Insatisfação de aliados com Vanderlan revela momento crítico do PSD em Goiás
Declarações de filiados expõem crise de articulação sob o comando do senador; especialista aponta falta de liderança e risco de debandada
Bruno Goulart
É fato que o PSD de Goiás atravessa um dos momentos mais delicados de sua história recente. Nos bastidores, as divergências internas se intensificam e a insatisfação de aliados com o presidente estadual da sigla, senador Vanderlan Cardoso, deixou há muito tempo de ser apenas conversa de bastidor. À medida que 2026 se aproxima, a ausência de alinhamento e de um projeto claro tem preocupado lideranças da sigla por medo perder competitividade no Estado.
Nesse contexto, o presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego) e ex-deputado federal Francisco Jr. afirmou ao O HOJE que a legenda está “desarticulada, sem diálogo e direção política definida”. Segundo o líder da Codego, a falta de alinhamento interno impede que o PSD avance. “Lamento pelo momento que o partido vive. Para melhorar, é preciso reunir as lideranças, sentar e conversar. Hoje, ninguém sabe o que dizer, porque não se tem um projeto de grupo”, afirmou. Francisco Jr. reforçou ainda que não conversa com Vanderlan “há mais de um ano” e que outros nomes, como o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, também demonstram insatisfação.
Mendanha, inclusive, reiterou recentemente ao O HOJE que só permanecerá no PSD caso o partido declare apoio formal ao projeto do governador Ronaldo Caiado (UB) e do vice Daniel Vilela (MDB). Embora, na prática, a sigla esteja próxima do governo estadual, não há manifestação oficial da cúpula, o que aumenta o desconforto.
Crise no PSD
A crise ficou ainda mais evidente nesta terça-feira (18), quando o deputado federal Ismael Alexandrino renunciou aos cargos de vice-presidente estadual e presidente do PSD metropolitano. Ao O HOJE, o parlamentar destacou que o partido possui dois pré-candidatos ao Senado e trabalha na formação de chapas para Assembleia e Câmara, mas reconheceu que falta definição: com qual projeto de governo a sigla marchará em 2026? Nos bastidores, comenta-se que Ismael pode migrar para o PL, hipótese que o deputado nega.
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Diante do acúmulo de tensões, a reportagem procurou o senador Vanderlan Cardoso, que preferiu não comentar as declarações de Francisco Jr.. O fundador e ex-presidente estadual do partido, Vilmar Rocha, também optou por não se manifestar.
“Se o partido não entregar resultados a Kassab, pode haver mudanças no comando estadual do PSD”
Enquanto isso, um especialista ouvido pela reportagem avalia que a crise do PSD em Goiás é mais profunda do que aparenta. O estrategista político Marcos Marinho considera que a legenda vive um processo de enfraquecimento progressivo. Marinho lembra que, embora o PSD possua expressivo capital político nacional sob o comando de Gilberto Kassab, a realidade goiana é outra. “O partido deu uma murchada. O Vanderlan não é uma pessoa de grupo, tanto que, com todos esses anos na política, tem dificuldade em pertencer a um”, analisa.
Marinho observa que a falta de articulação contribui para o risco de debandada. O estrategista político cita o caso de Ismael Alexandrino, que tem avaliado cenários mais competitivos para buscar a reeleição, já que o desempenho da chapa federal depende diretamente da estrutura construída pelo partido. Além disso, Marinho aponta que, embora Mendanha pudesse impulsionar votos numa composição para deputado federal, sua pretensão é o Senado, o que altera as expectativas.
Segundo o estrategista, a sigla enfrenta sérias dificuldades para montar chapas fortes para 2026. “Vejo falta de liderança efetiva no PSD. Se o partido não entregar resultados a Kassab nas próximas eleições, é provável que haja mudanças no comando estadual”, pontua. (Especial para O HOJE)