Editoras investem em‘Minecraft’

‘Missão impossível’ para o mercado editorial será manter os preços baixos em 2016

Postado em: 05-03-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Missão impossível’ para o mercado editorial será manter os preços baixos em 2016

Se, no ano passado, os livros de colorir ajudaram a segurar as vendas do mercado editorial em um contexto de recessão no País, cortes nas compras governamentais e forte aumento de custos, a aposta das editoras para 2016 são as obras relacionadas ao universo de Minecraft. O jogo é um fenômeno mundial entre crianças e adolescentes desde que sua versão beta foi lançada, em 2010, e foi o mais vendido no Brasil no ano passado. Minecraft permite aos usuários explorar um mundo virtualmente infinito, todo feito de blocos que são montados e desmontados. Não há um objetivo ou fases a serem vencidas.  

A Galera, selo jovem do Grupo Editorial Record, foi a primeira editora brasileira a investir em títulos baseados no jogo. A editora-executiva Ana Lima conta que comprou os direitos da trilogia Uma Aventura Não Oficial de Minecraft, de Mark Cheverton, antes mesmo da publicação nos Estados Unidos. O terceiro livro da série, Enfrentando o Dragão, foi lançado em dezembro. 

Somados, os três livros venderam 160 mil exemplares. Uma nova trilogia escrita por Cheverton, um professor americano de ensino médio que começou a escrever após um grupo de jogadores destruir tudo o que seu filho tinha criado durante meses no game, será lançada neste ano pela Galera. O primeiro sai em abril, o segundo, na Bienal, e o terceiro, no Natal.

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Entre as obras do gênero que chegam às livrarias neste ano está o recém-lançado Crônicas de Elementia: Missão Justiça, pela Rocco Jovens Leitores. É o primeiro volume de uma trilogia que o americano Sean Fay Wolfe começou a publicar de forma independente em 2013, aos 16 anos, e logo foi comprada pela gigante Harper Collins. Já a Sextante lançou cinco dos nove títulos da série Diário de Um Zumbi do Minecraft, da Herobrine Books.

Um dos mais esperados, entretanto, é o segundo romance de Pedro Rezende, ou melhor, RezendeEvil. Seu canal no YouTube, só com vídeos sobre o jogo, tem quase 2 bilhões de visualizações e está entre os mais vistos no País. Rezende lançou no ano passado Dois Mundos, Um Herói (Suma de Letras), romance em que o protagonista – o próprio youtuber – acorda dentro do mundo virtual que criou e encontra uma versão digital de si mesmo.  

O livro vendeu mais de 130 mil exemplares. Outras apostas para 2016 do Grupo Companhia das Letras, dono da Suma de Letras, é o segundo livro da também youtuber Kéfera Buchmann, que vendeu mais de 300 mil exemplares de Muito Mais do que Cinco Minutos (Paralela), e a estreia literária de PC Siqueira, um dos primeiros nomes a estourar com vídeos na internet. 

Manter os preços baixos em 2016 será uma missão impossível para o mercado editorial. No fim de fevereiro, as fabricantes de papel anunciaram um reajuste de 24%. Seria o terceiro aumento consecutivo, após o de 11,30% em 2014 e de 12,05% em 2015, de acordo com o Índice de Preços ao Produtor Amplo da Fundação Getulio Vargas (IPA-FGV). O dólar alto também impacta o preço do papel, além de pressionar os contratos de aquisição de direitos.

Esses fatores, somados à alta da inflação no país, criam um cenário difícil. Para Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), caso o aumento do preço do papel se confirme, o repasse ao consumidor será inevitável. A organização ainda tenta sensibilizar a indústria para as dificuldades já enfrentadas pelas editoras, como os atrasos nos pagamentos das compras do governo federal. “Estamos vivendo uma recessão, com o fechamento de editoras e livrarias. O papel é nosso insumo principal. Estimamos que esse aumento signifique uma alta de 16% a 20% nos preços aos consumidores. Isso num momento totalmente impróprio”, lamenta Torelli.

Marcos Pereira, dono da Sextante e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (Snel), não vê outra saída que não o aumento do preço dos livros, mas ressalta que é preciso cuidado para não prejudicar as vendas. Em um mercado onde as tiragens médias são de 3 a 4 mil exemplares, um fator decisivo para esse equilíbrio é o best-seller, afirma. Em 2015, até ele se surpreendeu com o sucesso de Jardim Secreto, livro de colorir para adultos lançado pela Sextante, que se tornou o mais vendido do ano no Brasil e desencadeou uma onda do gênero entre várias editoras. (Agência O Globo) (Imagem: Reprodução internet)

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