‘Chacrinha, O Musical’ chega a Goiânia

Stepan Nercessian interpreta e conta as histórias do Velho Guerreiro

Postado em: 30-09-2016 às 06h00
Por: Redação
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Stepan Nercessian interpreta e conta as histórias do Velho Guerreiro

Júnior Bueno 

Maior comunicador do rádio e da TV brasileira, Abelardo Barbosa costumava dizer que “Na televisão nada se cria, tudo se copia”. Curiosamente, ninguém até hoje conseguiu copiar a espontaneidade do Velho Guerreiro. Comandante de extravagantes concursos de calouros, responsável por revelar grandes nomes da música nacional e inventor de bordões infames, o apresentador agora é homenageado em Chacrinha, o Musical, em montagem estrelada por Stepan Nercessian.

Com texto de Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, o espetáculo marca a primeira direção teatral de Andrucha Waddington e o fim da trilogia Uma Aventura Brasileira, iniciada por Elis, A Musical e Se eu fosse você, o musical. O espetáculo acompanha a trajetória do apresentador desde sua infância em Surubim, Pernambuco, até o auge da carreira na TV Globo, comandando o programa de auditório Cassino do Chacrinha, com espaço para as rebolativas chacretes, os trocadilhos infames, buzinadas e troféu abacaxi.

Dois atores dão vida ao protagonista: Stepan Nercessian interpreta o Chacrinha consagrado no rádio e na TV, enquanto Pedro Henrique Lopes incorpora o jovem Abelardo Barbosa. Aos 61 anos, Nercessian retornou aos palcos depois de mais de 10 anos sem trabalhar no teatro. Completam o elenco 16 atores-cantores-bailarinos, que vão dar vida a familiares do Velho Guerreiro e personalidades que fizeram parte da vida do apresentador como Boni e Elke Maravilha.

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O diretor Andrucha Waddington faz sua estreia na atividade teatral depois de quase três décadas de carreira dedicada à produção cinematográfica. O jornalista Pedro Bial foi responsável pelo primeiro tratamento do texto, a partir de extensa pesquisa de Carla Siqueira. A trama é dividida em dois atos, com espaço para episódios biográficos e momentos líricos e fantasiosos. A infância difícil com a falência do pai, o ingresso no rádio e revolução que ele promoveu na televisão brasileira são temas presentes, assim como momentos em que são revelados sua bipolaridade, autoritarismo e obsessão pelos números de audiência.

A trilha sonora é composta por mais de 60 canções consagradas na história da música nacional. Muitos desses sucessos fizeram parte do repertório do Cassino do Chacrinha e dos artistas que o comunicador ajudou a consagrar, como O meu Sangue Ferve por Você, de Sidnei Magal; O Amor e o Poder, eternizada por Rosana; Tente Outra Vez, com Raul Seixas, Televisão, dos Titãs e Fogo e Paixão, sucesso imortal de Wando.

A segunda parte do espetáculo transforma o teatro em programa de auditório e a plateia presente tem a chance de ser a claque de um programa de TV que mora no imaginário afetivo do Brasil, tendo ou não vivido na época em que Chacrinha era rei nas tardes de sábado. E é aí que está o grande trunfo do musical: ele se alicerça no carisma de Stepan, que mesmo sem cantar e dançar, capta de maneira inacreditável o espírito do Velho Guerreiro.

Nascido em Cristalina, Goiás, o ator é filho de uma cearense e de um armeno e passou parte da infância e juventude em Goiânia. Galã nos anos 70, Stepan interpretou tipos bonachões em novelas a partir dos anos 80 e esteve em mais de 40 produções, entre séries, novelas e minisséries. Participou de outros tantos filmes e peças de teatro, além de ter tomado conta do Retiro dos Artistas e entrado também na política. Além de Chacrinha, outro projeto também o trouxe à Goiânia: a divulgação do curta-metragem Quarto 10, que conta a história de Vilma Martins, conhecida por roubar bebês e criar como se fossem seus filhos. Em entrevista ao Essência, o ator falou sobre, sobre Goiânia e contou que só virou Chacrinha graças à Fernanda Montenegro.
 
Confira a entrevista com Stepan Nercessian: 

O que te motivou a aceitar o convite para viver o Velho Guerreiro?

Primeiro eu sou muito fã, sempre tive muita admiração por esse personagem extraordinário, esse comunicador tão querido. E foi uma sugestão da Fernanda Montenegro. Ela disse ao Andrucha (Waddington, diretor) que só eu poderia fazer o Chacrinha. Eu fiquei meio assim, porque é musical, e eu não sei cantar nem dançar, nunca me imaginei fazendo. ‘Mas se a Fernanda falou’, eu pensei, ‘deve ter alguma coisa aí’. É um projeto cheio de desafios, uma grande oportunidade e graças aos deuses do teatro, deu muito certo.

Você já foi jurado do Chacrinha, não é? Como foi?

Eu participei do programa dele duas vezes, quando ele foi recebido na Globo e uma vez como jurado. Eu nunca fui íntimo do Chacrinha, mas sempre que o via fazia questão de ir cumprimentar, dar um abraço, como fã.

E qual foi a reação da família ao te ver em cena?

Foi a coisa que mais me impressionou. O filho dele me disse ‘você fez coisas que meu pai só fazia dentro de casa, como você teve acesso?’ Quando a viúva de Chacrinha foi ver a peça eu disse que de todas as pessoas, a opinião dela para mim era a mais importante. Ela disse ‘pode ficar tranquilo, você está igual. É como se eu estivesse falando com ele’. Os artistas que vão ver também dizem a mesma coisa. Sem modéstia nenhuma, o Chacrinha é a grande atração dessa peça. Tanto que em 2018, eu vou estrelar um filme, pra marcar o centenário de

Chacrinha e a Globo vai fazer um especial comigo, de um dia só, nós vamos recriar o Cassino do Chacrinha.
O que você e Chacrinha têm em comum?

Eu acredito que a primeira coisa é esse espírito de que nossa profissão nunca teve esse glamour. Para mim, é um trabalho qualquer, que eu faço com dedicação para garantir meu sustento e da minha família. O Chacrinha também, se ele fosse serralheiro ou feirante, seria tão bom quanto era apresentador. E segundo é que, assim como ele, eu não levo muito a sério as coisas, tenho essa irreverência dele. Para mim, a vida é uma brincadeira.

Qual sua relação com Goiás, seu Estado natal e com Goiânia, onde você foi criado?

Eu tenho uma irmã que mora aí, os filhos dela, meus sobrinhos, os netos dela, uma parte da família. E meu melhor amigo também vive em Goiânia. Eu tenho um grande amor, uma paixão mesmo, orgulho dessa cidade. Eu costumo dizer que a pessoa para brigar com um goiano tem que estar com muita vontade de brigar. E a gente é de verdade o que foi na infância, e eu fui muito feliz em Goiânia.

Além da peça, você veio a Goiânia para divulgar o curta-metragem Quarto 10, sobre o caso de Vilma Martins. Como é a sua participação no filme?

Eu faço Dr. Antônio, delegado que investiga o sequestro da menina pela Vilma. Esse projeto é muito bom e pode virar um longa. O Dr. Antônio é um personagem real, que existiu e é um homem muito querido e muito respeitado dentro da polícia em Goiás. Foi um prazer fazer esse personagem.
 
SERVIÇO

Chacrinha, o Musical
Local: Teatro Rio Vermelho (Rua 4, 1400. Centro)
Data e Horário: Dia 1º de Outubro (sábado), às 21h e Dia 2 de Outubro (domingo), às 20h
Ingressos: R$ 100, a inteira
 
 
 
 

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