Violência na infância pode levar ao desenvolvimento de problemas na saúde mental

O transtorno de estresse pós-traumático, a depressão e ansiedade, são algumas das consequências que a violência contra crianças pode acarretar

Postado em: 01-04-2023 às 09h15
Por: Anna Letícia Azevedo
Imagem Ilustrando a Notícia: Violência na infância pode levar ao desenvolvimento de problemas na saúde mental
Em 2022, foram registrados pela Guarda Civil Metropolitana, 66 casos de violência contra crianças e adolescentes | Foto: Reprodução

A infância se trata de um período de desenvolvimento, nesta fase se inicia a construção das características que o indivíduo terá durante a maior parte da vida, e episódios de violência podem influenciar negativamente. Dessa forma, com objetivo de diminuir os cenários de violência infantil, o Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), lançou um working paper com a temática “Prevenção de violência contra crianças”. Isto, com o intuito de oferecer qualificação em programas de políticas públicas que impactam positivamente a vida de crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade social.

Nesse sentido, a delegada Doutora Caroline Borges Braga, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), afirma que, “quanto maior a vulnerabilidade, seja social, econômica, crianças sem o amparo familiar, essas têm o perfil de maior recorrência”. Assim, pontuando sobre a relação entre as condições psicossociais que implicam em um cenário de maior propensão a criança ou adolescente sofrer alguma forma de agressão. Dessa forma, no Brasil, conforme aponta o Anuário de Segurança Pública 2022, dentre as crianças de 0 a 11 anos que sofreram violência, 66,3% são negras. 

Além disso, os números também demonstram que o principal crime sofrido por aquelas que pertencem a faixa de idade de 0 a 17 anos, foi o estupro de vunéravel. Esse, também é o mais comum em Goiás e na capital, conforme informado pelo Secretário Executivo e Subcomandante da Guarda Civil Metropolitana, Danilo Cesar Fonseca Gomes, “Crime de maus tratos e abuso sexual são os mais recorrentes”. 

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Desenvolvimento Infantil

A iniciativa tomada pelo NCPI, é embasada em pesquisas e utiliza uma gama de profissionais diversos, para analisar e desenvolver as melhores práticas de proteção às crianças. Assim, considera os efeitos que a violência na primeira infância tem sobre o desenvolvimento do ser humano e de uma sociedade, a qual esse participa. 

Sobre isso, a Psicóloga Infantil e Neuropsicóloga, Camila Caetano, afirma que “A exposição a situações de violência na infância pode aumentar o risco de comportamentos violentos e agressivos na idade adulta. Isso ocorre devido à forma como o cérebro da criança se desenvolve em resposta ao estresse crônico e à falta de apoio emocional”. 

Como também pontuou que a violência pode afetar negativamente a estrutura e a função do cérebro, o que resulta em: “dificuldades no controle de impulsos, regulação emocional e resolução de conflitos”. Ademais, as crianças que estão em situação de violência podem desenvolver problemas de saúde mental. Nesse sentido a psicóloga pontua, o transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade.

 Entretanto Camila Caetano afirma que essas consequências não estão determinadas a todas as crianças em situação de violência. “No entanto, é importante lembrar que nem todas as crianças expostas à violência se tornam violentas na idade adulta. Fatores como a presença de apoio emocional e social, acesso a recursos e intervenções terapêuticas, e a capacidade de lidar com o estresse podem ajudar a proteger as crianças contra os efeitos negativos da violência”, ela explica.

Além disso, é substancial o cuidado devido com uma criança resgatada da situação de violência. A especialista em psicologia infantil pontua sobre, “é importante que ela seja cuidada por uma equipe de diferentes especialistas, como médicos, psicólogos e assistentes sociais”. Estes profissionais, têm a capacidade de avaliar o que aconteceu e verificar se a criança precisa de tratamento e qual deve ocorrer.

Dessa forma, Camila Caetano completa: “O acompanhamento é um processo contínuo que envolve a colaboração de muitos profissionais e é feito para garantir que a criança tenha acesso a todos os cuidados necessários para se recuperar e se sentir segura”. Sobre isto, a delegada, Drª Caroline Borges Braga, informa que a Polícia Civil (PC) encaminha as crianças e adolescentes encontrados nesta situação para os devidos destinos da saúde pública com habilitação para auxiliá-los com tratamento devido.  

Atenção aos sinais

A atenção dos familiares, professores e responsáveis às crianças é indispensável para a percepção de situações de risco a que elas possam estar expostas. O subcomandante Danilo Cesar Fonseca Gomes, pontua sobre os sinais que uma vítima pode apresentar: “Silêncio predominante; evasão escolar; mudança de comportamento e lesões aparentes; timidez excessiva ou medo excessivo e agressividade não habitual”.

Estas mudanças de comportamento podem ser observadas também por profissionais da educação, como professores que acompanham as crianças em seu dia a dia. “Os professores podem observar as crianças em busca de sinais de abuso e podem identificar comportamentos que indiquem que a criança está sendo vítima de violência ou negligência”, explica a psicóloga Camila Caetano.

Além das manifestações que as crianças e adolescentes podem apresentar, está a comunicação como principal apontada pelos profissionais de segurança e saúde mental. Essa é uma forma de promover um canal com a vítima para que ela sinta segurança em falar o que pode está acontecendo. Além de funcionar como forma de instrução também, o que promove a prevenção.

Para isto ocorrer, os professores, pais, ou responsáveis podem incentivar a comunicação entre as crianças. “Isso pode ser feito através de programas de conscientização sobre a violência infantil e do incentivo às crianças para falar sobre seus sentimentos”, explica Camila Caetano sobre como o ambiente escolar pode auxiliar as crianças a estabelecerem comunicação saudável. 
Em Goiânia, a GCM atua nas escolas por meio de programas como os anjos da guarda, para conscientizar os alunos sobre a prevenção primária contra a violência. Esta ação completa as operações realizadas pelas forças policiais no estado. Nesse sentido, a Drª Caroline Borges Braga, informa que a DPCA, conta com uma equipe especializada para mitigar os casos de violência infantil.

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