Reciclagem de lixo é 4 vezes inferior ao ideal

Comurg destaca que 28% do lixo poderia ser reciclado, mas número atual não passa de 6%

Postado em: 15-06-2021 às 07h52
Por: João Paulo
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Comurg destaca que 28% do lixo poderia ser reciclado, mas número atual não passa de 6% | Foto: Comurg/Divulgação

Apenas 6% do lixo que é recolhido em Goiânia é reciclado, de acordo com informações da Companhia de Urbanização da Capital (Comurg). O número poderia ser bem melhor, levando em consideração que os materiais recicláveis coletados nos domicílios é de 28,19%. De acordo com a Companhia, isso indica que boa parte do lixo é encaminhada de maneira inadequada ao aterro sanitário.

A engenheira civil especialista em Tratamento de Resíduos e assessora técnica da Diretoria Operacional Comurg, Renata Gonçalves Moura, destaca que o programa da coleta seletiva teve início em 2008 e, atualmente, atende 570 bairros da Capital. A coleta seletiva começou com a implantação dos Pontos de Entrega Voluntária (PEV).

“Semanalmente a coleta era realizada nestes pontos, por dois caminhões (tipo baú) da coleta seletiva, e os materiais eram encaminhados para as cooperativas de catadores conveniadas ao Programa. Atualmente temos três PEV’s instalados”, explica.

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Renata destaca que atualmente são 16 caminhões realizando a coleta desses materiais e sempre passando em dias diferentes do da coleta de lixo orgânico. Um estudo foi feito em 2019 para mostrar a porcentagem de materiais separados na fonte geradora. O papel é o mais reciclável, com 36,97%. Em seguida está o vidro (17,96%), plástico (13,20%), metais (3,59%) e embalagens de leite longa vida (2,35%).

Renata reconhece que o número ainda é baixo. “Esse número pode e deve ser melhorado. Atualmente a Comurg é responsável apenas pela operacionalização da coleta seletiva, isto é, coletar os materiais recicláveis separados na fonte geradora pela população e encaminhá-los às cooperativas e associações de catadores vinculadas ao PGCS, ficando sob a responsabilidade de outros órgãos municipais o planejamento e implementação das outras etapas relativas ao gerenciamento dos materiais recicláveis”, reforça.

Renata destaca que educação ambiental faz-se necessária para que mais pessoas se tornem mais adaptadas à separação do lixo. “Um trabalho contínuo de educação ambiental e a estruturação de um programa de coleta seletiva modificam o hábito da população no que se refere ao descarte de resíduos e à preocupação com o meio ambiente. O correto gerenciamento dos recicláveis prolonga a vida útil do aterro, reduzindo os custos com sua operação e manutenção. É importante lembrar que a seleção de novas áreas para a implementação de aterros sanitários não é tarefa fácil e envolve a análise de critérios técnicos, econômico-financeiros e socioambientais”, finaliza.

Sustentabilidade

A coleta seletiva é um processo defendido por muitos especialistas como uma forma de ajudar a cidade a se tornar cada vez mais sustentável. Porém, o biólogo Pedro Baima destaca que a principal parte desse processo começa a segregação do lixo de maneira inicial, seja dentro de casa, comércio, repartição pública ou indústria.

“É importante entender que a coleta seletiva pressupõe um sistema de gestão de resíduos onde, quanto mais segregado o resíduo for em sua origem, melhor será na questão de logística e sobre a restituição desse resíduo para a destinação final”, pontua.

Pedro elogiou o sistema de coleta seletiva e afirma que a Capital foi uma das precursoras de medidas que só se tornaram legais após a publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em 2010. “Goiânia conta com aterro sanitário desde 1982. Tem o sistema de coleta seletiva desde 2008. Ou seja, tudo isso já se cumpria antes da política ser sancionada. Então, o problema não está na coleta, apesar das suas limitações, mas sim em como esses resíduos são separados pela comunidade”, pontua.

Porém, ele reconhece que há um incentivo para que a população continue realizando esse trabalho de separação do lixo reciclável do orgânico. Para ele, o índice de 5% de lixo recolhido ser reciclado mostra que é um sinal de pouco avanço na questão sustentável. Segundo ele, é uma medida que pode contribuir para que mais pessoas adotem essa prática sustentável. “Pesquisas mostram que esse trabalho deve ser constante. Quando isso acontece, aumenta o nível de separação do lixo. Quando não é feito, volta a notar o aumento de lixo misturado para fazer a separação”, reforça.

Pedro destaca que a coleta seletiva também faz com que o processo de reciclagem fique mais barato. Ele pontua que esse processo impacta até na economia, pois apresenta novas formas de se fazerem produtos que acabam sendo descartáveis com muita facilidade. “A nossa economia é muito singular que contribuiu com a elaboração de produtos com descarte muito rápido. Por isso é importante a fomentação de cooperativas e valorização dos trabalhadores que fazem a coleta e separação desses resíduos”, sublinha.

O biólogo traz que outros pontos devem ser observados como a educação ambiental e a implantação de maquinários que ajudam na separação do lixo para que os resíduos possam ser melhor aproveitados. “Esse comportamento [ambiental] deve ser levado em consideração em todas as esferas. Colocar essa separação para ocorrer na entrada do aterro sanitário, caso não seja feita no início e que evite que materiais que sejam aproveitados acabem se misturando com outros resíduos não utilizáveis. Também deve ser feita uma industrialização desses produtos para que as cooperativas possam vender seus produtos de maneira mais independente”, finaliza.

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