União não honra sequer o próprio nome caso impeça candidatura Caiado
ACM, o original, era ligado ao governador de Goiás, assim como seu filho Luís Eduardo Magalhães, por isso ninguém acredita que Neto abandone o aliado
Diante dos comentários sobre ACM Neto e Ronaldo Caiado, é necessário contemporizar fatos e fake news em algumas linhas. Ou as notícias não são falsas. Acompanhe os personagens e suas histórias.
Antônio Carlos Magalhães era um nome de respeito na política nacional quando chegou a Brasília seu filho Luís Eduardo Magalhães, aos 31 anos, em 1987. Foi um sucesso total, pois manteve os amigos do pai sem acoplar os inimigos. Logo virou presidente da Câmara dos Deputados como havia sido chefe do Poder Legislativo na Bahia. Chegar à Presidência da República era questão de tempo, de pouco tempo.
Mas veio o inesperado: em abril de 1998, quando diversos partidos já se manifestavam favoráveis a LEM, mesmo com a então recém-aprovada emenda da reeleição de FHC, um infarto o matou. Enterrava-se ali a perspectiva de um liberal de verdade assumir a República, que continuaria com a esquerda até 2018, quando entrou Jair Bolsonaro.
Em 2003, ACM, original, tentou mais uma vez reunir a vontade de renovar a política brasileira. Levou ao Congresso Nacional o neto seu xará, que demonstrou vocação para o Legislativo, sem repetir o brilho do tio, até porque os tempos eram outros: o País estava sob comando do PT, no 1° governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Era mais parecido com o avô que com o tio, tanto que se revelou melhor prefeito de Salvador que parlamentar. Um dos primeiros amigos do ACM verdadeiro que ampararam o Neto no Congresso foi o então deputado federal goiano Ronaldo Caiado. Pareciam pai e filho, mais pela diferença de altura que pela de idade, Caiado 1,91m, Neto 1,58m. Por ser casado com a baiana Gracinha Carvalho, Caiado aumentou as idas a Feira de Santana, terra natal da mulher, e à capital baiana, onde mora Neto.
Está nalgum evento em Brasília, quer saber onde está o Neto? Localiza o Caiado, olha pro lado dele, abaixa as vistas, achou! Caminharam juntos também internamente no partido (PFL, DEM, União Brasil) e nas hostes da direita em todo o continente. Enfrentaram juntos o domínio dos catarinenses no PFL, dos potiguares no PFL/DEM e, por agora, Bivar/Rueda no União. Até que…
Até que começou a se divulgar que ACM Neto teria abandonado a pré-campanha de Caiado para presidente da República. O autor destas linhas esteve no lançamento do nome do goiano na Bahia, em abril deste ano. Pouco antes de o evento começar, havia o burburinho de que Neto não iria à cerimônia, cometendo grosseria maior que a do presidente nacional do União, Antônio Rueda. A ida dos políticos para o palanque demorou e dizia-se na plateia que o responsável pelo atraso era Neto. Este escriba tentou apurar. Só havia opinião, nenhuma informação. Mas ele acabou indo.
Agora, essa. Diz-se que Neto considera aderir ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pois seria melhor para sua segunda tentativa de governar a Bahia. Esse disse-que-disse interminável se fundamenta em outro exercício de futurismo, segundo o qual o desempenho de Caiado nas pesquisas derrubaria os índices de Neto em seu Estado.
Se Neto resolver agir com tal insanidade, o ACM original virá à noite puxar seu sapato de calcanhar extra. O que talvez turve a mente de alguns políticos, e não é o caso de Neto, seja esquecer as voltas que os dados dão. Ninguém diria, por exemplo, que o ultrafavorito ACM Neto perderia o Governo de seu Estado para uma figura tão pálida política e administrativamente quanto o que seu eleitorado chamava de Jeromo. Quem perde para um azarão chamado Jeromo não honra as tradições do avô, do tio nem do pai, que foi um senador de prestígio.
O que seria do partido sem candidato?
Além da ausência de ACM Neto, outro assunto fúnebre para alguns e alegre para outros é Ronaldo Caiado se encontrar na impossibilidade de continuar no União Brasil. O partido precisa ter candidato a todos os cargos, ainda mais quando seus líderes querem tentar baseados em princípios idôneos.
O UB é continuidade do PFL, que perdeu com Aureliano Chaves em 1989 e ganhou com Marco Maciel vice de FHC em 1994 e 1998. E nunca mais voltou ao Poder Executivo federal. Se não disputar em 2026, estaciona em outro sótão: o dos partidos que querem se esconder, não têm alternativas de políticas públicas a apresentar à sociedade ou seus quadros estão indisponíveis por falta de coragem.
Houve caso semelhante com o MDB, que perdeu com o goiano Henrique Meirelles em 2018 e a mato-grossense Simone Tebet em 2022. Sem mostrar ao País que dispõe de integrantes de alto nível, qualquer partido é um partido qualquer. Portanto, se o União prefere correr a concorrer, seu futuro é o de Pros para baixo.