Quadrilha trocou até casa por vagas

Os 13 melhores colocados na primeira fase do último processo seletivo para delegado, em Goiás, foram os mesmos concorrentes que compraram as vagas

Postado em: 31-10-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Os 13 melhores colocados na primeira fase do último processo seletivo para delegado, em Goiás, foram os mesmos concorrentes que compraram as vagas

Marcus Vinícius Beck*

Quadrilha que atuava em fraudes de provas de concursos públicos e vestibulares foi alvo ontem (30) de operação da Polícia Civil, em Goiás.  O objetivo da força-tarefa, que cumpriu sete mandados de prisão até o fim da tarde desta segunda-feira, era combater captadores e aliciadores de organização que vendia cartões respostas dos processos seletivos. Inclusive, a quadrilha chegou a aturar em vestibulares da Universidade de Brasília.

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Segundo o delegado responsável pela Operação em Goiás, Murilo Mattos, os 13 primeiros colocados na primeira fase do último processo seletivo para delegado em Goiás foram os mesmos concorrentes que compraram as vagas. Estima-se que a prova, que está suspensa, seja anulada até o final das investigações. Os alvos da Operação vão responder à Justiça pelos crimes de fraude, corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. 

Em Goiás, foi preso André Luiz dos Santos Pereira, acusado de comprar vaga para um dos processos seletivos. Ele ainda está envolvido com o caso da moeda virtual Kriptacoin, que foi alvo de investigação da Operação Patrik, em setembro, que era suspeito de ter cometido o crime de pirâmide financeira. De acordo com o delegado, depois de envolver-se com a quadrilha, André passou a se interessar a ajudar Hélio Ortiz, que também foi acusado de aliciar outros candidatos. 

Os investigadores chagavam a cobrar, para as provas de vestibulares, entre R$ 80 mil e R$ 160 mil. Porém, já no caso dos concursos públicos, o valor chegava a ser até 20 vezes superior ao arrecado com o concurso das universidades. Segundo os policiais, antes de fazerem as provas, os participantes adiantavam uma quantia de R$ 10 a R$ 20 mil. Em seguida, quando já estivessem assumido o cargo – ou ingressado em instituições de ensino – pagavam o restante da quantia. 

Os participantes dos processos seletivos – ao receberem o gabarito – preenchiam as questões com a resposta correta. A incógnita, porém, é como os fraudadores conseguiram entrar nos locais em que aconteciam os concursos públicos. Até o fechamento desta reportagem, pelo menos 100 suspeitos estavam confirmados de terem participado do esquema. 

Vagas

Em troca de duas vagas, uma mulher deu uma casa avaliada em torno de R$ 800 mil, na Capital. O objetivo era duas vagas em concursos, que era uma para ela, e outra para a filha, que pleiteava o curso de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) – o mais concorrido da Universidade. Todavia, mesmo pagando, mãe e filha não conseguiram passar nos concursos. 

A polícia, ainda, crê que outros quatros alunos, que ingressaram no curso de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), compraram as vagas que estão cursando. Os investigadores trabalham com a hipótese de que os vendedores de vagas tentaram fraudar a última edição do Enem, que aconteceu no ano passado, usando ponto eletrônico. 

Segundo a polícia, em 6 de fevereiro deste ano, Ricardo Nascimento da Silva pegou os cartões respostas de ao menos 16 candidatos que haviam entregues os papeis em braço por orientação do esquema. Após preenchidos os 13 cartões, Ricardo os devolveu ao Cebraspe no dia seguinte, para digitalização e conferência de erros e acertos. 

Já os outros três cartões respostas não foram preenchidos por desacordo quanto ao pagamento entre aliciadores e candidatos, o que foi o motivo pelo qual não foram encontrados.  (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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