Dinheiro de coleta seletiva vira café

Brasil recicla apenas 3% de seus resíduos e perde R$ 120 bilhões por ano em produtos que poderiam ser reciclados, segundo associação

Postado em: 20-11-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Brasil recicla apenas 3% de seus resíduos e perde R$ 120 bilhões por ano em produtos que poderiam ser reciclados, segundo associação

Alessandra Curado*

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Segundo relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil gera quase 80 milhões de toneladas de lixo anualmente e só recicla 3% desse total. Com isso, o país perde R$ 8 bilhões por ano ao não aproveitar melhor os dejetos gerados em residências e estabelecimentos comerciais. Essas perdas podem ser ainda maiores, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que numa projeção realizada em janeiro deste ano, estimou que a  economia brasileira perde cerca de R$ 120 bilhões por ano em produtos que poderiam ser reciclados.

Caminhando ao contrário dessas estatísticas, o  Residencial Ecovillaggio Bela Vista, em Aparecida de Goiânia, tem não só dado a devida destinação ao seu lixo, como também tem ganhado dinheiro com isso. Em média, o condomínio arrecada por mês quase 250 kg de lixo reciclado. Além da contribuição com o meio ambiente, o lixo reaproveitável é vendido para cooperativas. O condomínio chega a arrecadar R$ 150 por mês com o lixo reciclado e esse recurso em dinheiro é destinado ao pagamento do café da manhã dos funcionários do residencial, que atualmente possui 800 moradores. 

Tudo isso tem sido possível graças ao sistema de logística da coleta seletiva projetado pelos engenheiros e arquitetos da Loft Construtora, empresa responsável pelo empreendimento. A construtora fez um espaço coberto dentro do próprio condomínio, com 50 m², para o armazenamento dos materiais recicláveis. “Quando projetamos o residencial, deixamos de converter em garagem para atender aos princípios de sustentabilidade do projeto. E deu certo”, conta o engenheiro responsável Gustavo Veras e diretor da Loft Construtora.

Atualmente, o depósito armazena o lixo reciclado por 30 dias antes de ser esvaziado, segundo informa o síndico do residencial, Alessandro Cândido. Além do galpão de armazenamento, em cada andar das torres está à disposição dos moradores dois tipos de lixeiras para segmentação dos resíduos, uma para orgânicos e outra para materiais recicláveis, como plásticos, metal e papéis em geral. O que mais arrecadou no mês de setembro, por exemplo, foi o papelão, 144 kg, seguido de garrafa pet, latas de alumínio e plásticos. “É claro que em vista do número de moradores, esse número pode aumentar a cada mês, é o que temos buscado enquanto administração do condomínio. Em nossas reuniões há sempre o reforço da importância da separação do lixo e, atualmente, estou renovando os adesivos das lixeiras para que o morador não se perca na hora do descarte”, afirma o síndico  do residencial Alessandro Cândido. 

A empresa que compra o material reciclado do condomínio é do microempresário Francinaldo Miranda, que atua no segmento há 15 anos em Goiânia e região metropolitana. O empresário conta que revende todo o material reciclado para indústrias de metal e papelão de Goiás e de São Paulo e garante o sustento da família com o lixo. “Trabalho com minha esposa e tenho quatro funcionários. Tudo sustentado com o dinheiro arrecadado com os reciclados. As pessoas precisam entender o quanto é importante separar o lixo, tanto para empresas que trabalham com isso quanto para nosso meio ambiente”, opina. (Alessandra Curado especial para O Hoje)  

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