue a construção de uma frente ampla como caminho estratégico. O vereador Edward Madureira explica ao O HOJE que a sigla tem buscado ampliar alianças no campo progressista. “O PT está disposto a construir uma frente ampla. E o José Eliton tem se apresentado nessa trincheira. Inclusive apoiou o presidente Lula na última eleição. Mas ainda está sendo discutido.”
Críticas à possível aliança do PT com Eliton
Por outro lado, há vozes que veem na possível candidatura uma aposta arriscada e até repetitiva. O mestre em História e especialista em Políticas Públicas Tiago Zancopé critica a ideia e aponta falta de renovação. “Me parece uma falta de criatividade terrível tentar reciclar o nome do José Eliton. Ele chega à política pelas mãos do Caiado, depois vira vice do Marconi, assume o governo e termina com um índice de aprovação baixo.”
O especialista também lembra desgastes enfrentados na gestão, como a tentativa frustrada de implementar Organizações Sociais (OSs) na educação e o cenário negativo deixado ao fim do mandato, até mesmo sem quitar folha de pagamento dos servidores. Para Zancopé, a esquerda deveria buscar nomes realmente competitivos para não disputar “apenas para figurar”.
Além disso, analistas avaliam que a proposta se insere numa estratégia nacional do presidente Lula de recompor alianças amplas em Estados nos quais o PT enfrenta forte resistência eleitoral. O cientista político Lehninger Mota destaca que essa lógica não é exclusiva de Goiás: “Essa aliança é a continuação do discurso do Lula de articular uma frente ampla pela democracia. Em lugares onde o PSB tem mais chance do que o PT, eles apoiam”.
Mota também lembra que o PT historicamente tem dificuldade para ultrapassar a casa dos 10% dos votos no Estado, o que reforça o cálculo político de buscar nomes de menor rejeição. A maior votação recebida pelo partido na disputa ao Palácio das Esmeraldas veio em 2002, quando a ex-deputada federal Marina Sant’Anna atingiu 15,17% da votação no primeiro turno, atrás de Maguito Vilela (MDB), com 32,79%, e Marconi, que foi eleito com 51,21% dos votos.
Alternativa pragmática
Ainda assim, Mota pondera que José Eliton não é necessariamente competitivo, mas pode servir como alternativa pragmática dentro de uma estratégia que priorize eleger senadores e deputados federais aliados.
Apesar das polêmicas, a movimentação não está encerrada. Por fim, Mauro Rubem ressalta que o processo será debatido amplamente e que outras possibilidades ainda estão na mesa. Por enquanto, o cenário aponta apenas para um primeiro movimento dentro de uma articulação maior que incluirá a direção nacional do PT, o PSB e as lideranças regionais. O desfecho, assim como a viabilidade eleitoral da proposta, permanece aberto. (Especial para O HOJE)