Próximo passo da campanha de Caiado é manter a candidatura
Governador de Goiás é firme ao se recusar até a discutir a possibilidade de não concorrer ao Planalto, apesar de ser traído em sua sigla e de Tarcísio, que também enfrenta problemas, ser mais próximo dos colegas de direita
A quem ligou nos últimos dias para perguntar como estava a saúde, Ronaldo Caiado (União Brasil) respondia com o ânimo de sempre, mesmo após a cirurgia cardíaca a que foi submetido em São Paulo. A quem ligou para falar da candidatura presidencial, desconversou, falou de projetos, de articulações, menos do principal: manter de pé a pré-campanha ao cargo atualmente ocupado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Juntando trechos de conversas daqui e dali, tem-se um quadro menos animado que o governador. Seu desafio é manter de pé o projeto.
Caiado foi bastante traído pela federação União Progressista, o ajuntamento de seu partido, o UB, com o PP. No alto nível que se exige de fidelidade em algo tão importante quanto uma candidatura ao Poder Executivo, pessoas-chave piscaram, inclusive a principal delas, o ex-presidente nacional do DEM, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador. Deveria estar percorrendo o Brasil, sobretudo o Nordeste, em busca de apoios para o amigo – mal está conseguindo se virar com a própria vontade de ser governador da Bahia.
Outro entrave para o goiano é o tamanho de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o governador de São Paulo. De repente, não mais que de repente, ficou maior que o Estado nº 1 do País. Apesar das vitórias recentes de Caiado, as de Tarcísio também foram significativas. Seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, foi indicado relator das modificações legislativas para melhorar a tranquilidade na nação, jogando pesado com as facções. E a grande conquista política: os demais governadores parecem ter chegado à conclusão de o apoiar.
Quem sobrou na disputa
Romeu Zema (Novo de Minas Gerais) e Ratinho Jr. (PSD do Paraná) são, juntamente com Caiado, os que ainda permanecem na disputa com Tarcísio no campo da direita. Cláudio Castro (PL do Rio de Janeiro) teve um espasmo ao jogar duro com o Comando Vermelho, mas já voltou ao noticiário de costume e de costumes. Eduardo Leite (PSD do Rio Grande do Sul) se retraiu. O problema para Caiado é que Zema e Ratinho tendem a ficar com seu vizinho Tarcísio.
Pende para Tarcísio a fatia do Centrão que está fora do Governo Lula – e, olhe, ficou bem pouca gente para a oposição, pois até os partidos de Caiado, Ratinho e Eduardo participam com ministérios e tudo o mais. Pegou mal o fato de PP e União Brasil exigirem a saída de seus filiados e eles não deixarem o governo. Fragiliza as negociações com outros espectros partidários.
PT liberou até a Margem Equatorial
Lula escorregou para trás um pequeno trecho após as 117 mortes de bandidos em confronto com a Polícia no Rio de Janeiro, porém é mais um freio que uma ré. Ainda não se sabe como a sociedade vai reagir a esse novo PT, o que deseja aliar o proselitismo esquerdista com as necessidades de avanços econômicos. Liberou a exploração de petróleo na Margem Equatorial e deseja aprovar lei contra as facções, ao mesmo tempo em que explora o flanco da demagogia com bolsas, isenções, botijão de gás etc.. São programas sociais de que o Governo Caiado também dispõe, porém longe do alcance midiático conseguido pela administração central. Quem pode se aproximar dessa repercussão é ele, sim, Tarcísio.
O governador de São Paulo, como o de Goiás, tem problemas partidários: o Republicanos é dividido e a parte ligada à TV Record e Igreja Universal precisa a ponto de depender do governo. Sem anúncios, a emissora perde audiência para outras redes e a igreja não está mais aquela potência financeira. Por isso, é obrigada a se aliar ao Governo Federal. Portanto, Tarcísio é obrigado a deixar o partido. Pode ir para o PL? É um caminho, mas se quiser Michelle Bolsonaro de vice seria mais do mesmo, já que ela é presidente nacional do PL Mulher. A outra alternativa seria o União Brasil, onde está seu colega goiano.
Concorrentes também têm problemas, inclusive partidários
Para Ronaldo Caiado manter seu sonho de gerir o País precisa, então, superar a questiúncula partidária, convencer os demais governadores de direita de que tem chance e cavar debate na grande mídia. Se o certamente nacional fosse como nos Estados Unidos, com as decisões dentro dos partidos e, depois, abertas, as chances de Caiado aumentariam muito. É muito melhor para discutir temas que Zema, Ratinho, Tarcísio, Eduardo. Sobra sua figura, que inspira confiança e respeito, mesmo lhe faltando um grupo político – coisa que os demais também não têm, só Lula e Jair Bolsonaro se dão esse luxo.
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, é secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo. Ainda assim, seus filiados estão na equipe de Lula. Caso se defina que Tarcísio será o candidato ao Palácio do Planalto, imediatamente o PSD isola seus dois presidenciáveis e se fixa no chefe de Kassab. Por melhores que sejam as relações de Kassab e Caiado, e não eram tão boas quando ambos pertenciam ao PFL, existe um prêmio descomunal a ser leiloado com renúncia de Tarcísio: o governo paulista, no qual Kassab está de olho. Isso Caiado não consegue oferecer.

Resta o MDB, que também está no time de Lula, ingressar na pré-campanha presidencial de Caiado. O presidente nacional da sigla, Baleia Rossi (SP), deve estar ligado na expectativa de diversos companheiros loucos pela vice de Lula, ao mesmo tempo em que deve favores a Caiado, por ter atraído para sua chapa em 2022 e escolhido para 2026 um de seus quadros revelados na Câmara dos Deputados, Daniel Vilela. É impossível que ao menos essa consideração Baleia não tenha.
O PP, com dois cargos no 1º escalão do Governo Caiado, também se mostra independente, com o gargalo de seu presidente regional, Alexandre Baldy, ser amigão dos graúdos (o senador Ciro Nogueira e o deputado federal Arthur Lira) – com um detalhe: não tem poder de mando.
No fim das contas, Caiado mais uma vez está por sua conta e risco. Conhece o peso da decisão de não arredar da candidatura presidencial. Repete a quem pergunta: vai até o fim, não arreda pé, vai campear o cavalo que nunca passa arreado.