99% dos incêndios no cerrado goiano são provocados pela ação humana

Período de estiagem gera preocupação por Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás

Postado em: 23-05-2023 às 08h15
Por: Larissa Oliveira
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Período de estiagem gera preocupação por Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás | Foto: Divulgação

De acordo com levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBMGO), entre os meses de janeiro e abril de 2023, foram realizados 23 atendimentos de incêndios florestais. No ano passado, durante o mesmo período, 794 casos já haviam sido registrados pelo CBMGO. Entretanto, o órgão afirma que a maior preocupação começa a partir deste mês de maio, devido ao período de estiagem característico do clima goiano.

Segundo a Tenente do 8° Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, Vanessa Furquim, a maior incidência de chuvas deste ano é o fator preponderante para o menor quantitativo de queimadas. “Nos primeiros meses deste ano, houve poucos casos de incêndio florestal. Nossa preocupação é o período de estiagem que começa a partir do mês de maio, quando a temperatura aumenta e a umidade diminui, fatores que favorecem a propagação dos incêndios”, afirma.

Ao todo, foram registrados 6873 incêndios florestais em 2022. Do total, cerca de 75% das ocorrências foram entre os meses de maio e agosto. O ápice foi no mês de julho, que teve 1820 casos. O CBMGO informa que os incêndios florestais no Cerrado ocorrem, geralmente, nos períodos de estiagem, estando, intrinsecamente, relacionados à redução da umidade. Contudo, a vegetação dominante no Estado de Goiás, a milhões de anos, vem adaptando a estrutura de sua flora para superar e suportar alguns fenômenos. 

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Cerrado

Conforme o Manual Operacional dos Bombeiros para Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, a vegetação do Bioma Cerrado é caracterizada, principalmente, por gramíneas, arbustos e árvores esparsas. O clima nas áreas cerradeiras apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Seus solos distinguem-se pela deficiência em nutrientes e pelos altos teores de ferro e alumínio. Estes abrigam plantas de aparência seca, sendo, na maioria, arbustos esparsos sob uma manta de gramíneas. 

Além da riqueza vegetal e animal do Bioma Cerrado, o CBMGO afirma que seu subsolo armazena reservas significativas de água doce, com destaque para o aquífero Guarani, o maior do mundo, e as nascentes das bacias hidrográficas Amazônica, Paraná e do São Francisco. Estima-se que 10 mil espécies de vegetais e várias centenas de espécimes de aves e mamíferos vivam no Cerrado. Contudo, esta biodiversidade está seriamente ameaçada por práticas criminosas de caça, uso inapropriado dos solos e pelas queimadas. 

Segundo o CBMGO, originalmente, o Cerrado ocupava uma área de aproximadamente 2,5 milhões de quilômetros quadrados (m²). Nos últimos 30 anos, o Bioma sofreu intensas transformações. Neste período, novas formas de produzir comprometeram a diversidade ambiental deste Bioma. Lavouras, pastagens, hidrelétricas, reservatórios e áreas urbanas se expandiram, ocupando 53% da cobertura original do Bioma Cerrado. Ainda segundo o CBMGO, este fato serviu de alerta às organizações ambientalistas. 

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, a principal ameaça que acomete este bioma são as práticas de queima, principalmente aquelas não autorizadas. Esta prática é muito utilizada durante o período de estiagem que se estende entre o inverno e primavera. Com o intuito de produzir um fertilizante natural por meio das cinzas ou mesmo para renovação de pastagens ou para obtenção de carvão, entre outros objetivos, esta técnica pode resultar em graves desastres ambientais.  

Razões

Furquim afirma ainda que a situação dos incêndios florestais no Cerrado é agravante. Conforme ela explica, os números revelam que 80% da biodiversidade do Bioma sofreu alterações na fauna e flora. “O uso de técnicas predatórias, baseadas no uso do fogo, provocou inúmeros incêndios de proporções consideráveis, desestabilizando as adaptações constituídas pelo Cerrado para suportar a ação do fogo”, enfatiza.

Segundo Vanessa, os Incêndios florestais ocorrem, geralmente, por causa humana. 

“Apesar de todos os projetos e ações de conscientização, 99% das ocorrências de incêndios florestais são provocados pela ação humana”, afirma. A tenente explica que muitas pessoas colocam fogo em pastagens para retirar a vegetação e, muitas vezes, não conseguem controlar e desencadeiam um incêndio. “Diferente da queima controlada, que consiste numa prática agrícola em que o fogo é utilizado em uma área predeterminada, atuando como um fator de produção”, conclui.

O CBMGO classifica incêndio florestal como sendo todo o fogo sem controle que incide sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser tanto provocado pelo homem ou por causa natural. “Algumas plantas do Cerrado dependem do fogo para germinar, mas os incêndios por causas naturais são poucos”, relata a tenente do 8° Batalhão. Segundo ela, a maioria dos casos registrados são desencadeados pela ação humana em áreas públicas e particulares ou em áreas protegidas.

Consequências

Vanessa Furquim enfatiza os sérios prejuízos causados não só aos ecossistemas do Bioma Cerrado, mas também à vida em sociedade. “Os incêndios geram a perda de biodiversidade, da fauna e flora, mas pouco se fala sobre os malefícios aos seres humanos. Há impactos sociais, como perda de bens, e na saúde pública. A fuligem gerada pelo fogo afeta diretamente as vias respiratórias, provocando quadros inflamatórios e agravando doenças como asma, rinite, sinusite e outras patologias”, afirma.

Em virtude do aumento de incêndios durante o período de estiagem do Bioma Cerrado, Vanessa afirma que foi desenvolvido o projeto Cerrado Vivo. “É a maior operação de prevenção e de resposta a incêndios florestais. O projeto do CBMGO começou em fevereiro e se estende até outubro, quando as chuvas começam a voltar”, descreve. As ações são realizadas pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD).

Segundo a tenente do 8° Batalhão, o objetivo dessa iniciativa conjunta é estabelecer medidas eficazes de prevenção a incêndios florestais, além de desenvolver as melhores estratégias de combate, caso seja necessária a atuação dos bombeiros. “A operação consiste em levantar informações estratégicas que possibilitarão um melhor planejamento e atuação dos bombeiros no combate aos incêndios florestais”, explica.

Denúncias

Nos casos de incêndio florestal, a tenente Vanessa ressalta a importância de acionar o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBMGO), através do número 193. “Para denunciar, basta acionar o CBMGO para combate. Mas também é possível denunciar na Linha Verde da Semad, no Disque-denúncia 0800-646-2112, ou ao órgão ambiental municipal de Goiânia, a Agência Ambiental do Meio Ambiente (AMMA), no Disque-denúncia (62) 3524-1408 “, explica. 

Vanessa também ressalta a possibilidade de acionar a Polícia Militar, pelo 190, em casos de crime. “As pessoas que colocam fogo na vegetação precisam ser punidas legalmente e também para servirem de exemplo aos demais, pois se trata de um crime e é a razão que mais provoca incêndios”, esclarece.

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