Parque abandonado vira lixão

População de Senador Canedo tem de conviver com sujeira gerada pelas obras inacabadas. Prefeitura diz que obra não está paralisada

Postado em: 09-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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População de Senador Canedo tem de conviver com sujeira gerada pelas obras inacabadas. Prefeitura diz que obra não está paralisada

Marcus Vinícius Beck*

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Areia espalhada pelo chão, pedras amontoadas, sensação completa de descaso. Esta é a cena vista diariamente por moradores da Vila Galvão, em Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia. A sujeira tornou-se companhia de todas as horas, mas sua presença não é das mais agradáveis. A equipe de O Hoje esteve no bairro na tarde de ontem e constatou que as obras de construção de um espaço destinado a lazer estão paralisadas há um ano, tornando-se depósito de lixo e outros dejetos.

Mesmo indignada, a população que vive e tem seu comércio nas imediações do parque opta pelo silêncio com medo de represálias. “As obras estão paralisadas há mais ou menos um ano, porém nada tem sido feito e tudo o que vemos é essa sujeira”, relata a cabeleira Ana Claudia, 36, proprietária de um salão em frente ao parque e moradora do bairro há seis anos. “A promessa era de que teríamos um parque para lazer dentro de meses, mas essas coisas que envolvem prefeitura nunca saem no prazo”, lamenta.

Outros dois trabalhadores também relataram o mesmo fato à reportagem. Aposentado e morador da Vila Galvão desde a década de 1970, João Araújo, 72, disse que há dois anos vem ocorrendo problemas relacionados ao parque e suas obras que cismam em não terminar. “Diziam para a gente que o parque teria a função de oferecer lazer, qualidade de vida e momentos de felicidade”, conta. De acordo com ele, o sonho de ter um local apropriado para atividades físicas transformou-se em pesadelo. “Estamos nesse impasse”.

A única vez que a obra acelerou foi na semana que antecedeu o Natal, no ano passado. Depois do feriado, dizem moradores, o projeto retornou ao seu ritmo original: lento e inconstante. Ao mesmo tempo em que denúncias sobre a paralisação das obras no parque ocorrem, a equipe flagrou ainda mato alto em um lugar que deveria tê-lo aparado, ou pelo menos houvesse uma construção de concreto para facilitar o trânsito de pessoas pelo local.

Funcionários

A reportagem contou na tarde de ontem que três homens estavam trabalhando numa guarita que deve ser o local em que visitantes irão entrar no parque. No entanto, moradores e trabalhadores afirmaram que a velocidade dos trabalhos estão praticamente estagnadas. “Pior de tudo é que a prefeitura crê que nós somos burros”, reclama José Bonifácio, 34, que teve seu nome alterado por conta de futuras represálias.

No giro que a equipe fez nas imediações do parque, ficou claro que as obras estão completamente paradas, e o descaso reina na região. Além dos problemas elencados, outros também são visíveis e ganham força especialmente em época chuvosa. De acordo com a serviços gerais Maria de Jesus, 36, os focos de mosquito Aedes aegypti atingiram seu ápice durante o período chuvoso. “O problema maior é exatamente os casos de mosquito da dengue em meio à água totalmente marrom que há aqui”, diz. Atualmente, afirmou ela, a função do parque é proporcionar temor nas pessoas que moram no bairro. “Na verdade, é apenas para isso que o tal parque serve”.

A cabeleira Ana Claudia, 36, declarou que, para constatar a lentidão na velocidade da construção do espaço, basta no local alguns minutos no decorrer do dia observando o trabalho desempenhado pelos operários. “Eles ficam boa parte do dia construindo uma guarita, enquanto o parque está à míngua e pessoas que moram aqui quase imploram pela finalização das obras”, afirma.

Em nota, a Prefeitura de Senador Canedo disse que “a obra do Parque Ambiental da Vila Galvão não está abandonada, pois há equipes trabalhando.  O local tem sido executado por uma empresa, que ganhou uma licitação, e parte do empreendimento é realizado pela administração municipal. Houve demora porque há uma decisão judicial que está sendo aguardada de uma desapropriação de uma casa. O Parque Ambiental utiliza recurso do Fundo Municipal do Meio Ambiente, e terá o custo estimado em R$ 1,3 milhão, que serão utilizados na preservação de nascente, escola ambiental, playground, pista de caminhada e de ciclismo, equipamentos de ginástica e lago”.

Desigualdade

Emancipada politicamente do município de Goiânia em 1989, a cidade de Senador Canedo é um retrato da precariedade das chamadas cidade-dormitório. Mesmo com surto de industrialização nos últimos anos, o município ainda depende da Capital goiana e não é coisa de outro mundo ouvir queixas dos moradores acerca da ausência de serviços básicos.  

Município também enfrenta problemas no âmbito político 

O município de Senador Canedo não enfrenta problemas apenas de infraestrutura. No âmbito político, um impasse sobre a situação do atual prefeito da cidade, Divino Lemes, persiste há um ano e a população convive com o temor de que terá de ir às urnas a qualquer momento. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde o ano passado ameaça acolher os argumentos do vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, que pedem a renúncia do atual mandatário.

O pessedista, que governou a cidade de 1997 a 2004, teve o registro cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TER-GO) a pedido da coligação encabeçada pelo ex-prefeito Misael Oliveira (PDT) por ter sido condenado por improbidade administrativa. Porém, o TSE, em junho do ano passado, negou recurso e permite que o prefeito de Senador Canedo siga governando a cidade.

Na ocasião, o prefeito Janúcio Dantas afirmou que já estava que o resultado da decisão fosse favorável ao Tribunal. Ainda conforme ele, a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) foi dada por um ministro e, mesmo após recurso da PGE, ainda será avaliada por um colegiado. Enquanto a situação segue indefinida, Divino Lemes continua à frente do município.

Terreno

Durante o segundo mandato, o prefeito Divino Lemes doou uma área pública ao então vereador Vilmar Lima da Silva. À época, o terreno dele foi avaliado na casa de R$ 3 milhões. O Ministério Público (MP-GO) chegou a protocolar ação civil pública contra o chefe do executivo de Senador Canedo. Posteriormente, tanto Vilmar quanto outras duas pessoas acabaram sendo absolvidas. O ex-prefeito chegou a ser condenado em segunda instância à suspensão dos seus direitos políticos, virando, desta forma, ficha suja.

Dino recorreu da decisão monocrática do Napoleão Nunes Maia Filho, que permitiu ao pessedista tomar posse em janeiro. O Hoje apurou que o processo está na pauta do TSE para ser apreciado nos próximos dias.  O prefeito, através da assessoria de imprensa, informa estar tranquilo e que será considerado inocente. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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