Jóquei Clube segue sem futuro após ter vendas suspensas

Fundado em 1938, o local já foi o principal ponto de encontro da sociedade goianiense. Primeiro Clube de Goiânia teve em Pedro Ludovico Teixeira seu primeiro presidente

Postado em: 06-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Fundado em 1938, o local já foi o principal ponto de encontro da sociedade goianiense. Primeiro Clube de Goiânia teve em Pedro Ludovico Teixeira seu primeiro presidente

Gabriel Araújo*


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Após ter sua venda suspensa devido aos débitos com a administração municipal, o futuro do Jóquei Clube segue sem uma definição. Local histórico de Goiânia, o clube foi o primeiro a ser fundado na nova Capital, mas enfrenta o abandono da população e dívidas na casa dos R$ 40 milhões.

A atual administração do Jóquei Clube de Goiás ainda não encontrou uma solução para os graves problemas financeiros e se vê sem opções. No início do segundo semestre de 2017, foi noticiado que a área da sede social, localizada na Av. Anhanguera e Rua 3, no Centro, estava a venda e em fase avançada de negociações com a Igreja Universal e empresários do ramo atacadista.

Com isso, a Procuradoria Geral do Município de Goiânia (PGM) entrou com um pedido de suspensão da venda devido à falta de garantia no pagamento de dívidas relativas ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A Justiça aceitou o pedido e expediu uma ordem judicial que impede a aquisição do imóvel que abriga a sede do Jóquei Clube de Goiás por qualquer outra pessoa física ou jurídica. 

A suspensão da venda é válida enquanto o clube tiver dívidas com o Município. De acordo com a decisão a Justiça entendeu que a transferência da propriedade poderia caracterizar fraude à execução fiscal.

Logo após o anúncio da possível venda, a conselheira federal por Goiás do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) Lana Jubé, lembrou o valor da construção, que é obra de um dos mais prestigiados arquitetos brasileiros atualmente. “É um direito deles venderem, mas ali temos uma constituição de paisagem do Centro da cidade que deve ser preservada, pois a sede do clube é uma obra de altíssima qualidade e vale mais que o próprio terreno. O valor patrimonial e histórico é inimaginável”, contou.


O clube

O local, hoje utilizado como sede social do Jóquei Clube, era sede do Automóvel Clube de Goiás, que foi fundado em 1938 e tinha um edifício de feições neocoloniais construído para receber reuniões do clube, festividades e atividades recreativas desenvolvidas para o público associado. 

Pouco depois da fundação, a instituição mudou seu nome para Jóquei Clube de Goiás e já havia se tornado um dos principais pontos de encontro da população, sendo usado como salão de festas e eventos, além dos famosos carnavais e outras comemorações.

Com o crescimento da Capital, que durante os anos de 1950 ultrapassou sua capacidade projetada, a administração decidiu ampliar o local para que a instituição pudesse se adaptar aos novos tempos. Em 1962 foi anunciado um concurso nacional para a contratação de um arquiteto que seria responsável pelo desenvolvimento do projeto da nova sede do Jóquei Clube. 

O vencedor foi o capixaba Paulo Mendes da Rocha, hoje um dos mais respeitados arquitetos brasileiros, que criou a nova sede em três pavimentos, sendo o térreo destinado à cozinha do restaurante, salão de festas, sauna, quadra poliesportiva, vestiários e acesso ao bosque preexistente. O segundo pavimento era destinado às piscinas e a um restaurante com salão de jogos, enquanto o último pavimento seria destinado a um bar.

Após a construção da nova sede, o Jóquei se confirmou como um dos principais pontos de encontro da população da cidade, onde oferecia opções de lazer e esporte, como basquete, tênis e natação. Com o passar dos anos e as mudanças vividas pela Capital, locais históricos como o Grande Hotel, o Jóquei e o Cine Ouro passaram por dificuldades em atrair a população. Diversos cinemas no centro desapareceram, o Grande Hotel precisou ser transformado em museu para se manter preservado e o Jóquei Clube acabou abandonado pela população.


A capital

Goiânia foi fundada em 24 de outubro de 1933, quando Pedro Ludovico Teixeira, interventor federal nomeado pelo então presidente Getúlio Vargas, que lançou a pedra fundamental da cidade. Quase dois anos depois, em agosto de 1935, foi assinado o decreto estadual 327, que criou oficialmente o município de Goiânia, para o qual foi efetuado a transferência da Secretaria Geral, da Secretaria do Governo e da Casa Militar no final do mesmo ano.

A Capital foi construída no território do atual Setor Campinas, que até 1935 era um município autônomo e completa 208 anos hoje, sendo 123 anos mais velho que a Capital. Campinas surgiu como um povoado em 1810, passou à arraial após a vinda mineradores que buscavam ouro às margens do ribeirão Anicuns e foi elevado a categoria de vila apenas em 1907, sendo território de jurisdição do que atualmente é a cidade de Trindade. 

O setor passou a ser município em 1914 e, quando foi decretado à nova Capital, foi anexada como bairro residencial. O atual setor sofreu com o crescimento populacional que logo ultrapassou o planejamento inicial de 50 mil pessoas para toda a cidade. As décadas seguintes, entre 1950 a 1970, foram o ponto inicial do acelerado processo especulativo imobiliário, com um grande fluxo de pessoas saindo da zona rural e passando a morar na cidade, e do rompimento com o projeto arquitetônico de Goiânia.

No início da construção da cidade, o governo estadual buscou opções para trazer a população e transformar o canteiro de obras em uma capital. A venda de lotes a baixo custo e a promessa de enriquecimento com novos empregos e oportunidades foi um dos principais meios utilizados pelo Estado para atrair a população.

O centro da cidade é o ponto mais antigo e, mesmo passando por diversas mudanças ao logo dos anos, como a implantação de asfalto, construção de prédios e a chegada e saída de seus moradores, ainda possui características históricas. O Grande Hotel ainda está de pé e hoje é um museu voltado para sua história e, consequentemente, a história de Goiânia. A principal avenida da cidade, Avenida Goiás, ainda é a mesma, claro que com algumas alterações que buscaram adaptá-la à maior população. 


O Patrimônio

A Capital possui edifícios e uma região tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Museu Professor Zoroastro Artiaga, construído em 1942 pelo engenheiro polonês Kazimiers Bartoszevsky para sediar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o conjunto Arquitetônico e Urbanístico Art Déco do Centro da cidade e o Centro Cultural Oscar Niemeyer são apenas alguns. Além disso, a prefeitura também possui locais tombados como patrimônio histórico e cultural, são casos da Antiga sede do Fórum e da Prefeitura Municipal de Campinas e do antigo Palace Hotel.

Um dos edifícios históricos mais emblemáticos da Capital é a antiga Estação de Trem, que está localizada próxima à rodoviária de Goiânia e está passando por um processo de reforma total. O local foi inaugurado em 1950 e funcionou até a década de 1980, recebendo trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz. Ela é um dos mais importantes edifícios representativos do acervo arquitetônico e urbanístico Art Déco de Goiânia, tombado pelo Iphan desde 2002.  O pavimento central do edifício possui dois relevantes afrescos de autoria de Frei Nazareno Confaloni, pintor e muralista, reconhecido como pioneiro da arte moderna em Goiás.

Tombado em 2003, o Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia é um dos mais importantes e representativos do mundo. O conjunto possui 22 edifícios e monumentos públicos, concentrados no Centro da cidade. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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