Após mais de um ano, Cemitério Parque segue sem muro

Moradores já haviam reclamado para O Hoje sobre os problemas que o local sofria pela falta da proteção

Postado em: 03-09-2021 às 07h57
Por: João Paulo
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Moradores já haviam reclamado para O Hoje sobre os problemas que o local sofria pela falta da proteção | Foto: Jota Eurípedes

Após mais de um ano do início das obras, parte do Cemitério Parque, que fica no Setor Gentil Meirelles, em Goiânia, não conta com um muro e segue sem prazo para conclusão. Os trabalhos no local tiveram início em julho do ano passado com o pretexto da própria prefeitura de dar mais segurança e preservar a memória dos que ali estão sepultados.

A falta do muro no local propicia a ação de vândalos e o acúmulo de entulhos. Muitos populares destacam a falta de segurança e do desrespeito com os entes que foram sepultados no local. Por causa disso, a obra, que foi orçada em R$ 1,1 milhão, virou questão judicial, após o Ministério Público pedir que o muro e a calçada fossem feitos.

Em janeiro deste ano, o Hoje foi ao local e conversou com moradores da região sobre a situação do Cemitério, que já foi palco de mais de 200 mil sepultamentos. “Eles prometeram que iriam acabar o mais rápido possível e até hoje nada de finalizar com esse muro. Tem essa ‘lixaiada’ aí. As pessoas veem de outro setor e jogam o lixo tudo aí. A prefeitura não cata o lixo daí vai só acumulando. Lá para baixo tem muitos entulhos e até hoje nada. Só promete. E nada faz esse muro sair logo”, lamentou o encarregado de hortifrúti, Paulo Henrique Monteiro.

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A administração municipal ainda salientou que parte do serviço sofreu com as chuvas que caíram na cidade no início do ano. Em um dos pontos, pelo menos dois metros de construção caíram. Em outro lugar, a construção de parte da estrutura estava apoiada prestes a cair. Além disso, houve a reclamação da falta de materiais de construção e contaminação de colaboradores que atuavam para os trabalhos no local pelo novo coronavírus. 

Além da falta de muro, ele pontuou que a falta de segurança não é algo recente no local.  “Segurança zero. Ninguém zela desse cemitério. Já tem mais de 20 anos que moro aqui e antes disso os vizinhos já reclamaram que eram os mesmos problemas. A prefeitura promete cuidar, mas até agora nada foi feito que beneficiasse a população. Fala que vai ter GCM vigiando, mas vem de vez em quando”, reclamou.

A inconclusão do muro também foi apontada como fator que facilita o esconderijo de criminosos. “Os bandidos que roubam aqui correm tudo para o cemitério e vão atravessando tudo para dentro. Ninguém pega. Precisa melhorar a segurança do setor e fazer esse muro o mais rápido possível que estamos num lugar que fica a desejar sem essa obra. Está assim desde o ano passado e nada acontece para melhorar”, cobrou.

Calice Everson, que mora no Setor Granja Cruzeiro do Sul, também reclamou da demora na construção do muro. “Desde que derrubou o muro, causa medo na população. Tenho um amigo que não passa mais por aqui. Sempre passa por outro lado. Também tenho medo de passar por aqui à noite. O lixo atrapalha pelo mau cheiro. As pessoas jogam cachorros mortos, gatos, entulho. Está demorando muito para terminar de concluir esse muro. Faz mais de 5 meses que a obra está parada. Acho que vai demorar muito para concluir toda obra. Não acredito que vão concluir toda obra este ano”, destaca.

Desrespeito

O desrespeito com os entes que já se foram também agrava a dor dos familiares. Durante uma visita, a empresária Alessandra Rocha afirmou que a dor aumentou ao presenciar o descaso no local onde os pais foram enterrados. “Fui com o meu neto acender uma vela nos túmulos de meus pais e quando cheguei, as sepulturas estavam abertas”, relatou.

Emocionada, Alessandra conta que a imagem do abandono mexe com ela até hoje. “Depois desse dia sinto uma dor forte e constante na cabeça que não passa. Adoeci com esse desrespeito absurdo”, lamenta. Segundo ela, outras medidas devem ser tomadas, já que a construção do muro não inibirá a depredação dos túmulos, em seu ponto de vista.

“Aqui sempre foi desse jeito. A história que aconteceu comigo se repete com muitas pessoas que têm família sepultada no cemitério, falta segurança”. Alessandra diz que o cemitério é muito grande e carece de vigilância. “Qualquer um entra e faz o que quiser. Com esse muro não vai ser diferente”, lamenta.

Em resposta, a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs) destaca que a pasta teve “problemas de documentação da obra e empresa, decorrentes da gestão anterior. As documentações já foram reorganizadas e retornaremos com as obras em poucos dias.”

Drama da construção do muro do Cemitério Parque

À época do início da obra, o então secretário municipal de Assistência Social, Misair Lemes, disse que o muro deveria ter 2 metros de altura. “O cemitério tem uma área muito extensa. São quase 12 alqueires de extensão. Não só do ponto de vista da segurança, mas como o embelezamento da cidade”.

Ele garantiu que a obra era para garantir a legislação atual. “O que estamos fazendo é adequando à legislação atual, fazendo um calçamento com acessibilidade, onde também será contemplado ao lado uma pista de caminhada de 2 quilômetros em volta do cemitério que também servirão para questão da pessoa fazer exercício físico, praticar algum esporte e não apenas um calçamento irregular que era o que tinha aqui antes”, disse.

Proprietários reclamam de descaso

Proprietária de terreno no Cemitério Parque, Gabriela Mendonça, 35 anos, o marido e o filho de 4 anos foram recentemente ao local para visitar o túmulo de um parente e se depararam com vários túmulos abertos, caixões quebrados e mato alto. “Todos os anos vou ao Cemitério Parque, mas nunca vi uma situação como essa. Nem precisei andar muito para começar a ver túmulos quebrados, ossos expostos e mato alto. Fiquei indignada porque nem animais merecem passar por isso”, afirmou a vendedora.

Gabriela conta que foi difícil chegar ao túmulo que eles queriam, porque o filho começou a ficar com muito medo. “Percebi que ele começou a andar muito próximo a mim e também morder a camisa. Tive que falar que aqueles ossos eram de animais. Fiquei muito abalada com essa situação”, disse.

A costureira Thalita Fernandes e a irmã Carolina Fernandes sempre visitam o túmulo dos pais que estão enterrados no local há mais de 30 anos. “Para nós, aqui é um lugar de encontro. Nós sabemos que nossos pais não estão aqui fisicamente, mas é bom vir e relembrar tudo que vivemos”, diz Thalita.

Mas elas contam que uma vez foram ao cemitério e a placa com a foto do pai estava quebrada e uma dentadura em cima do túmulo. “Sabemos que muitas pessoas pulam o muro para usar drogas e fazer todo tipo de vandalismo. É muito triste viver essa realidade pervertida. As pessoas perderam o amor. Chamei meu irmão e arrumamos todo o túmulo. Acredito que a família precisa cuidar disso”, ressaltou Carolina. (Especial para O Hoje)

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