Romaria do Divino Pai Eterno tem história ligada à tradição familiar

Com o tema “O Pai Eterno nos chama e envia”, a Romaria do Divino Pai Eterno 2023 inicia nesta sexta-feira (23) e vai até o dia 2 de julho. Este ano, o evento está em conformidade com o 3º Ano Vocacional do Brasil.

A festa que ocorre tradicionalmente em Trindade (GO), cidade que ficou conhecida como a Capital da Fé de Goiás, reúne todos os anos milhares de devotos e acontece sempre no primeiro domingo de julho. Ao todo são dez dias de festa, onde os fiéis participam de cerca de 100 missas e mais de 46 novenas, além de procissões, batizados, vigílias, alvoradas e confissões.

Em entrevista ao jornal O Hoje, o secretário de cultura e turismo de Trindade, Warley Lopes, relembra o surgimento e contexto histórico da Romaria. “O evento teve início em 1840 a partir de um casal de lavradores conhecidos por Ana Rosa e Constantino Xavier que encontraram um medalhão com a imagem da coroação de Virgem Maria pela Santíssima Trindade, às margens de um córrego no arraial de Barro Preto, como era conhecida a cidade de Trindade na época”. 

A partir disso, iniciou um movimento de devoção à figura do Divino Pai Eterno, por parte do casal, que começou a compartilhar a fé também com os vizinhos e gradativamente, se expandia e levava mais fiéis à região onde foi encontrado. Consequentemente eles sentiram a necessidade de construírem uma capela para que as reuniões e orações fossem realizadas. Posteriormente, iniciou-se a construção da Igreja Matriz nas mediações do local onde foi encontrado o medalhão.

Tradição familiar

Atualmente a celebração da fé é o maior evento religioso do Centro-Oeste e foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, por sua relevância como referência cultural e representatividade da vida rural.

De acordo com o secretário, este é o ano do grande retorno da Romaria após o fim da pandemia decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A expectativa da organização é que cerca de 3 milhões de pessoas participem da festa durante os dez dias. 

A aposentada Magali Taveira Afonso, de 63 anos, participa da festa desde quando era criança. “Desde que me entendo por gente, que participo da Romaria. Naquele tempo as barracas eram feitas de lonas ou de pano americano. A gente andava de carro de boi, de caminhão, de gaiola e de a pé”, relembrou.

De acordo com a aposentada, ela e seus familiares sempre participaram da festividade e já receberam diversos milagres concedidos pelo Divino Pai Eterno. Hoje, Magali mora em Araguaína (TO), mas garante que participará da Romaria e espera que o evento seja “muito bom”.

Ao longo da Rodovia dos Romeiros (GO-060), os fiéis percorrem aproximadamente 18 quilômetros (Km) a pé, trajeto que liga Goiânia e Trindade, até a chegada ao Santuário Basílica.

Carros de boi

Em Goiânia muitos devotos do Divino Pai Eterno já se preparam para iniciar o percurso de 18 Km da saída da capital até a Basílica de Trindade. Os carreiros também começam a se preparar meses antes da festa, treinando os animais que puxam os carros de boi, e organizando todo equipamento de acampamento nas fazendas pelo caminho.

Há mais de 60 anos, o carpinteiro João Modesto cuida da manutenção dos carros de boi para que nada saia errado. “Se colocar uma madeira que não presta, que é muito dura, [o carro de boi] não canta não. Tem que ter uma madeira macia. Quanto mais macia, melhor”, disse.

Um projeto de lei instituído em 15 de setembro de 2016 reconheceu a Romaria de Carros de Bois como Patrimônio Cultural Brasileiro. Segundo o pároco de Trindade, missionário redentorista padre João Bosco de Deus, os carreiros foram os primeiros a peregrinar até a Capital da Fé de Goiás.

A prefeitura de Trindade preparou um espaço para acolher os carreiros durante os dias de festividade, trata-se da Pastoral dos Carreiros que visa acompanhar as pessoas que desde o início da caminhada até o retorno para casa. Neste ano o desfile dos carros de bois será realizado no dia 29 de junho.