Carne Doce divulga clipe da música Artemísia

A canção faz parte do novo disco, Princesa, que será lançado em dia 28 deste mês

Postado em: 19-08-2016 às 06h00
Por: Redação
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A canção faz parte do novo disco, Princesa, que será lançado em dia 28 deste mês

Elisama Ximenes 

Artemísia, de acordo com o dicionário online de português, é um gênero de plantas aromáticas, uma de cujas espécies é o absinto. O dicionário informal acrescenta que suas folhas têm propriedades medicinais e o seu chá é usado no combate a anemias, cólicas intestinais, gastrites, etc. Ela não é recomendada para gestantes, porque pode provocar complicações à gestação, podendo, inclusive, interromper a gravidez. O nome da planta também nomeia a música, da banda goiana Carne Doce, Artemísia. O clipe foi lançado no último dia 28 de julho. 

Salma Jô, vocalista da banda, caminha por uma rua com um muro, característico de prédios antigos, à direita. Com um blackout, a cena muda de lugar e, de repente, a protagonista está em um subsolo que remete a um túnel, com paredes brancas e pichadas. Ela passa a mão no ventre, com uma expressão assustada, e, então, começa a música, que segue com a caminhada interpretativa de Salma pelo corredor. “Não vai nascer, porque eu não quero, porque eu não quero, e basta eu não querer” é a letra, que começa depois de um minuto e 22 segundos de caminhada. 

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“Eu estava pensando a respeito da ideia do ‘meu corpo minhas regras’ e eu comecei a divagar sobre o que é considerado um egoísmo absoluto, por um lado, e um direito absoluto por outro”, explica Salma sobre como surgiu a ideia de fazer uma música com esse tema. A proposta era de trabalhar com o peso que é a decisão de ter ou não um filho. “Brincando com essas perspectivas, eu cheguei  a essa letra, que coloca a mulher como uma espécie de deusa”, explica. 

Movimentos

Os movimentos cênicos e até coreógrafos, realizados pela protagonista do clipe durante a música, foram inspirados em uma cena do filme Possessão. “Os meninos da produtora Muto encontraram o túnel, que foi um cenário perfeito, e também a coreógrafa, que trouxe um método de improviso de dança que casou com a parte visceral da letra”, esclarece. Para Salma, a questão do aborto não é fácil, mas acha que “deveríamos partir do princípio de que a mulher é soberana, e não de que o feto é, de que o ser por vir é”. 

O tema também não é fácil de ser tratado se pensarmos no âmbito legal no Brasil. Aborto é crime aqui e a mulher e o profissional envolvido na interrupção da gravidez podem ser presos. De acordo com o Decreto Lei 2848/40 do Código Penal, o aborto só é permitido caso não haja outro meio de salvar a vida da gestante ou se a gravidez for resultante de estupro. No entanto existem movimentos no País que militam pela sua legalização, independente dos motivos, desde que essa decisão seja tomada pela mulher gestante. O argumento principal é de que, mesmo criminalizado, os abortos continuam sendo realizados, de maneira clandestina, fazendo com que as mulheres corram ainda mais riscos de morte. 

A Frente Nacional Pela Legalização do Aborto descreve, em sua página do Facebook, que luta “pelo direito ao aborto sem risco de morte ou adoecimento, diminuindo o sofrimento para todas as mulheres”. Por outro lado, há também movimentos que militam contra a sua legalização. A página de Facebook Contra o Aborto tem a foto de um bebê como perfil e, logo abaixo, uma arte com a frase: “Eu defendo a vida”. Segundo descrição da página, sua missão é de “mostrar iniciativas pró-vida e lutar contra o mal do aborto na sociedade e desmascarar argumentos abortistas”. 

Não é novidade

Tratar sobre o aborto não é algo inaugural do Carne Doce. Outros cantores, cantoras e bandas também já fizeram canções sobre o tema. As bandas argentinas Fun People e She Devils lançaram o álbum Aborto Ilegal Assassina a Minha Liberdade em 1997. Em uma das canções, Lady, eles cantam: “Honey, eu sei, não é tão fácil. Senhorita, você não está preparada. Não tem dinheiro, não está saudável para ter um bebê. Honey, você não quer abortar, mas não tem opção. Mulherzinha, você não é uma mulher má por ter ficado grávida e ter pensado em abortar”. Já a cantora gospel Fernanda Brum lançou, em 2010, a música Aborto Não. Em um dos trechos da canção, ela diz: “Chorei e implorei em oração: não mate essa criança inocente, ela foi escolhida dentro do teu ventre”.

Reflexão

As opiniões são diversas e contraditórias. A intenção de Artemísia era de levantar uma reflexão sobre até que ponto o aborto é egoísmo, e o clipe consegue ser uma metáfora bem feita da clandestinidade com ele é realizado em tempos de criminalização. Além de quem é a favor da legalização e de quem é absolutamente contra, há ainda aquelas que concordam com o aborto apenas em casos de estupro ou de risco de vida, conforme já está aprovado na constituição brasileira. A vocalista do Carne Doce já pensou assim: “Já pensei diferente, já defendi apenas em casos de estupro”. Embora, no ano passado, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha tenha feito proposta de lei que exigia que a mulher vítima de estupro, que desejasse realizar um aborto legal, comprovasse a violência por meio de comunicação à polícia e exame de corpo de delito – atualmente, basta a palavra da gestante. 

A posição atual de Salma é pela descriminalização do aborto, “porque é inviável, porque não é eficiente, não evita os crimes, independente do que diz a lei, a nossa sociedade pratica. A situação da criminalização funciona muito menos como um impeditivo do que uma imposição de mais riscos e sofrimento para a mulher”, explica. Apesar desse posicionamento, não é intenção da cantora fazer uma música engajada. “Eu quero fazer música boa. Eu acho que Artemísia pode ter esse ‘quê’ de engajada, mas tudo bem, porque, antes disso, ela é boa. Se um artista faz música boa, mas sem inspiração política nenhuma, ótimo também”, afirma.

A letra de Artemísia continua ainda com “não vai viver, porque eu vivo, sou o deus vivo, sua razão de ser, de uma praga a um chá, sabe a índia, sabe a química que o seu desencarnar”, remetendo à divindade da mulher que a letra quis levantar e, ainda, ao poder da planta. No clipe, a música acaba, a protagonista está transformada, com os cabelos bagunçados, e sai atônita rumo à escada de saída do túnel. Sua respiração ofegante e os passos são a única sonoridade do vídeo agora. Sai de volta para a rua e encerra-se o clipe. Assista:

SERVIÇO
Carne Doce lança o disco ‘Princesa’
Quando: 28 de agosto às 16h
Onde: Ambiente Skate Shop (Rua T-30)
Ingressos: A partir de R$ 15

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