Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Goiás já possui 19 casos de malária apenas nos quatro primeiros meses de 2024

Estado conta com 63 casos notificados e 19 contaminações confirmadas do protozoário

Postado em: 01-05-2024 às 11h30
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiás já possui 19 casos de malária apenas nos quatro primeiros meses de 2024
Técnicos da saúde pesquisam por mosquitos transmissores da malária em locais onde foi registrado caso da doença | Foto: Divulgação SES-GO

Era 1980 quando Wilson Sampaio tinha recebido a primeira de três confirmações de casos da doença malária, uma lembrança dolorida na mente de Wilson quando ainda morava em Mato Grosso. Como ele disse em entrevista para a equipe de reportagem do jornal O HOJE, foram mais de duas semanas de dor no corpo, febre alta, calafrios, tremedeira e sem expectativa de uma melhora. Até a cura completa, fala que durou quase um mês até a normalização do estado de saúde com tratamento médico no hospital e depois de quatro litros de soro para hidratação por injeção intravenosa. “Não consegui comer de tanto que eu tremia, fiquei quase um mês assim”.

Porém, como já dito anteriormente, foi apenas uma de três vezes que contraiu a doença, com intervalos de três a quatro anos entre as infecções. Todos os casos confirmados de Wilson foram quando trabalhava como cinegrafista de reportagem de jornal de campo no pequeno município de Apiacás, no norte de MT com a divisa entre Pará e Amazonas. “Foram anos muito ruins, sentia muita dor na perna, nos braços. O pior de tudo é que não sentia fome nem sede, então tive que ficar tomando soro no hospital”, conta o cinegrafista.

Contudo, parte da experiência dolorosa de Wilson é compartilhada pelos 297 goianos que contraíram a doença nos últimos quatro anos, como foi apurado pelo jornal O HOJE com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO). De acordo com a pasta a doença continua com grande presença em Goiás mesmo, mesmo parte do estado não possuindo o habitat preferível do mosquito-prego, vetor da doença. 

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Dentro disso, já no início de 2024, o estado conta com 63 casos notificados e 19 contaminações confirmadas do protozoário. Se comparado com os dados de 2023, com 101 doenças confirmadas, Goiás já tem cerca de 15% de casos confirmados do ano anterior só no início de 2024. De acordo com a secretaria, este aumento se deve a contaminações “importadas” de outras regiões do País e do exterior, e não por uma circulação de casos locais de Goiás.  

Porém, alertam que houve três transmissões locais confirmadas no ano de 2023, incluindo um óbito de uma mulher de 41 anos pela doença em Anápolis que se contaminou quando visitou uma chácara do município na região metropolitana de Goiânia. Quando isso ocorre é feita uma pesquisa de investigação epidemiológica para determinar possíveis transmissores ativos na sociedade. Parte dessa investigação é uma busca ativa de familiares e moradores da região onde houve o registro, que são submetidos a testes diagnósticos como no Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT).

Sobre a doença, a malária é causada pelo protozoário plasmodium e é transmitida pelo picada com o mosquito Anopheles, popularmente conhecido pelo mosquito-prego, muito comum em climas tropicais, sobretudo na região amazônica do país. Por causa disso a transmissão é importada, e a incidência dos casos se concentra nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Tocantins e Mato Grosso como no caso de Wilson. Ainda sobre isso, de acordo com o infectologista Marcelo Daher, também pode ocorrer na região norte de Goiás. “Nós temos muitos casos na região da Serra da Mesa como em Niquelândia, é uma região que costuma ter casos de malária. Mas tivemos uns casos incomuns em Goiânia e Aparecida”.

De acordo com ele, a contaminação do protozoário pode ser grave pela inflamação nos órgãos internos como no fígado, podendo levar a pessoa ao óbito sem um atendimento médico especializado. Por causa disso, o médico fala que os turistas goianos que visitaram essas áreas rurais e tiverem voltado com sintomas de febre, tremores e calafrios necessitam de procurar uma unidade de saúde. “É uma doença que pode ser grave se não for tratada a tempo, principalmente em casos da malária falciparum que pode ser mais aguda” afirma o especialista.

Para as pessoas que pretendem visitar áreas com incidência do mosquito e da doença, Marcelo recomenda o uso de cremes repelentes e vestimentas longas como blusas com mangas compridas e calças protetoras e botas. Além disso, conta como o tratamento da doença é feito gratuitamente pela saúde pública no HDT mediante o diagnóstico da doença.

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