Aprovação do PL Antifacção expõe crise entre Planalto e Motta
Derrota expressiva do governo na votação e escolha de Derrite para relatoria ampliam desgaste entre governo e Câmara
A aprovação do PL Antifacção na Câmara dos Deputados, com placar de 370 a 110, desencadeou uma crise entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). O desfecho da matéria evidenciou não apenas uma derrota legislativa, mas também o atrito no relacionamento entre Executivo e Legislativo.
Logo após a votação, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, admitiu que a derrota simboliza uma “crise de confiança” entre o Planalto e Motta, ao enfatizar que o presidente da Câmara havia tomado uma postura que muitos governistas consideram como “traição”.
A tensão se intensificou já durante a tramitação do projeto. A escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), licenciado como secretário de Segurança de São Paulo, para relatar o PL gerou indignação entre aliados de Lula. A decisão foi vista como uma provocação da Casa Baixa, especialmente porque Derrite é próximo ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

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Reação de Motta
Motta, por sua vez, reagiu às declarações. “O governo optou pelo caminho errado ao não compor essa corrente de união para combater a criminalidade”, escreveu o presidente da Câmara em publicação no X (antigo Twitter).
O episódio, porém, não é o único. Em julho, Motta pautou a derrubada de um decreto que aumentava o IOF, algo interpretado como outro gesto de insubordinação ao Executivo. Na época, o presidente da Casa afirmou que houve um consenso da Câmara com o Senado, em uma construção entre as lideranças partidárias, para derrubar o decreto do governo, a fim de evitar o aumento de impostos.