Poluição de automóveis deixa a qualidade do ar regular na Capital

Capital tem qualidade do ar regular causada pela poluição de automóveis, indústrias e queimadas. De acordo com a Secima, baixa quantidade de chuvas piora índices

Postado em: 28-08-2018 às 06h00
Por: Fabianne Salazar
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Capital tem qualidade do ar regular causada pela poluição de automóveis, indústrias e queimadas. De acordo com a Secima, baixa quantidade de chuvas piora índices

João de Assis Coutinho afirma que não tem como fugir da poluição da Capital. (Foto: Wesley Costa)

Gabriel Araújo*

O Estado possui apenas dois medidores da qualidade do ar em Goiânia. Conforme informações da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), os medidores foram instalados na Praça Cívica e na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e analisam apenas dados regionais.

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De acordo com o técnico ambiental da secretaria, Hernando Soares, o medidor mais antigo data de 2012, enquanto o medidor próximo à Praça Universitária foi instalado este ano. “Claro que seriam necessário mais medidores para se ter uma visão melhor das condições na Capital, mas a partir destes instalados já podemos entender melhor como está o ar nas regiões mais movimentadas”, conta.

Segundo ele, os medidores recolhem dados sobre poluentes, que deve ser analisados em acordo com a umidade do ar. “Os medidores constatam dados quanto à quantidade de partículas totais por metro cúbico de ar. Nesse caso, observamos os tipos de partículas para entender as origens da poluição. No momento atual, por exemplo, observamos que os índices aumentam devido a maior quantidade de queimadas, mas existe também a questão da falta de chuvas, que geralmente ajudam a limpar do ar essas partículas”, completa. 

De acordo com a Secima, os índices atuais de poluição são considerados regulares, o que já pode interferir na respiração de pessoas do grupo de risco, como crianças e idosos. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) determina que os índices sejam divididos em três. O primeiro vai de zero à 40μg m3 (microgramas por metro cúbico de ar) e é considerado bom, enquanto o segundo parte de 41μg m3 até 120μg m3, que é o máximo determinado pela lei estadual e é considerado regular. Acima disso os índices são ruins e a interferência na respiração humana é alta, quando as pessoas são mais suscetíveis à doenças respiratórias”, conclui Soares.

A Capital cresceu muito além dos 50 mil habitantes previstos e a utilização de veículos é o meio de transporte mais utilizado em toda a região, que não conta com um sistema de trem e metrô, portanto a fumaça gerada na combustão dos motores já é algo comum no dia-a-dia do goiano.

Próximo ao Terminal da Praça da Bíblia, um dos locais mais movimentados da Capital é possível perceber a fumaça preta que sai dos escapamentos de veículos de pequeno à grande porte. Enquanto isso João de Assis Coutinho, 61 anos, lembra ao O Hoje a constante sensação de poluição. “Acho difícil às vezes sentir, mas não tem como fugir da poluição. A gente sabe que é ruim, sabe que esses caminhões e ônibus poluem bastante, mas não dá pra fazer nada”, conta.

Legislação

Em outubro de 1978 foi criada a lei de controle de poluição em Goiás, denominada de Lei nº 8544. De acordo com a legislação, foi estipulado a criação de um sistema de prevenção e controle da poluição do meio ambiente. 

Conforme o texto, a poluição ao meio ambiente considera o lançamento ou a liberação nas águas, no ar ou no solo, de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, em quantidade de concentração ou com características em desacordo com as que forem estabelecidas em lei, ou que tornem ou possam tornar as águas, o ar ou o solo impróprios.

O texto ainda determina multas e aplicações jurídicas para as empresas ou pessoas que burlarem as definições ambientais da legislação. Sobre a poluição do ar, fica estabelecido que os índices não podem ultrapassar os 120μg m3 (microgramas por metro cúbico de ar). A partir disso, foram instalados medidores em diversas regiões do estado para o monitoramento da qualidade do ar.

No Brasil os padrões de qualidade do ar foram estabelecidos pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 3 de 1990, que estabeleceu dois padrões de qualidade do ar.

Os padrões primários de qualidade do ar as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo.

Enquanto os padrões secundários de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e a flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo.

Para a determinação de legislações em território nacional, foram estabelecidas partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio como objeto de análise, fato utilizado para a constatação dos níveis de poluentes em Goiás.

 

Clima seco redobra influências prejudiciais à saúde humana 

Devido ao período seco no Estado, aliado ao aumento na quantidade de queimadas e os índices de poluição gerados pela indústria e automóveis, o goianiense precisa tomar uma série de medidas relativas à saúde. Somente este mês a umidade relativa do ar chegou a 7%, o que é o equivalente ao clima encontrado nas regiões mais secas do planeta, e a quantidade de poluentes lançados no ar aumentou devido ao alto número de focos de incêndios.

Levando em consideração as determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o nível de umidade ideal é de 60%. Os níveis em que a saúde humana é colocada em risco são divididos em três categorias, a primeira diz respeito a dias em que a umidade vai de 30% a 20% e é considerado um estado de atenção, onde a população deve evitar exercícios físicos ente 11 e 15h, e evitar locais desprotegidos do sol.

No estado de alerta, que vai de 12% à 20% é recomendado usar soro fisiológico nos olhos e no nariz. A categoria mais baixa parte de 12% para baixo sendo o estado de emergência, em casos como este as aulas de educação física, a coleta de lixo, entregas dos correios são suspensas.

Conforme o médico infectologista Boaventura Braz de Queiroz, do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em entrevista ao O Hoje, a queda na umidade do ar é responsável por problemas respiratórios devido a necessidade do corpo humano em receber o ar 100% saturado. “O fato do clima está muito seco pode causar transtornos no padrão de hidratação das pessoas. O processo de desidratação pelo clima seco leva a uma irritação muito acentuada das vias respiratórias altas e isso contribui para infecções por vírus e bactérias. Esse quadro de desidratação é muito perigoso em crianças e idosos”, conta.

Além do tempo seco, um problema já recorrente nessa época do ano, o goiano ainda enfrenta a grande mudança de temperatura. Na última quarta-feira a temperatura passou de 16º para 31º C, uma mudança de 15º na temperatura ambiente da Capital, o que pode causar prejuízos à saúde. “O organismo prefere que haja uma estabilidade da temperatura, então essa mudança pode trazer transtornos e facilitar processos infecciosos e quadros de desidratação”, completa. 

Queiroz ainda completa afirmando que a melhor forma de se preparar tanto para as grandes variações de temperatura quanto o clima seco de Goiás é a ingestão de grande quantidade de líquidos. “A grande preocupação nesse clima é com a hidratação, se existe o consumo de água o organismo termina melhor preparado e o líquido que é perdido é reposto”, conclui.

Durante esse período é comum o aumento de entradas em hospitais devido a rinite alérgica, que é uma reação responsável por coceiras, olhos lacrimejantes e espirros. Outra doença que fica mais evidente com a baixa umidade é a asma, que devido às condições sofrem com o ressecamento da mucosa dos bronquíolos, canais responsáveis pela passagem do ar, que se contraem e dificultam a entrada de ar. Com o tempo seco, a quantidade de bactérias também aumenta, gerando gripes, resfriados e faringite, que é uma inflamação na faringe. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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