Alimentar macacos-prego do Parque Areião é um perigo para todos os envolvidos

Alimentar voluntariamente os animais silvestres é crime ambiental. Atualmente, há mais de 40 macacos-prego no Parque Areião

Postado em: 20-11-2023 às 08h25
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Alimentar macacos-prego do Parque Areião é um perigo para todos os envolvidos
Alimentar voluntariamente os animais silvestres é crime ambiental. Atualmente, há mais de 40 macacos-prego no Parque Areião | Foto: Alexandre Paes/O Hoje

Qualquer pessoa que passe em volta do Parque Areião, ou por dentro de suas trilhas e caminhos, pode ver os vários grupos de macacos pulando entre os troncos do famoso bosque goianiense. E até despertar uma vontade de compartilhar a sua própria comida para estes animais, assim como se faz com cães e gatos. Contudo, fazer isso pode colocar a vida do bicho em risco, bem como se colocar em perigo, além de fortalecer este comportamento de prejuízo mútuo no futuro.

A equipe de reportagem do jornal O Hoje falou com a bióloga da superintendência de gestão ambiental da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) Wanessa de Castro para saber mais dos animais e dos prejuízos de alimentá-lo. Acerca dos seres que atualmente vivem no parque são do grupo conhecido popularmente como macaco-prego, de acordo com Wanessa são dezenas de macacos deles. “[Os animais] são da espécie do macaco-prego, no último levantamento feito foram identificados 42 bichos no parque. [Sabemos] que tem dois grupos liderados por machos-alfas”, diz a bióloga.

Apesar dos animais terem uma presença forte no parque, entram em contato frequente com as pessoas, tornando-os interessantes a fotógrafos e amantes do meio ambiente. Entretanto, por mais que este contato possa ser pacífico é importante lembrar que são animais silvestres, como diz Wanessa. “Eles são conhecidos por serem extremamente ativos, inteligentes e curiosos. Por causa disso, se adaptaram bem à convivência com o ser humano, mas essa interação não deve acontecer, são animais silvestres de vida livre”.

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Mesmo por isso, não impede de os indivíduos testarem ter contato com eles, dando-os comida, querendo forçar o contato físico ou até mau tratando os bichos. É importante lembrar, portanto, que qualquer uma das coisas mencionadas acima se qualificam como crime-ambiental. A pessoa que o comete será passível a multa, ou dependendo do grau e da qualificação, a própria prisão do indivíduo em casos mais severos.

Ou seja, é importante ter em mente que por mais que sejam adoráveis e possam dar a impressão de querer interagir, no seu centro não são domesticados e podem pôr a vida de ambos em risco, como diz Wanessa. “Alimentar os macacos é perigoso para os dois, a pessoa pode ser mordida ou arranhada. O animal ao ser alimentado deixa de procurar na natureza seu alimento e deixa de exercer seu papel ecológico”, afirma a funcionária da agência.

Além disso, há outros riscos que podem cair sob os próprios bichos podendo tirar a vida deles, como diz Helder Lúcio Rodrigues, biólogo mestre e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). “Além de poder alterar o comportamento natural de busca do alimento, o organismo deles não processa comida como o nosso e pode prejudicar a saúde permanentemente, também pode causar diarréias, intoxicações e até a morte”.

Além deste perigo direto para os macacos, também existe o indireto por fortalecer tal comportamento que pode causar outros riscos a eles e às outras pessoas. “Oferecer alimentação faz com que esses animais se aproximem de pessoas e acidentes podem ocorrer, além de invasões de residência. É necessário a conscientização da população para não oferecer comida à esses animais em busca de uma foto ou de carinho, na verdade nesses momentos as pessoas podem sofrer ataques e se ferirem gravemente”.

Por outro lado, mesmo tendo o cuidado para manter-se afastado dos macacos pode não ser o suficiente para que eles fiquem em segurança. A procura de comida se estende além da doação e do “furto”, ocorre nas lixeiras. “Quanto ao lixo deve ter precaução com o orgânico e os inorgânicos como latas e vidro que podem ferir gravemente os animais, e se ingeridos por acidente junto ao orgânico pode causar a morte”.

A resposta, de acordo com Helder, é a devida atenção para o descarte longe do alcance dos macacos para que o comportamento deles volte ao normal. “Nessas áreas de populações de animais silvestres, principalmente o lixo orgânico que atrai esses indivíduos não pode ser colocado em lixeiras comuns onde terão acesso fácil, mas se possível descartado fora do alcance deles”.

Pomar do Areião evita que as pessoas alimentem os macacos 

Como ação em resposta ao aumento do contato humano, a Amma inaugurou em dezembro de 2021 o “Pomar dos macacos”. A área é destinada ao uso exclusivo dos bichos com o plantio inicial de 150 mudas de árvores frutíferas com objetivo de tanto proteger como reforçar o hábito alimentar dos macacos dentro do próprio parque. Além disso, esta ação tem o papel educativo de contar com cartazes e panfletos para a conscientização da não alimentação voluntária dos animais bem como a distância deles.

Dos alimentos naturais que os macacos podem comer estão os frutos como manga, pitanga, caju, ingá, jabuticaba, mangaba, seriguela, abacate, ingá, cagaita e jatobá. Até o momento, a ação se mostrou parcialmente um sucesso, de acordo com Wanessa, dizendo não haver a necessidade de intervenção humana para alimentar os animais e que são devidamente providenciados com comida e água. 

Enquanto a hidratação dos macacos, a bióloga também conta que não há problema. “No parque Areião tem o córrego Areião e a nascente que têm água o ano inteiro, eles ainda se hidratam através das frutas como manga que estão frutificando nessa época”, relata Wanessa.

Outra preocupação por tanto nesta época do ano está na onda de calor que afeta grande parte da nação. Ainda de acordo com ela, a mata densa do parque mantém as temperaturas do local mais baixas, protegendo parcialmente os animais que a usam para se proteger do calor. Diz também que ainda não houve necessidade de intervenção neste quesito.

Por outro lado, apesar da abundância de comida e água disponíveis para os macacos com o primeiro ponto tendo o propósito de ajudá-lo, a agência ainda não viu uma diminuição no contato humano. De acordo com ela, ainda existe uma certa insistência em alimentar os animais silvestres e colocar ambos em risco e um dos dois passíveis de crime e prisão.

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