Entre Senado e Messias, Lula decide por eleitorado evangélico
A relação de Lula com a Casa Alta do Congresso pode ter azedado. Alcolumbre rompe contato até com o líder do Governo
O cenário atual não é positivo para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Senado é caracterizado por ser uma Casa que contém parlamentares mais favoráveis à gestão do petista. Porém, a conjuntura dos últimos dias apresenta o descontentamento de senadores e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), com a decisão do Palácio do Planalto de indicar Jorge Messias para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde o surgimento das primeiras conversas, ainda nos bastidores, em torno da possível indicação de Messias por Lula, observou-se o incômodo de Alcolumbre. O que o presidente do Senado esperava era a escolha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que possui experiência na área jurídica e foi um dos nomes mais cotados para atuar na Corte com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso.
Com a possibilidade de Pacheco se candidatar ao Governo de Minas Gerais e obter êxito, o entendimento é que Lula tende a perder considerável apoio de um dos maiores colégios eleitorais do Brasil, pois a partir da escolha de Messias para o Supremo, ao invés de Pacheco, é de se esperar que a relação do senador com o petista passe a esfriar.

Acesse também: Após polarização na Câmara, Senado quer reduzir carga política do PL Antifacção
Outro ponto que revela a instabilidade do contato entre Senado e Planalto é o anúncio de uma pauta com potencial de impacto bilionário sobre os cofres públicos, o que pode gerar grandes problemas para a gestão lulista. Trata-se da regulamentação da aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias.
Sob a perspectiva de Alcolumbre, “ao pautarmos essa matéria, reafirmamos que esses agentes são uma prioridade do Parlamento brasileiro”. “É uma boa notícia para o SUS, para o País e, sobretudo, para quem sustenta a saúde pública nas comunidades mais vulneráveis”, disse o presidente da Casa alta do Congresso, por meio de nota.
Rompimento de relações
Antes da escolha de Messias para o STF, Alcolumbre atuava como um dos principais aliados do chefe do Executivo no Congresso. Após a decisão de Lula, o presidente do Senado cortou relações até mesmo com Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo na Casa.
Formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, o advogado-geral da União, Jorge Messias, construiu uma trajetória marcada pela atuação técnica e pela proximidade com o núcleo político do PT, mas acredita-se que uma das principais motivações de Lula em indicá-lo para ocupar a vaga deixada por Barroso se dá por conta do interesse do petista em se aproximar do eleitorado evangélico.
No ano passado, o AGU participou de uma série de vídeos da Fundação Perseu Abramo, o centro de estudos políticos e de formação do PT, sobre “o que pensam os evangélicos petistas”. Esse gesto foi interpretado como tentativa de aproximar o partido de um eleitorado historicamente conservador.
Interesses eleitorais
“Vejo como parte do jogo a estratégia do PT e de Lula buscarem a recuperação eleitoral junto aos evangélicos. A esquerda sempre teve dificuldade de fazer a disputa nessa parte do campo religioso”, observa Pedro Célio, analista político e professor aposentado da UFG. Sabe-se que, em concordância com o cenário político eleitoral de 2026, torna-se indispensável a aproximação dos candidatos com diversos tipos de eleitores para garantir a ampliação de apoio vindo de diversas vertentes.
“Nas últimas eleições presidenciais, assistimos conteúdos teocráticos e fundamentalistas dominando boa parte das propagandas e propostas dos candidatos. As pesquisas que exploram possíveis cenários para 2026 indicam a necessidade de que os discursos progressistas rompam com as bolhas criadas pelas lideranças protestantes que hoje quase monopolizam as opções políticas de seus seguidores”, pontua Pedro Célio ao O HOJE. (Especial para O HOJE)