Novo projeto de lei coloca ponto final à história das gameleiras na Capital

Movimento agora quer reverter projeto e garantir sobrevivência à árvore que faz parte da história do goianiense

Postado em: 01-01-2024 às 09h07
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Novo projeto de lei coloca ponto final à história das gameleiras na Capital
Movimento agora quer reverter projeto e garantir sobrevivência à árvore que faz parte da história do goianiense | Foto: Leandro Braz

Um colosso vegetal reside no Setor Central, uma das poucas sobreviventes de sua espécie em Goiânia em que é possível ver sua silhueta a quilômetros de distância, a planta relatada se trata de um das poucas gameleiras na cidade. Antigamente, era acompanhada de uma irmã igualmente grande no outro lado da rua, hoje há um estacionamento de carro em seu lugar. 

Muitas dessas árvores na Capital, em específico, são mais antigas que muitos moradores atuais, e algumas datam antes da fundação da cidade. Como exemplo, a antiga gameleira na Avenida Goiás Norte, no Setor Jardim Ipê, foi tombada duas vezes, a primeira vez em 2015 pelo seu valor histórico, a segunda vez ao longo de 2023 após não se recuperar de dois incêndios.

A sua utilidade pública, no entanto, está no simples ato de resguardar do sol os pedestres que caminham debaixo dela, como diz Victor Pereira, de 29 anos. “A sombra dela significa muito para mim, além disso, ela é muito bonita e acolhedora. Quando as pessoas passam aqui eles sempre notam ela”, diz o homem de cara cansada que usa dela como um grande guarda-sol.

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Ao seu lado, a velha gameleira coleciona objetos como lixo, folhas caídas, garrafas pet, e respingos de tintas que parecem ter sido de outra época. Para Victor, derrubá-la de lá também pode significar retirá-lo de seu lar, como diz ele, um morador de rua recém chegado em Goiânia. “Tem um mês que eu estou na cidade e escolhi aqui justamente pela sombra que ela me dá”, relata Victor. Esta figueira solitária e as poucas de suas irmãs estão em risco de extinção na Capital pela Prefeitura de Goiânia.

Este é mais um desdobramento do projeto de lei complementar que visa a retirada dessas árvores e tramita na Câmara Municipal de Goiânia desde 2020, sob o então governo do falecido Iris Rezende. Uma nova versão do projeto, com novas emendas que também visam a retirada de outros exemplares da cidade foi aprovada em plenário nesta quarta-feira (27).

Entre as novas mudanças da lei 09/2020, prevê a retirada de árvores como mungubas, jamelões, sete copas e palmeiras imperiais. Segundo a Câmara Municipal, o motivo principal para a retirada gradativa das árvores está nos danos que ocorrem aos patrimônios públicos e os altos custos de manutenção deles. “ Em todos os casos, a justificativa para a substituição das espécies exóticas por plantas do cerrado são os danos ao calçamento provocados pelas raízes e riscos a motoristas, motociclistas e pedestres pela queda de frutos ou galhos”. Contudo, segundo a entidade, o projeto prevê primeiramente a retirada e subsequentemente o replantio de espécies nativas do cerrado.

Em tempos usuais, tal medida necessitaria da autorização prévia da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) para fazer a retirada segura das plantas e não desbalancear o ecossistema goianiense. O jornal O Hoje entrou em contato com a agência para uma resposta, mas o jornal não recebeu nenhuma.

Com isso, se o projeto for sancionado deve ser feito uma pesquisa multidisciplinar para a devida a troca boa das árvores, como fala o engenheiro ambiental, Gabriel Rocha, de 26 anos. “Cada espécie tem os seus prós e contras para o local que for plantada, por isso deve ser feita uma boa pesquisa sobre o assunto com a participação de um engenheiro de trânsito, engenheiro ambiental, agrônomo, biólogo e paisagista, por exemplo”.

Gabriel ainda conta que a retirada pode sim ter o seu fator positivo em alguns casos como os Jamelões. “Na retirada dos Jamelões já poderíamos ver uma diminuição da quantidade de acidentes, por exemplo, porque eles deixam o asfalto e a calçada escorregadia durante a chuva. Geralmente, as árvores do cerrado tem raízes como estacas que oferecem uma diminuição no dano da infraestrutura”, diz ele.

Além disso, Gabriel fala que algumas das árvores mais jovens do cerrado não conseguem oferecer os mesmos cuidados do meio ambiente. Além da utilidade pública, os insetos, aves, e pequenos mamíferos usam as árvores como casa, e algumas espécies do cerrado não conseguem prover ao mesmo nível como a Jacarandá, por ter troncos finos.

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