Caiado, como quase todo político e médico, descuida da saúde
Aos 76 anos, o governador tem rotina ultraestressante, trabalha 7 dias por semana, 20 horas por dia e cansa sua equipe 3x mais jovem
A rotina ultraestressante do governador Ronaldo Caiado, sem férias nem feriados, é acompanhada por três equipes de auxiliares com três vezes menos idade e que trabalha três vezes menos. Os jovens se revezam, inclusive os seguranças, mas o de 76 anos é um só. Nesta semana, teve de ir a hospital de São Paulo para ser atendido por sua cardiologista Ludhmila Hajjar, duplamente conterrânea de Anápolis. De novo. Mas desta vez com um adendo: terá de ser submetido a cirurgia. Caiado é médico e político, duas categorias preocupadas com a saúde alheia, nunca com a própria.
Quem já acompanhou profissionalmente constata como são brutais para o corpo e a mente as campanhas eleitorais e o exercício de mandatos de quem se dedica. Novamente, há três décadas, Caiado está nos dois polos, já passa das campanhas direto para a ocupação dos cargos. Com uma característica que faz seu bem-estar começar campanhas e mandatos perdendo por 5 a 0: Caiado concentra as atribuições. Ainda bem, para ele, que o vice-governador Daniel Vilela o tem representado em compromissos no Estado.
Antes, desde os tempos de deputado federal, apenas a esposa, Gracinha Caiado, discursava por ele em solenidades. A filha advogada, Anna Vitória Gomes Caiado, também ia a reuniões a que não tinha como chegar. No mais, é 100% ele. Ninguém fala em seu nome. Não manda recado. Não decide por intermediários. É assim nas fazendas, nos investimentos, na Chefia do Executivo e no partido (preside o União Brasil em Goiás desde os anos 1990, quando ainda era PFL).
Impossível a saúde suportar tanta pressão 20 horas por dia, sete dias por semana, 52 semanas por ano, todo ano, sem revisão da vida toda. Sua mais apreciada opção de lazer é passar uns dias na propriedade de Americano do Brasil, a 100km da Capital. Mas tem passado diversos verões sem visitá-la. Ali ficam as mulas de que tanto gosta, que o reconhecem de longe, animais imensos, mais altos que escada do Uno Mille. Trata cada com um carinho especial.
Os domadores são instados a conversar com elas, nunca aos gritos. Bater? Nem se levarem coice – ele próprio levou tombo de ser hospitalizado, quase morrer e o único animal de que reclamou foi dele mesmo. Quando vai às baias, passa horas (horas!) afagando-as, escovando-lhes a crina com os dedos, as mãos abertas deslizando sobre os imensos pescoços. Ali, é o momento em que se esquece da montoeira de deputados na sua cola pedindo obras, de prefeitos levando ao governo demandas que eles têm o dever de suprir, de aproveitadores de toda sorte levando azar ao palácio. Quer saber o resultado? Olhe o rosto de Caiado nas imagens de desfile de muladeiros, como os de Iporá e Goiânia. Se a felicidade existe, está naquelas expressões.
Quando não é mula, é cachorro. Nas fazendas, são contados às dezenas. Nos últimos sete anos, no Palácio das Esmeraldas e com as filhas estudando e empregadas em São Paulo, a quantidade de pets caiu. Mas quando Marcela e Maria moravam com os pais, o número de habitantes do apartamento, próximo ao Colégio Militar Vasco dos Reis, era enorme, os de quatro patas cinco vezes mais que os de duas.
Um hábito da família, fazer trilha em bikes nos arredores de Goiânia aos fins de semana, servia para aumentar a população da residência. Se encontrasse algum cachorro ferido ou com aparência de doença, a família interrompia o esporte (Caiado e Gracinha pedalavam mais de 50km no meio do mato) e levava o animalzinho a algum pronto-socorro com veterinário de plantão. Já estava adotado. Dentro das cidades, os olhos de Maria e Marcela não paravam: sempre atentas a algum bichinho precisando de acolhida. Já estava adotado.
Se é assim com mula e cachorro, imagine com criança… O tratamento é paternal. Algumas das proles da equipe da casa que ajudou a criar já são eleitoras. O passatempo predileto do governador, depois que suas meninas cresceram e criaram asas, como no filme “2 filhos de Francisco”, é brincar com quem os funcionários transportam para o trabalho. Em vez de as mães deixarem os filhos no próprio lar ou em creche, podem levar para o serviço que Caiado se encarrega de manter as despesas com Educação com a normalidade de que age assim por herança de pai e mãe.
No apartamento, havia um sofazão em frente à TV. Durante as sessões de desenho ou filme, ali ficava o casal de patrões, que ali nada mais eram do que crianças, a molecada e o canil audiovisual. Custa-se a crer que a autoridade nº 1 do Brasil no sucesso com a segurança pública é um homem gentil com crianças, pets e equinos.
Depois de irem para o governo, a agenda, que era apertada, ficou disforme. O autor destas linhas testemunhou as cenas narradas acima, mas não as viu se repetindo nos dois mandatos no Palácio das Esmeraldas, a residência oficial do governador de Goiás. Com a pré-campanha para presidente da República, em que do Estado do tamanho de um país passa a percorrer o país da imensidão de um continente, Ronaldo vai ter de se cuidar com rigor. Senão, a máquina humana dá sinais de desgastes.
O coração, abrigo de inocentes (os citados meninos filhos de funcionárias, cachorros achados abandonados e mulas de pelo alisável), precisa resistir. Antes, foram outras providências. Agora, vai ser a ablação, a cirurgia recomendada por Hajjar. Que seu sistema cardiológico seja posto à prova apenas na expectativa dos resultados eleitorais.
Tecnologia pode ajudar no combate ao desconhecimento
Pesquisas mostram que mais da metade dos brasileiros ainda não conhece o governador Ronaldo Caiado nem pouco nem muito. Mesmo assim, chega a empatar tecnicamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em simulações de 2º turno. Como a segurança pública é o maior problema do País, na opinião do eleitor, bastaria chegar a todos os cantos o relato do que Caiado fez em Goiás para acabar com a ladroagem e afugentar as facções. Antes de 2018, o único método para resolver esse porém era transformar conjunção adversativa em advérbios de lugar (aqui) e de tempo (agora). O pré-candidato precisava de um dom de que apenas Deus dispõe, o da onipresença – estar fisicamente em todo lugar a toda hora e o físico que se lascasse.

Ainda bem que a tecnologia resolveu essa questão. Em 2017, Jair Bolsonaro era somente um deputado federal do baixo clero, nunca havia administrado sequer o Açaí da Val em Angra dos Reis (RJ), 90% o desconheciam e quem conhecia não lhe confiaria a direção do País. No ano seguinte, foi eleito presidente da República. Caiado é bastante religioso, se apega com Deus para as decisões que vai tomar e os destinos a seguir. Atribui a chefia do Executivo federal, portanto, aos desígnios divinos. Porém, não existe algo mais significativo da presença do Senhor entre nós que a inteligência artificial. Então, com a facilidade para se tornar conhecido via celular na mão de todo mundo, Caiado está diversas fases à frente do Bolsonaro de 2017:
tem grupo político;
seu partido, o União Brasil, é desunido, mas formou com o PP o maior conglomerado do Congresso Nacional, com 109 deputados e 15 senadores, 1.335 prefeitos, 7 governadores, 12.443 vereadores, R$ 1 bilhão e 151 milhões (em 2024, vai aumentar para 2026) nos fundões eleitoral e partidário;
sua categoria é de grande capilaridade (líder de produtores rurais, foi um dos precursores da política classista, na União Democrática Ruralista, movimento no qual conheceu Gracinha Carvalho, com quem se casaria);
experiência vitoriosa na administração pública, sendo o governador nº 1 do Brasil desde o 1º mandato.
Como já foi publicado em O HOJE, Ronaldo Caiado está a uma frase de ser eleito presidente da República. Um ótimo slogan costuma dar uma forcinha ao destino. Pode ser sobre ter a melhor Educação do Brasil, nº 1 no Ideb. Pode ser sobre a segurança pública, que não prega a suavidade da narrativa exigida pelos institutos ligados a universidades públicas, mas resolveu a questão da criminalidade, o maior sonho dos moradores de RJ, SP, MG, PR, RS, BA, CE, MA, AM, enfim, do País todo.
Mesmo aos 40 anos de vida pública, Caiado ainda consegue se emocionar com suas realizações. A alegria que ele demonstrou ao chegar perto do portão do Cora, na inauguração do maior hospital oncopediátrico do interior do Brasil, era daquelas que apenas as crianças, os cães e as pessoas felizes conseguem exprimir.