Aliança nacional entre MDB e PSL pode mudar composição política em Goiás
Apesar de irmanadas, as siglas enfrentam certos obstáculos nos palanques estaduais
Não restam dúvidas: está consolidada a aliança entre o MDB e PSL em âmbito nacional. Ambos os partidos, encabeçados por Baleia Rossi e Luciano Bivar, respectivamente, não só estreitaram os laços como já trabalham juntos na construção de um mapa nacional com foco em 2022.
A intenção por trás da aliança estratégica consiste em lançar uma chapa forte, capaz de protagonizar, quem sabe, a tão disputada ‘terceira via’ — abarcando, caso prospere, boa parte do eleitorado brasileiro que rejeita tanto a figura do ex-presidente Lula, quanto a reeleição de Bolsonaro.
O pontapé que resultou na aglutinação das siglas foi dado em um jantar no mês passado, em São Paulo. O responsável por reunir Rossi e Bivar no encontro foi o ex-presidente emedebista Michel Temer — tido, por sinal, como excelente estrategista. Nos bastidores, especula-se a possibilidade de pré-lançamento de candidaturas presidenciais próprias por ambos os partidos, de forma que, em um segundo momento, ambos possam convergir em uma única chapa.
Ainda no cenário nacional, os emedebistas tendem a apostar no nome da senadora Simone Tebet (MT) enquanto o PSL tende lançar José Luiz Datena (SP) na disputa. Contudo, o apresentador paulista já declarou sua preferência em concorrer ao Senado. Caso o anseio se concretize, o mais provável é que Bivar seja indicado à vice de Tebet.
Apesar de irmanadas, as siglas enfrentam certos obstáculos nos palanques estaduais. Em Goiás, especificamente, o deputado federal e presidente estadual do PSL, Delegado Waldir, garantiu em entrevista à reportagem do jornal O Hoje, que não houve qualquer imposição por alianças vinda de “cima para baixo”.
No entanto, comentou o que chamou de “excelente relacionamento” tanto com o Daniel Vilela, presidente do MDB em Goiás, quanto com o Gustavo Mendanha, liderança emedebista e prefeito de Aparecida de Goiânia. “Apesar de ainda ser muito cedo para se falar em alianças, estamos sempre dialogando”, declarou o federal.
É inegável a expectativa de uma ala do MDB que quer ver Daniel na vice do governador Ronaldo Caiado [DEM] em seu projeto de reeleição. Diante disso, uma das possibilidades — que paira no radar de Waldir — é a de compor chapa ao lado do emedebista e do democrata.
Caso o desenho se consolide, Waldir tende a alçar voo ainda mais alto na disputa pelo Senado. Fator determinante para isso seria, sem dúvidas, a proximidade com o MDB — agora, mais próximo do conchave caiadista. Em contrapartida, o PSL traria reforço considerável para a disputa que se aproxima. “Temos um tempo de TV robusto, fui, por duas vezes, o mais votado no Estado. Ou seja, não chegaremos de mãos vazias [ao governador]”, acrescentou o federal.
Ainda divididos
Em entrevista ao jornal O Hoje, o deputado Paulo César Martins (MDB) manteve sua posição ‘ácida’ em relação aos rumos tomados pelo partido em Goiás. Ele, que não enxerga com bons olhos a aproximação da sigla com a base do governador Ronaldo Caiado, disparou: “O governo atual não está conseguindo entregar suas promessas. Agora estão fazendo a mesma coisa da gestão passada, simplesmente passando um batom. É importante que façamos essa avaliação antes de qualquer decisão. Já dizia nosso líder Iris Rezende: ‘partido grande precisa ter candidato’”.
Já sobre um possível estreitamento com o PSL, o deputado se mostrou mais aberto. “É válida, mas a candidatura própria deve ser inegociável”, reiterou. “O MDB tem uma história e uma militância estruturada, mas acabamos perdendo o governo por falta de amadurecimento e diálogo. Temos homens e mulheres com força suficiente para serem eleitos. Mas ao meu ver, o caminho mais prudente seria o de estruturar uma candidatura própria. Essa continuará sendo a minha tese. Afinal, por que o governo insiste tanto em ter o MDB ao seu lado senão pela nossa força e história?”, indagou.
Contudo, o parlamentar defende não apenas um diálogo com a sigla comandada por Waldir. Para ele, é necessário que Daniel busque outras lideranças no Estado. “Dentre elas o Vilmar [Rocha] e o [Alexandre] Baldy, por exemplo. Não podemos depositar todas as nossas forças em algo simplista, puramente por barganha com o governo a troco de cargos”, acrescentou.
É justamente neste ponto, avalia o parlamentar, que Daniel Vilela tem pecado. “Vejo que ele tem mantido um diálogo unilateral. Precisamos avaliar as ações do governo, avaliar a bússola política e buscar mais da oligarquia Ludovico e menos da oligarquia Caiado, sinônimo, por sinal, de autoritarismo e arrogância”, pontuou.
Na contramão da estratégia de Martins, o emedebista Agenor Mariano chama atenção para o perfil “analista” do MDB. “Apesar do partido ter perdido as últimas eleições no Estado, já se observava, à época, os rumos de partidos como PSL e Democratas. E ainda seguimos observando o comportamento de ambos. O partido não pertence a uma única pessoa, temos que dialogar, mas na atual conjuntura, enxergo neste momento uma tendência de alinhamento com o governo”, observou. Para ele, Caiado tem correspondido às expectativas dos goianos.
A força emedebista, assim com vista por Paulo César Martins, também é enxergada por Agenor. Eles divergem apenas quando o assunto é o uso dessa “potência”. “Ao invés de caminharmos sozinhos, devemos convergir em uma aliança com todos aqueles que assim desejarem. O governador, por exemplo, tem demonstrado muito interesse em ter o partido com ele. Um dos processos de renovação do nosso partido é justamente o de não fazer política com ódio. Seguiremos pautados por saber reconhecer os acertos de outros grupos políticos também. As portas seguirão abertas”, declarou Mariano em sinal de que o atual cenário segue passível de mudanças.