O tempo e o retorno ao ponto de partida

Confira o artigo, deste final de semana (26 e 27/06), por Manoel Rocha

Postado em: 26-06-2021 às 10h53
Por: Redação
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Confira o artigo, deste final de semana (26 e 27/06), por Manoel Rocha | Foto: Redação

As gerações que se sucedem em circunstâncias de tempo e espaço, podem ser consideradas como sendo “um outro povo” ou seria correto designá-las como uma continuidade imutável, linear? É dizer: Somos o que fomos e seremos o que somos? O que é, afinal, o tempo para a nossa existência, experiências, como partículas elementares na imensidão e desígnios da grandeza cósmica?

            Segundo o filósofo grego Aristóteles (384 a. C – 322 a. C), o conceito de tempo não passa de uma ilusão e é adstrito ao abstracionismo da alma. Para ele, o tempo e um número de “um movimento segundo o antes e o depois”. A minha perspicácia cognitiva, confesso, não tem a habilidade suficiente para compreender a profundidade do conceito aristotélico do tempo e tudo se complica ainda mais quando ele tenta explicar: “o tempo é o movimento enquanto possui um número. Como número, o tempo é o número numerado e não o número numerante”. Complicou!

            Para Albert Einstein, em sua clássica Teoria Geral da Relatividade, o espaço-tempo toma forma de maneira múltipla ou contínua, que poder ser visualizados como um espaço vetorial quadridimensional. Segundo o filósofo alemão, “a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. Talvez, daí, poderia se cogitar acerca de uma subteoria através da qual se buscaria uma compreensão sobre as repetições dos fenômenos – físicos, químicos, geográficos, espaciais, comportamentais, inclusive políticas e filosóficas.

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            Até uns quatro anos atrás, minha filha, que na época tinha uns 10 anos de idade, era fascinada em músicas eletrônicas e nessas melodias dançantes coreografadas por adolescentes, cujos encantos eram mais pela estética visual que em razão do talento artístico. Como os adolescentes são biológica, psicológica e socialmente “fronteiriços”, acredito que esse gosto musical funciona como uma delimitação “espaço-tempo” entre mim e ela, “separados” e “distanciados” por nossas preferências musicais e nossa natural impressão – pessoal, individual – sobre espaço-tempo. Curiosamente, passada essa fase etária, ela passou a conversar muito comigo sobre as músicas que eu ouvia quando tinha mais ou menos a idade que ela tem hoje. Atualmente, vejo-a absorta nas letras, nos acordes, nas mensagens de protesto e de utopias apresentadas nas músicas que eu ouvia e outras que ainda ouço, desde os anos das décadas de 1980 e 1990. Essa convergência entre parte do meu passado que se mescla com parte do meu presente com o presente de minha filha, cujo presente se remete ao meu passado, parece confirmar os elementos da teoria de Einstein sobre a ilusão tempo-espaço.

            O filósofo Bradford Skow, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), idealizador da Teoria do Universo em Blocos, sustenta que nós nos espalhamos pelo tempo da mesma maneira como nos espalhamos no espaço. Pare ele, não estamos localizados em um único momento. Ou seja, as coisas mudam, mas o passado não desaparece; ele simplesmente existe em diferentes partes do espaço-tempo.

            Se buscarmos ambientar essa teoria em alguns eventos da história recente, creio que seria possível compreendermos sobre nossas ilusões acerca do espaço-tempo e como os fenômenos com os quais nos deparamos podem não ser novidades, mas simples efeitos da rotatividade do Cosmos.              O planeta Terra pode ser uma ótima referência sobre a ilusão do futuro, passado, presente. O seu movimento de rotação, ou seja, em torno de seu próprio eixo, ocorre em sentido anti-horário, a uma velocidade média de 1669 km/h. A translação, ou seja, o movimento da Terra em torno do Sol (365 dias, 5 horas, 48 minutos) a uma velocidade de 107.000 km/h, é outra referência sobre a ilusão do tempo-espaço, considerando que os demais planetas, satélites naturais e o próprio Sol, acompanham os mesmos movimentos, em suas respectivas linhas orbitais e velocidades. O mais fascinante, entretanto, é o deslocamento de todo o sistema solar que, a 1 milhão de km/h, desloca-se na direção do centro de nossa galáxia, a Via Láctea. Essa viagem constante, ininterrupta, estonteante, leva-nos a pontos equidistantes, é certo, mas causa em nós a ilusão de tempo-espaço. Dentro de nossa “nave” apenas nos alternamos nessa viagem cíclica e de eterno retorno ao ponto de partida. Cabe a cada um de nós a construção de uma Ética Maior que nos prepare para o reencontro com nós mesmos, o que inevitavelmente ocorrerá; ainda que através dos nossos filhos que serão e viverão como os seus pais.

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