Dadaísmo com pequi

Para comemorar os 100 anos do movimento dadaísta chega a Goiânia o DaDaSprings, festival que celebra o caos artístico

Postado em: 24-09-2016 às 06h00
Por: Redação
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Para comemorar os 100 anos do movimento dadaísta chega a Goiânia o DaDaSprings, festival que celebra o caos artístico

A Primeira Grande Guerra estava em curso. A batalha ocupava um contexto de desenvolvimento tecnológico e armamentista. Naqueles anos, surgia o avião. O cinema. O rádio. Paris era o centro do universo cultural e artístico. E a guerra transformou a forma de pensar e de agir de uma classe que costuma deixar marcas profundas na história: artistas e pensadores se exilaram e se transformaram em tradutores deste instante desvairado. Contra tudo que até ali havia sido motivo daquela guerra, surgem os dadaístas. 
Eles eram precursores do movimento mais incoerentemente salubre e sensato de uma época de apinhados conflitos morais e éticos. O refúgio para estes exilados desertores foi a inabalável Zurique, na Suíça. Críticos a toda crueza do ser humano, os dadaístas eram niilistas caóticos, loucos irreverentes, gênios indomáveis. Para anunciar o Cabaret Voltaire, uma chamada foi publicada nos jornais de Zurique, conclamando artistas à procura de um novo palco. Era fevereiro de 1916. Não havia um formato definido para nada. 
O dadaísmo jamais se pretendeu como linguagem. Sua tratativa era como movimento. Inclusive um movimento de autodestruição. O ritual era sua essência. O resultado era ocasional. Quando as massas quiseram transformá-lo em objeto de consumo, dissipou-se. Acha-se que em 1922. Mas deixou descendentes: o surrealismo, a arte conceitual e a arte concreta, a pop art, o expressionismo abstrato, todos eles tem parte com o espírito dadaísta. São espécimes mais ou menos inquietas, que tiveram suas origens naquela revolta de nome simbolicamente infantil. 
O nome “dada” – “cavalo de madeira” em francês – escolhido ao acaso não pretendia dizer nada. Parecia uma piada, uma ironia, uma libertação.  Ainda assim, discursou sobre tudo, sem meias palavras (ou nenhuma palavra), e definiu novos rumos para o olhar ocidental. O Cabaret Voltaire, em Zurique é considerado o berço deste movimnto, formado por um grupo de escritores, poetas e artistas plásticos – dois deles desertores do serviço militar alemão – liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp. 
A marca principal do dadaísmo, como estilo artístico, é destruir todo sistema e código estabelecidos no mundo da arte: é, por definição, um movimento antipoético, antiartístico, antiliterário, visto que questiona até a existência da arte, da poesia e da literatura. O dadaísmo é uma ideologia total, usada na forma de viver e como a absoluta rejeição de todo e qualquer tipo de tradição ou esquema anterior. A partir de Zurique, o movimento tomou o mundo por meio da revista Dada, e chegou a Barcelona, Berlim, Colônia, Hannover, Nova York e Paris. 
Passados 100 anos, Zurique cria uma ponte inimaginável com a mais dadaísta das cidades brasileiras, Goiânia, essa mesma cidade que arde sob o sol de setembro e vive um morno momento político pré-eleições municipais. O dadaísmo à goiana, por assim dizer, surgiu de maneira festiva, quase acidental. O artista plástico Babidu Barboza organizou, em 2002, um festival paralelo ao congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) evento realizado na UFG. 
A ideia do artista, licenciado pela Faculdade de Artes Visuais (FAV) daquela universidade, era fazer uma série de exposições, manifestações artísticas e festas, em sua casa, a que batizou de Cabaret Voltaire, em homenagem ao bar que foi berço do dadaísmo em Zurique. Após o evento, festas temáticas foram organizadas sistematicamente, no local, e alcançaram algum sucesso. Festas com nomes sugestivos como Ou Dada ou Dedesce, atraíram a nata da classe criativa de Goiânia, e suas performances ficaram marcadas, como uma sessão de sadomasoquismo como atração artística ou uma pin-up sentada em um balanço, por horas, se balançando metros acima dos convidados. 
Outra performance foi a reprodução do quadro Nu Descendo a Escada, de Marcel Duchamp, em que pessoas nuas se movimentavam entre os convidados. Além das festas temáticas, o local passou a servir também de base para produção e ensaio das manifestações artísticas Grupo EmpreZa (não confundir com a empresa de RH). “Eu faço parte do grupo, que faz performances artísticas e, como os dez membros do grupo estão espalhados pelo Brasil, o Cabaret funciona como pon­to de encontro”, disse ele em entrevista ao Essência.
Todo esse burburinho chegou até Zurique. E o resultado é que o Cabaret Voltaire de cá, situado numa pacata rua do Conjunto Itatiaia, vai se tornar um braço do Cabaret Voltaire de lá. De 24 de setembro a 1º de outubro de 2016, Goiânia será palco de dezenas de atividades que compõem o DaDaSpring, evento que celebra os 100 anos do dadaísmo no mundo. A capital goiana é a única cidade brasileira a integrar a agenda internacional do DaDa 100th Anniversary, organizado por iniciativa da Associação DaDa100, que reúne o Cabaret Voltaire e outras instituições suíças. O projeto tem a realização do Grupo EmpreZa e da Balaio Produções Culturais, e conta com recursos do Fundo Estadual de Cultura e com a parceria do Cabaret Voltaire Zurique.
Oficinas, festas, shows e saraus ocorrerão no Cabaret Voltaire Goiânia. O espaço, sede do grupo EmpreZa, receberá de Adrian Notz a placa oficial do Cabaret Voltaire Zurique, sendo consagrado sede oficial do dada no Brasil. Segundo os organizadores, ao ser apresentado ao nosso Cabaret – onde já foram realizados sarais performáticos e onde já se trabalha com a participação de artistas e públicos das mais diversas origens e linguagens –, o suíço demonstrou o desejo de vincular as histórias desses dois lugares, deixando uma marca oficial do dada no Brasil.
A programação prevê manifestos, exposições, serões performáticos, saraus, shows musicais, conferências, debates, mostras de cinema, oficinas, apresentações artísticas e festas. Toda programação é gratuita e ocupará diferentes espaços da Capital: Cabaret Voltaire Goiânia; PraçaUniversitária; Praça Cívica; Praça do Trabalhador; Feira do Cerrado; Bosque dos Buritis – Museu de Artes de Goiânia; Evóe Café com Livros e Espaços da Universidade Federal de Goiás (UFG), como a Galeria da Faculdade de Artes Visuais (FAV), a Escola de Músicas de Artes Cênicas (Emac), o Centro Cultural da UFG e sua galeria, o Cine UFG, o auditório da Biblioteca da UFG e a Faculdade de Letras. 
A programação completa pode ser acessada em www.dadaspringbrasil.com.br. Dentre personagens marcantes, estarão em Goiânia para o evento Adrian Notz, diretor do Cabaret Voltaire Zurique; o diretor Zé Celso Martinez, do Teatro Oficina; Bia Medeiros, coordenadora do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos; Alex Hamburger, artista visual e performático; Marta Soares, premiada pesquisadora, dançarina e coreógrafa de obras performáticas, e Wagner Barja, artista plástico e poeta visual.
De acordo com Adrian Notz, a conexão do grupo EmpreZa com o movimento dadaísta não poderia ser melhor. “Pela constituição na forma de um coletivo de artistas, que atuam a partir da performance arte, happenings e ações de intervenção em espaços públicos, operando um imaginário provocativo e crítico às mais diversas questões da arte, cultura e sociedade, o Grupo EmpreZa traz consigo uma força ética, política e estética que os aproxima intimamente dos artistas e dos manifestos do movimento dadaísta”, comenta o diretor.
Para Thiago Lemos, integrante do Grupo EmpreZa, esse encontro é fundamental para promover reflexão a partir da reunião de diferentes grupos. “Encontros na arte são sempre grandes mecanismos de criação, descobertas e experiências diferenciadas. A proposta do encontro é mostrar uma reflexão e a prática dessa aproximação, envolvendo artistas e realizadores de diferentes segmentos”, complementa.
Além de ocupar o Cabaret Voltaire e espaços na Universidade Federal de Goiás, o DaDaSPring estará nas ruas de Goiânia, ocupando as praças com a Tenda Dada On Tour. A proposta é que esse movimento artístico alcance todo o público, de forma a comovê-lo. “A arte tem aquilo que os antigos latinos chamavam de movere, que é a capacidade de nos mover. Se a arte move, é porque é uma força, e as forças transformam. Neste caso, o movimento transformador ocorre, antes, no espírito, como comoção. A arte tem o poder de co-mover, de fazer com que os espíritos se comovam (movam-se juntos)”, explica Lemos.

A Primeira Grande Guerra estava em curso. A batalha ocupava um contexto de desenvolvimento tecnológico e armamentista. Naqueles anos, surgia o avião. O cinema. O rádio. Paris era o centro do universo cultural e artístico. E a guerra transformou a forma de pensar e de agir de uma classe que costuma deixar marcas profundas na história: artistas e pensadores se exilaram e se transformaram em tradutores deste instante desvairado. Contra tudo que até ali havia sido motivo daquela guerra, surgem os dadaístas. 
Eles eram precursores do movimento mais incoerentemente salubre e sensato de uma época de apinhados conflitos morais e éticos. O refúgio para estes exilados desertores foi a inabalável Zurique, na Suíça. Críticos a toda crueza do ser humano, os dadaístas eram niilistas caóticos, loucos irreverentes, gênios indomáveis. Para anunciar o Cabaret Voltaire, uma chamada foi publicada nos jornais de Zurique, conclamando artistas à procura de um novo palco. Era fevereiro de 1916. Não havia um formato definido para nada. 
O dadaísmo jamais se pretendeu como linguagem. Sua tratativa era como movimento. Inclusive um movimento de autodestruição. O ritual era sua essência. O resultado era ocasional. Quando as massas quiseram transformá-lo em objeto de consumo, dissipou-se. Acha-se que em 1922. Mas deixou descendentes: o surrealismo, a arte conceitual e a arte concreta, a pop art, o expressionismo abstrato, todos eles tem parte com o espírito dadaísta. São espécimes mais ou menos inquietas, que tiveram suas origens naquela revolta de nome simbolicamente infantil. 
O nome “dada” – “cavalo de madeira” em francês – escolhido ao acaso não pretendia dizer nada. Parecia uma piada, uma ironia, uma libertação.  Ainda assim, discursou sobre tudo, sem meias palavras (ou nenhuma palavra), e definiu novos rumos para o olhar ocidental. O Cabaret Voltaire, em Zurique é considerado o berço deste movimnto, formado por um grupo de escritores, poetas e artistas plásticos – dois deles desertores do serviço militar alemão – liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp. 
A marca principal do dadaísmo, como estilo artístico, é destruir todo sistema e código estabelecidos no mundo da arte: é, por definição, um movimento antipoético, antiartístico, antiliterário, visto que questiona até a existência da arte, da poesia e da literatura. O dadaísmo é uma ideologia total, usada na forma de viver e como a absoluta rejeição de todo e qualquer tipo de tradição ou esquema anterior. A partir de Zurique, o movimento tomou o mundo por meio da revista Dada, e chegou a Barcelona, Berlim, Colônia, Hannover, Nova York e Paris. 
Passados 100 anos, Zurique cria uma ponte inimaginável com a mais dadaísta das cidades brasileiras, Goiânia, essa mesma cidade que arde sob o sol de setembro e vive um morno momento político pré-eleições municipais. O dadaísmo à goiana, por assim dizer, surgiu de maneira festiva, quase acidental. O artista plástico Babidu Barboza organizou, em 2002, um festival paralelo ao congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) evento realizado na UFG. 
A ideia do artista, licenciado pela Faculdade de Artes Visuais (FAV) daquela universidade, era fazer uma série de exposições, manifestações artísticas e festas, em sua casa, a que batizou de Cabaret Voltaire, em homenagem ao bar que foi berço do dadaísmo em Zurique. Após o evento, festas temáticas foram organizadas sistematicamente, no local, e alcançaram algum sucesso. Festas com nomes sugestivos como Ou Dada ou Dedesce, atraíram a nata da classe criativa de Goiânia, e suas performances ficaram marcadas, como uma sessão de sadomasoquismo como atração artística ou uma pin-up sentada em um balanço, por horas, se balançando metros acima dos convidados. 
Outra performance foi a reprodução do quadro Nu Descendo a Escada, de Marcel Duchamp, em que pessoas nuas se movimentavam entre os convidados. Além das festas temáticas, o local passou a servir também de base para produção e ensaio das manifestações artísticas Grupo EmpreZa (não confundir com a empresa de RH). “Eu faço parte do grupo, que faz performances artísticas e, como os dez membros do grupo estão espalhados pelo Brasil, o Cabaret funciona como pon­to de encontro”, disse ele em entrevista ao Essência.
Todo esse burburinho chegou até Zurique. E o resultado é que o Cabaret Voltaire de cá, situado numa pacata rua do Conjunto Itatiaia, vai se tornar um braço do Cabaret Voltaire de lá. De 24 de setembro a 1º de outubro de 2016, Goiânia será palco de dezenas de atividades que compõem o DaDaSpring, evento que celebra os 100 anos do dadaísmo no mundo. A capital goiana é a única cidade brasileira a integrar a agenda internacional do DaDa 100th Anniversary, organizado por iniciativa da Associação DaDa100, que reúne o Cabaret Voltaire e outras instituições suíças. O projeto tem a realização do Grupo EmpreZa e da Balaio Produções Culturais, e conta com recursos do Fundo Estadual de Cultura e com a parceria do Cabaret Voltaire Zurique.
Oficinas, festas, shows e saraus ocorrerão no Cabaret Voltaire Goiânia. O espaço, sede do grupo EmpreZa, receberá de Adrian Notz a placa oficial do Cabaret Voltaire Zurique, sendo consagrado sede oficial do dada no Brasil. Segundo os organizadores, ao ser apresentado ao nosso Cabaret – onde já foram realizados sarais performáticos e onde já se trabalha com a participação de artistas e públicos das mais diversas origens e linguagens –, o suíço demonstrou o desejo de vincular as histórias desses dois lugares, deixando uma marca oficial do dada no Brasil.
A programação prevê manifestos, exposições, serões performáticos, saraus, shows musicais, conferências, debates, mostras de cinema, oficinas, apresentações artísticas e festas. Toda programação é gratuita e ocupará diferentes espaços da Capital: Cabaret Voltaire Goiânia; PraçaUniversitária; Praça Cívica; Praça do Trabalhador; Feira do Cerrado; Bosque dos Buritis – Museu de Artes de Goiânia; Evóe Café com Livros e Espaços da Universidade Federal de Goiás (UFG), como a Galeria da Faculdade de Artes Visuais (FAV), a Escola de Músicas de Artes Cênicas (Emac), o Centro Cultural da UFG e sua galeria, o Cine UFG, o auditório da Biblioteca da UFG e a Faculdade de Letras. 
A programação completa pode ser acessada em www.dadaspringbrasil.com.br. Dentre personagens marcantes, estarão em Goiânia para o evento Adrian Notz, diretor do Cabaret Voltaire Zurique; o diretor Zé Celso Martinez, do Teatro Oficina; Bia Medeiros, coordenadora do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos; Alex Hamburger, artista visual e performático; Marta Soares, premiada pesquisadora, dançarina e coreógrafa de obras performáticas, e Wagner Barja, artista plástico e poeta visual.
De acordo com Adrian Notz, a conexão do grupo EmpreZa com o movimento dadaísta não poderia ser melhor. “Pela constituição na forma de um coletivo de artistas, que atuam a partir da performance arte, happenings e ações de intervenção em espaços públicos, operando um imaginário provocativo e crítico às mais diversas questões da arte, cultura e sociedade, o Grupo EmpreZa traz consigo uma força ética, política e estética que os aproxima intimamente dos artistas e dos manifestos do movimento dadaísta”, comenta o diretor.
Para Thiago Lemos, integrante do Grupo EmpreZa, esse encontro é fundamental para promover reflexão a partir da reunião de diferentes grupos. “Encontros na arte são sempre grandes mecanismos de criação, descobertas e experiências diferenciadas. A proposta do encontro é mostrar uma reflexão e a prática dessa aproximação, envolvendo artistas e realizadores de diferentes segmentos”, complementa.
Além de ocupar o Cabaret Voltaire e espaços na Universidade Federal de Goiás, o DaDaSPring estará nas ruas de Goiânia, ocupando as praças com a Tenda Dada On Tour. A proposta é que esse movimento artístico alcance todo o público, de forma a comovê-lo. “A arte tem aquilo que os antigos latinos chamavam de movere, que é a capacidade de nos mover. Se a arte move, é porque é uma força, e as forças transformam. Neste caso, o movimento transformador ocorre, antes, no espírito, como comoção. A arte tem o poder de co-mover, de fazer com que os espíritos se comovam (movam-se juntos)”, explica Lemos.

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