Câncer de pâncreas entre na lista dos que mais matam no Brasil

Só entre 2011 e 2020, a taxa de letalidade de câncer de pâncreas subiu 53,9%, passando de 7.726 para 11.893

Postado em: 29-03-2023 às 07h56
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Câncer de pâncreas entre na lista dos que mais matam no Brasil
Centro-oeste está entre as regiões com maior incidência do câncer de pâncreas | Foto: Reprodução

Pela primeira vez, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) inseriu o câncer de pâncreas entre os 21 tipos da doença mais prevalentes no País. Em 2023, deverão ser diagnosticados 10.980 casos deste tumor agressivo, responsável por 5% das mortes por todos os tipos de câncer no Brasil. 

Só entre 2011 e 2020, a taxa de letalidade de câncer de pâncreas subiu 53,9%, passando de 7.726 para 11.893. Embora seja mais prevalente em homens, ele vem crescendo entre as mulheres, passando a figurar entre os 10 tipos de câncer mais comuns da população feminina das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

O fenômeno não ocorre apenas no Brasil. Um estudo estatístico publicado na revista da Associação Médica Americana projetou a incidência e a mortalidade por câncer nos Estados Unidos entre 2020 e 2040. A previsão é que, em 17 anos, o câncer pâncreas será o segundo mais letal, ficando atrás apenas do câncer de pulmão. 

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Entre as mulheres, o número de casos subirá 66% passando de 27 mil, em 2020, para 45 mil, em 2040. Neste mesmo período, o aumento da incidência entre os homens será de 65,5%, passando de 29 mil para 48 mil casos.

De origem multifatorial, o câncer de pâncreas está associado ao histórico familiar e fatores externos como obesidade, tabagismo, diabete e alcoolismo “O número de casos na população feminina está aumentando, porque as mulheres estão cada vez mais tendo um comportamento de risco para este tipo de câncer”, adverte a médica Mariana Bruno Siqueira, especializada em oncologia gástrica.

A doença

Dos casos diagnosticados de câncer de pâncreas, 90% são do tipo adenocarcinoma, que se origina no tecido glandular. A doença é mais comum a partir dos 60 anos. Segundo a União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), a incidência aumenta com o avanço da idade. 

Na faixa dos 40 anos a 50 anos, são registrados 10 casos a cada grupo de 100 mil habitantes. Entre os 80 anos e 85 anos, essa proporção sobre para 116 casos cada grupo de 100 mil pessoas.

Os principais sintomas são icterícia, fadiga, falta de apetite, perda de peso e dores no abdômen e nas costas. Quando eles se manifestam, a doença está em estágio avançado. O diagnóstico tardio e o comportamento agressivo fazem do câncer de pâncreas uma enfermidade altamente letal.

Para prevenir a doença, o melhor é levar um estilo de vida saudável, conforme aponta o oncologista Alexandre Palladino, médico do Hospital do Câncer do INCA. “Praticar atividade física, manter o peso apropriado e evitar o alcoolismo e o tabagismo são medidas que têm efeito protetor em relação a doença”, assevera o especialista. Não há exame capaz de detectar o câncer de pâncreas de maneira precoce.

Tratamento

A oncologista Maria de Lourdes Lopes de Oliveira, afirma que o tratamento do câncer de pâncreas ainda é bastante desafiador por ficar restrito, na maioria das vezes, ao tratamento sistêmico com quimioterapia convencional. Para outros tipos de tumor, é possível tratar com terapia alvo molecular e imunoterapia.

“No entanto, descobertas recentes da associação da doença à síndrome do câncer hereditário, provocada principalmente pela alteração do gene BRCA 1 e 2, e o uso de terapias para controle local de doença, como eletroporação irreversível (nanoknife), abrem alguma expectativa de novos caminhos na terapia do câncer de pâncreas”, declara a médica. 

Nas famílias com esta mutação, recomenda-se o rastreio para câncer de pâncreas. Pessoas que tiveram membros da família com este tipo de câncer devem consultar o médico regularmente.

Para a Mariana, apenas o diagnóstico precoce do tumor melhora o prognóstico da doença. “Apesar do contínuo trabalho no desenvolvimento de terapias mais eficazes para o câncer de pâncreas, avançar na detecção precoce é o que trará mais impacto no combate à doença”, ressalta.

A especialista destaca o estudo observacional PRECEDE (do inglês Pancreatic Cancer Early Detection) Consortium, lançado em 2020 para aumentar a taxa de sobrevida em 50% nos próximos dez anos. A pesquisa reúne pessoas com risco aumentado para o câncer de pâncreas por causa de fatores hereditários ou a presença de cistos pancreáticos. 

A expectativa é chegar aos dez mil participantes. A cada seis meses ou um ano os participantes são submetidos a biópsias e exames de imagens, a fim de identificar qualquer anomalia o mais rapidamente possível.

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