Wilder se lança pré-candidato, já está montando chapas e plano
O senador e o deputado federal Gustavo Gayer unem vereadores de Goiânia e deputados estaduais, dizem que o PL terá candidato a governador, com portas abertas para alianças
Não mexa com quem está quieto – recomenda o ditado. E provocar quem está se movimentando é pior ainda. Pois tanto disseram que o senador Wilder Morais parecia adiar o início da pré-campanha a governador em 2026 que nesta segunda-feira (17), em reunião no diretório regional do PL, oficializou o que já se sabia. No dia anterior, logo no início da manhã de domingo (16), Wilder enviou a amigos um texto sobre as pessoas nascidas dos anos 1930 a 1970 – que é o seu caso, da safra de 1968 nas cercanias de Taquaral, a 80km de Goiânia. A mensagem continha uma frase que resumia a situação de Wilder: “Não temos mais idade de adiar nada”. Horas depois, estava articulado o lançamento da pré-candidatura.
Colegas queriam mudança de método
O jeito Wilder de fazer política é diferente, pois não tem auê. Assim, quem está por perto assiste, quem está de longe gostaria de estar por perto. O tal do deixa falar, falem bem, falem mal, mas falem de mim. É uma estratégia discutível, de efeito duvidoso, pois pode ser que a demora em agir tire o tempo até de reagir. Enfim, não era o método predileto dos pré-candidatos a deputado e, sobretudo, do senatoriável Gustavo Gayer. Rendeu-se a eles.
A preocupação de Wilder, agora, é formar as nominatas para deputado federal e estadual. Nenhuma vírgula sobre seu vice ou os suplentes de Gayer ou o candidato à segunda vaga ao Senado. Repete que seu candidato a presidente da República continua sendo Jair Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar em Brasília.
Apoio do 1º escalão do bolsonarismo
Wilder é amigo de Jair e mais ainda de seus filhos com mandato federal, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo (PL-SP). Mantém excelente relação com os ex-ministros do período 2019/23, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (que foi da Infraestrutura) e seus colegas senadores Damares Alves (ex-ministra da Mulher), Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Tereza Cristina (Agricultura), Marcos Pontes (Ciência), Ciro Nogueira (Casa Civil), Jorge Seif (Aquicultura e Pesca), além do ex-vice-presidente Hamilton Mourão.
Mesmo com tanta gente do alto escalão do bolsonarismo torcendo por Wilder e considerando-se seus cabos eleitorais, corria o boato em Goiás de que ele sequer iria tentar o governo. Toda manhã surgia alguém que havia acabado de falar com algum graúdo do PL em negociação para rifar o senador e apoiar outro pré-candidato a governador. Tudo lorota, segundo o senador. Jair Bolsonaro, em sua versão, não apenas está consciente de sua candidatura ao Palácio das Esmeraldas como o incentiva.
Reivindicações vão compor programa de governo
A fase atual, na tática de Wilder, é de reunir as demandas do Estado, sobretudo a partir do que prefeitos, vereadores, primeiras-damas e secretários municipais levaram de ofício com reivindicações. O senador diz que concorda com todas e, inclusive, vai transformá-las em questão de Estado. Para ele, será a valorização de cada ofício levado à Ala Alexandre Costa, onde fica seu gabinete no Senado, o mesmo em que Ronaldo Caiado trabalhou antes de tomar posse no Governo de Goiás. Os últimos quatro mandatos de governador do Estado saíram de lá: assim como Caiado (2019/2022 e 2023/2026), Marconi Perillo (2011/2014 e 2015/2018), também era senador imediatamente antes de assumir a chefia do Executivo goiano.
Wilder atuou nas equipes de ambos. Foi secretário de Infraestrutura de Marconi (2011/2012) antes de assumir no Senado pela 1ª vez e secretário de Indústria, Comércio e Serviços no 1º mandato de Caiado, antes de assumir no Senado pela 2ª vez. Outra experiência que vai apresentar como sustentáculo do plano de governo é na iniciativa privada. Comanda um grupo empresarial com atividades em quatro continentes, América do Sul, América Central, Ásia e Europa, como investimentos também nos Estados Unidos da América do Norte.
Da pobreza extrema à extrema direita – quem é o nome do PL
Wilder Pedro de Morais é empresário, formou-se em Engenharia Civil na Universidade Católica de Goiás (hoje PUC-GO). Está em seu 2º mandato de senador e no 2º casamento, agora com a pedagoga Anna Fleury Morais, com quem tem quatro filhos. É o único senador que mora na roça – na verdade, a Fazenda Orca, no município de Santo Antônio de Goiás, nas proximidades da rodovia que liga Goiânia e Nerópolis. Diz que não muda de lá porque seu loft fica ao lado da casa da mãe, Maria Angélica. Faz questão de, toda noite, se deitar no colo de Dona Angélica para ela mexer em seus cabelos até dar sono.
A forte ligação com a mãe se intensificou ainda mais após a morte do pai, Natalino Alberto, em outubro de 2014. Os dois, Angélica e Natalino, eram lavradores meeiros quando Wilder nasceu. Um acidente doméstico que matou o primogênito, Wenes, fez com que o casal se mudasse para a sede do município, Taquaral. Ali, sem patrimônio e com os pais sem profissão urbana, a família padeceu. Moravam de favor – tanto que Wilder mudou 24 vezes em dez anos. Passaram muita fome – a melhor temporada era a de manga, porque todo lugar tinha e os Morais as disputavam com os periquitos.

Quando passou para o que hoje é o Ensino Médio, Wilder se mudou para Goiânia. Morou em prédio abandonado e continuou a passar necessidade de alimentação, mas não parou de estudar. Aprovado no vestibular de Engenharia Civil, fez das tripas coração para conseguir o dinheiro da matrícula, deu seus pulos para conseguir estágio e da empresa que lhe deu a chance inicial só saiu quando era diretor-presidente. E só a deixou para montar a própria construtora, a Orca, atualmente a estrela de uma companhia com mais de 50 ramos de negócios.
De tudo o que conquistou, Wilder diz que sua maior façanha em termos de sonho realizado foi conseguir a primeira residência para a família. Nunca, em tempo algum, nenhum Morais daquele ramo havia sido proprietário de qualquer imóvel. A casa de Seu Natalino e Dona Angélica foi a primeirona. Agora, o tema voltou à pauta porque adquiriu a última moradia onde seu pai morou em Taquaral. Foi visitar a casa, ficou emocionado com tudo ali lembrar Natalino e não resistiu: é ali que o senador mora quando está na terra natal, com todas as lembranças do pai e o colo da mãe.